28 de setembro de 2012

Preparação dos Canários de Canto para Concurso





Por: Miguel Ángel Martín Espada
Tradução: Diogo Santana                                       

 
1ª PARTE:

Considerações prévias: Antes de começar  a falar do tema da preparação dos canários de canto para os concursos, é preciso referenciar outro tema de extrema importância  para o criador. Em primeiro lugar, há que avisar os novos  aficionados, mais concretamente para quem vai  destinado este trabalho, que o método que vamos a descrever  não é exclusivamente dos  criadores de canários de canto, existem outros métodos e sistemas, que também são  válidos, e inclusive podemos dizer que existe um método  distinto na  preparação dos  canários em  cada um  dos aviários. É lógico ser  distinta a forma como  trabalham os criadores das  três raças de canários de canto, tendo em vista as notáveis  diferenças que existe entre elas, apesar de terem algumas bases em comum, não é  muito a diferença  que existe no  método de um criador e de  outro. As  diferentes circunstancias que cada um tem é  decisivo na  forma de  trabalhar  os  canários, assim não é o mesmo dispor de muito, ou de pouco espaço em nossas casas, de ter muito, ou pouco tempo livre e, neste último aspecto, em que  momento do dia o podemos  desfrutar (recordamos o caso de alguns amigos criadores que são obrigados a treinar os seus  pássaros durante a noite, devido ao seu turno de trabalho). Estas circunstâncias e outras impedem que haja um único sistema de preparação.

O criador de canários de canto que comece neste mundo  deve começar  com um método que na maior parte das vezes se adapte às suas circunstancias pessoais, por isso  deve adoptar  pouco a pouco o seu  método próprio, método este que ninguém lhe ensinará e  a experiencia que  for  ganhando com o  tempo lhe vai  dar um maior conhecimento da matéria que  o  encaminhará  nesse seu empenho. No entanto, isto não significa que a principio não tenha que se guiar  pelas indicações de pessoas com mais conhecimento e experiência. Resumindo, devemos aprender um sistema,  que seja,  sempre e quando nos conste a sua correcção através dos  resultados conseguidos pelos nossos maestros e neste sistema, juntamente com outros que, sem dúvida alguma, vamos conhecendo e fazendo um  próprio que se adapte a nós. Não se deve esquecer o  principiante que não é ele que se tem de adaptar ao sistema,  é o sistema que se deve adaptar a ele. O  presente trabalho tem  como única finalidade orientar o principiante e dar-lhe  algumas  bases sobre as quais pode  ir trabalhando.

Por outro lado, já deveria ter  notado o leitor que não falamos de educação, mas  de preparação. Em muitos trabalhos  sobre este tema se alude à  educação dos  canários, no fundo, o termo  educação esconde um método de ensino com maestro, prática que raças como o Malinois necessitam (devido à importância que lhe dão os  seus criadores), mas de modo nenhum  se pode fazer com o canário de Canto Espanhol (Timbrado), há que negar redondamente que o nosso cantor nacional precise de educação com maestro para desenvolver o seu canto e menos ainda se possa dizer que o canário precise disso para realizar um canto  adulto. A má interpretação das conclusões  dos etólogos, assim como a doutrina daqueles  que praticam um mar de dúvidas e que os levam  a perder um tempo precioso no correcto estudo dos  canários de canto. Um bom  conselho é  que façamos caso daqueles que fundamentam  seus estudos nos  canários, o canário não se pode comparar, no que diga  respeito ao seu canto, com outras espécies muito pior dotadas que ele para a função  canora. Mais de quinhentos anos de estudos e  trabalho, assim  como a fixação genética das três raças de canto, internacionalmente reconhecidas, são prova  suficiente que não podemos comparar o  estudo de canários criados e seleccionados para o canto, durante séculos, com as observações feitas em espécies de canto rudimentares e, sobretudo, de comportamento, muitas vezes, distintos, nas suas reações, àqueles  canários, cujos hábitos se foram mudando em cativeiro, resumindo, é como se pretendêssemos comparar um estudo realizado com canários silvestres, com outro realizado com canários de canto, alguém duvida da mudança tentada geneticamente nos canários domésticos em relação ao seu antepassado silvestre.

Para terminar esta parte, simplesmente dizer que são bem vindas, para o principiante, todas aquelas informações que lhe possam dar alguns  conhecimentos, mas  antes de confiar nas opiniões expostas em foros,  naquilo que é a  canaricultura de canto, temos que comprovar  que são  aplicáveis ao canário e se não forem, teremos que ir aprendendo naquilo  que criamos o que nos pode ser  útil, mas nunca tomar como sacramental  aquilo  que não nos conste objectivamente, só  porque alguns senhores, que supostamente se dizem ter um maior conhecimento científico, o digam, especialmente quando as suas observações nem sequer se fazem com canários de canto, apenas se  limitaram  a dar a sua opinião, baseada em  experiencias de outros e que, sem dúvida, não se atreveriam a realizar aquilo  que eles fizeram, não se pode tratar de igual modo o que a natureza e a mão do homem, neste caso em concreto do canário, tem feito diferente.

 O mês de Setembro: A recta final do trabalho do criador começa em Setembro, é nesta altura quando os jovens canários estão a terminar a sua  primeira muda.  O final da muda significa que os canários já são fisiologicamente quase adultos, para considerá-los como tais vamos ter que esperar, no entanto, que o seu desenvolvimento hormonal termine. Uma vez que o canário tenha terminado o seu período de muda e abandonado para sempre a sua plumagem  juvenil, o seu desenvolvimento hormonal, de certa maneira paralisado até agora, se reactiva e a cada dia é mais evidente o  avanço que o repasso do mesmo ensaia.  O bando, tomando a expressão utilizada por um companheiro especialista na matéria, começa apesar de ter estado sempre aí, apenas nos faltava esse descodificador natural que faz que pouco a pouco o repasso se transforme no belo e harmonioso canto do canário adulto. Muito falta ainda percorrer a nossos canários, mas será preciso multiplicar horas de observação nos diferentes voadores, com o fim de evitar que um canário excessivamente adiantado possa arrastar alguns de seus irmãos para um caminho inadequado e que o conduza irremediavelmente á loja de pássaros mais próxima. Nesta  tarefa, será de extrema importância vigiar os canários que dominam em cada voador, o que torna  fácil se observarmos os voadores  com assiduidade. Os canários guia, como eu lhes chamo ocupam o lugar mais  alto dentro da hierarquia estabelecida nesta  pequena comunidade que constitui cada voador, é o  canário guia, ou os canários guias se houver vários, os que dominam os seus irmãos e que marcam o desenvolvimento de seus cantos. Assim, se um desses canários começa  a realizar defeitos, ou a degenerar o seu canto, as possibilidades dos outros machos do voador o seguirem são quase absolutas. Por isso, se observarmos que um deles executa variações não desejadas será de imediato separado e talvez, com um pouco de sorte, consigamos salvar os restantes pássaros. Se  tardamos muito em separar esses canários guias, também pode acontecer que os seus irmãos não saibam seguir correctamente a evolução do seu repasso, assim, quanto mais demorarmos, maiores serão os riscos de estragar o resto dos machos.

Tão pouco devemos deixar de vigiar o resto dos jovens canários, pois um dos canários que consideramos hierarquicamente inferior, pode estropear-se e arrastar todos os outros, dada a maior facilidade que envolvem na sua execução os giros degenerativos e defeituosos. Resumindo, devemos vigiar todos os canários, mas muito em especial aqueles que ostentem uma posição hierárquica maior entre os seus irmãos e aqueles que apresentem uma debilidade, ou subdesenvolvimento físico notável (Os  exemplares doentes, assim como os que se desenvolveram deficientemente e que estão, geralmente, menos dotados para o canto, já  que não são capazes de levar a cabo uma evolução normal do mesmo, o aconselhável é separá-los quanto antes de seus irmãos, já que são os primeiros que costumam  realizar giros defeituosos).

A  observação dos voadores em Setembro pode facilitar, aos criadores experientes, uma primeira seleção, já que podem descartar algum voador, atendendo a essas observações que a experiência vos possibilita e que estão longe do principiante. Aquilo que se pode fazer com esses primeiros descartados, se não se tiver sitio para onde os levar, podem seguir a sua  evolução sem risco  para os restantes exemplares (no caso de nos termos enganado), ou se os quiserem tirar do aviário  definitivamente (vendidos ou oferecidos), vamos falar deste assunto mais à frente, para então falar dos exemplares descartados em geral, por manifestarem uma carência de faculdades para o canto, ou para desenvolver o seu repasso com as algumas limitações.

2ª PARTE:

         Nesta segunda parte cabe  apontar que o mês de Setembro tem que ser dedicado ao controle do repasso dos nossos canários, que começa a ser mais nítido e efectuar uma primeira seleção àqueles que mais  estejam capacitados,.

 O mês de Outubro: os concursos de canários de canto celebram-se  a partir da última semana de Novembro até princípios de Fevereiro. Geograficamente, os concursos de Andaluzia e da zona Levante costumam ser os primeiros, os últimos são os do terço norte peninsular, e concretamente, se as minhas informações não estão equivocadas, o último concurso de Canto Espanhol (Timbrado) é o da cidade de Oviedo, um dos berços da nossa raça de canto. É certo que no decorrer do mês de Outubro os criadores procedem à  separação dos exemplares em gaiolas  de concurso, a operação realiza-se, em cada zona, dependendo das datas dos concursos. Assim, nas zonas onde os concursos começam no final de Novembro colocam-se nas gaiolas de canto  a princípio de Outubro, e naquelas onde os concursos se realizam  a partir da segunda quinzena de Janeiro esta operação pode-se retardar até princípio de Novembro. A maior parte dos criadores colocam nas gaiolas de canto  os seus canários, em media, durante a segunda quinzena de Outubro, o que lhes permite uma maior manobra de ação, na  hora de  competir em concursos de zonas geograficamente diferentes (Existem circuitos de concursos que começam em Andaluzia e terminam no norte, o que permite uma estreita colaboração entre criadores e associações, e um melhor conhecimento da realidade dos nossos canários por todo o  País).

Antes de proceder à  separação nas gaiolas de concurso, devemos ter a certeza  que todo o  material está em condições e  preparar um programa de ação, para isso dedicamos os primeiros dias do mês de Outubro.

Penso ser importante, já  que fizemos referência ao material, falar também de um tema tão importante como é o caso das gaiolas de concurso. Todo o principiante se encontra, dependendo da zona geográfica em que resida, com o problema de aquisição das  gaiolas de concurso, as quais  se fabricam artesanalmente e não habitual encontrarem-se facilmente no mercado. Para consegui-las temos que recorrer às associações, onde certamente nos possam  arranjar alguma solução para o problema, directamente, ou  informarem-nos  onde as possamos  adquirir. Existem vários tipos de gaiolas  de concurso, tema no qual não vou entrar, algumas delas obedecem ao  modelo C. O. M..  Para canários de canto existem as valencianas e as sevilhanas e outras são fruto da escassez das primeiras tradicionais, gaiolas de alumínio e gaiolas de madeira do modelo antigo, madrilenas, estas últimas ainda se vêem em modelo antigo e com alguma frequência ainda se vêem  nos concursos. Tenhamos um modelo ou outro de gaiolas, o importante é que estejam em boas condições e cumpram com a sua finalidade.

Outro tema de interesse,  relacionado com as gaiolas, é a colocação dos poleiros. É frequente ver os poleiros colocados segundo o  Regulamento de concursos da C. O. M. de acordo com o mesmo, as gaiolas dos canários Roller (Artigo  5 do Regulamento dessa raça, aplicável ao resto dos canários de canto) devem levar um poleiro no terceiro arame a contar dos comedouros e outro no lado oposto no sexto arame a contar da porta da gaiola, o mesmo dispõe o Artigo 19 do  Regulamento do Campeonato Nacional. Tal prática é contra produtiva, já  que se o canário não adopta, de forma natural, uma posição de canto correcta (horizontal em relação ao solo, fazendo um ângulo quanto mais agudo melhor). Para isso os  poleiros devem ser  colocados a uma altura média, para que se o canário adoptar posturas de canto muito verticais, o que costuma proporcionar canto demasiado elevado, ou até estridente, devem-se  subir os poleiros e obrigá-los a cantar deitado, para que o canto ganhe em doçura e o  canário fica mais estético na gaiola. Há  que utilizar as gaiolas e seus elementos como instrumentos para ajudar os canários a tirar o máximo partido das suas faculdades. Saiba o leitor que a incorrecta colocação dos poleiros e as posturas viciadas que provocam nos canários, podem causar uma impressão bastante negativa no juiz, também existem exemplares que estão acostumados a cantar numa posição incorrecta, por causa dos poleiros e quando se sobem, adoptam uma posição de canto mais horizontal, ganham em  musicalidade e o valor de algumas passagens pode ser maior.

Retomando o  tema central deste trabalho, vamos falar  do lugar onde vamos colocar os nossos canários, uma vez separados nas gaiolas de concurso. Esse lugar, se for possível, e uma vez mudadas as jovens fêmeas para  outro lugar (por exemplo, juntá-las às adultas), que será o mesmo onde passaram os meses de voador, quanto menos mudanças ambientais sofram melhor para eles. As condições  ambientais serão as mesmas que tinham anteriormente, um local com boa acústica, semi-penumbra, ou  luz fraca, tranquilidade, higiene extrema, uma correcta e suficiente ventilação e esse aparelho de música que tanto nos tem ajudado na  tarefa de separar acusticamente um voador  de  outro. A alimentação continuará sendo uma mistura de alpista e nabo, cuja composição altera conforme as necessidades de cada pássaro, se tiver muito adiantado juntamos mais nabo à mistura  se for o contrário tiramos, se for preciso neste último caso podemos dar só alpista. Nunca utilizar vitaminas para adiantar um canário, pois podemos forçar um desenvolvimento  insatisfatório para os nossos objectivos.

Tenhamos em conta que o facto de colocar nas gaiolas de canto os nossos jovens canários muito cedo faz com  que aceleremos o curso normal da evolução do seu repasso. A solidão antecipada a que submetemos os canários, em condições naturais, não se produziria até à chegada da Primavera, quando alcançam a maturidade sexual determinada pelo culminar do seu desenvolvimento hormonal. Neste  momento os bandos que passaram o Inverno juntos separam-se e começam os preparativos para a  época de criação. Com a separação em gaiolas individuais fomentamos um precoce desenvolvimento hormonal proporcionado  pelo  assombroso desenvolvimento do instinto de territorialidade, que leva o canário a marcar o seu território, na gaiola de canto, frente ao resto dos seus companheiros, que se encontram na mesma situação. Como se adapta o canário ao seu novo lugar? Dependerá, em grande parte, de ser  capaz ou não de desenvolver o máximo das suas faculdades canoras, pois se acusa em excesso a mudança de situação podem acontecer uma série de circunstâncias que levam a uma degeneração do seu canto. Pode ocorrer desde um estado de abatimento físico, ao ponto de  provocar a morte da ave, até a reações que vão desde uma quebra até uma precipitação na evolução do canto, ambas contraproducentes para o mesmo.

Devemos atrasar o máximo possível a data de separação, já que esse enjaulamento antinatural  a  que submetemos os  pássaros pode terminar no  surgimento de giros degenerativos como consequência da precipitação do canário na hora de fixar as diferentes variações que compõem o seu canto. É muito frequente que um exemplar, ao querer adiantar em excesso a realização de um giro, não chegue a combinar bem as diferentes consoantes e  vogais que nele  intervém e perante essa situação improvise consoantes de mais fácil execução, como por exemplo a CH. Um conselho útil, para o principiante, é que não tente preparar os seus canários para um determinado concurso, se não for participar nele, mas sim,  participar naqueles concursos que mais se adaptem à  evolução do canto de seus exemplares, se não o fizer desta maneira corre o risco do  canto se  degenerar ou se recortar em excesso. Há concursos suficientes no nosso País para  que não se faça depender o nosso plano de trabalho  de um só concurso, mesmo que o canto dos nossos canário se faça pausadamente, logo ao proceder à sua separação nas gaiolas de concurso, será o bastante para adiantar logo à priori o seu canto.  Há diferentes formas de colocar, ou situar, as gaiolas de concurso. Pode-se  utilizar um armário especialmente desenhado para tal fim, transformar as baterias de criação em  armários tirando as sua frentes, utilizar transportadoras no lugar de armários, e inclusive  pendurar as gaiolas, simplesmente numa parede, existem mil e uma maneiras de se fazer, para todos os gostos e para qualquer lugar (desde uma habitação a  uma varanda, ou  terraço). Este é um ponto que depende exclusivamente do sítio que disponha cada criador, como referido anteriormente, há que se adaptar o método às nossas  possibilidades e  não o  contrário.

3ª  PARTE:

Por último, na hora de separar os jovens machos, temos  que ter a certeza de  terem finalizado por completo a muda. É importante que façamos esta operação (a separação) gradualmente, atendendo principalmente a dois factores: a sua idade e datas dos concursos. Quando temos um número elevado de machos e os concursos em que pretendemos participar tenham datas próximas, é  conveniente separarmos os canários gradualmente, em relação ao grau  de desenvolvimento do seu canto, para podermos ter diferentes lotes  para competir em cada um deles, sem ter que adiantar, ou atrasar a evolução do repasso.

Distribuímos os canários por lotes de irmãos, se os tivermos assim separados na fase de voador e se não os tivermos  assim e os tivermos juntos, será por semelhança de canto. Entre os canários que tenham o mesmo repasso, faremos uma seleção atendendo às  características de suas vozes, em especial ao tom. Cada lote estará colocado numa estante, ou caixa transportador.

Um período crítico: Como indicamos anteriormente, o facto de colocar os nossos canários em gaiolas  individuais, como requer a canaricultura desportiva, supõe adiantar a evolução do seu canto, para que madure a tempo de poder competir nos concursos. É  por esse motivo  que as primeiras semanas nas gaiolas de concurso são cruciais para o êxito ou fracasso das nossas aspirações desportivas. Dependendo da capacidade de adaptação de nossos exemplares à situação descrita, o seu repasso evoluirá num sentido ou noutro. O facto de que devemos procurar que as circunstancias do meio ambiente não variem, em relação à   fase de voador, deve-se a esse trabalho de procurar, dentro daquilo que deve ser, para que o canário não acuse em excesso essa  mudança de situação. Assim, se  tiramos luz, o canto sofrerá uma considerável baixa, que pode proporcionar um canto recortado e de baixo tom e intensidade, se pelo contrário, aumentamos demasiado a luz, proporcionamos um maior adiantamento na  evolução do canto que pode conduzir a giros degenerativos e, possivelmente com estridência. Uma prática aconselhada por alguns criadores a fim de conseguir uma melhor aclimatação, é  deixar que os canários se  possam ver durante os primeiros dias de separação individual, não colocando as chapas ou separadores entre as gaiolas. De tudo o que se disse, o leitor pode deduzir que manusear muito ou pouco os canários de canto provoca situações prejudiciais, dificilmente susceptíveis de serem solucionadas, uma vez que são produzidas pelo criador.

O  período crítico  a  que nos referimos, é o da maturidade forçada que tem que levar a cabo os jovens canários até conseguirem cerrar canto, ou dito de  outra maneira, realizarem o canto de um canário adulto, a isto se junta a exigência de se acomodar a esse modelo oficial denominado Código de canto, criado pelo homem para modelar o canto dos canários sob as qualidades musicais de ritmo, harmonia e melodia. O  tempo que leva  o  canário a cerrar o canto oscila entre mes e meio a  dois meses, dependendo das características de cada linha de canto, em particular, da maior ou menor complexidade das variações que pretende fixar e  das circunstancias meio ambientais, entre as que o  homem, nos seus acertos e  seus equívocos, ocupam o  primeiríssimo lugar. Há muitos canários que potencialmente são autênticos campeões mas que não alcançam tal categoria, para a que estavam geneticamente destinados, isto por culpa e incompetência de seus criadores. Em suma, as atenções que dedicamos aos nossos canários são definitivas, para o bem, ou para o mal, na  hora de obter bons resultados na  criação e preparação desportiva dos canários.

Até  que o canário não cerre o canto não devemos tirá-lo para cantar  do lugar onde se encontra, tal prática supõe precipitar a evolução do repasso, a preparação e treino temos que deixá-los para esse momento em que, apesar de ainda estar evoluindo o seu canto, já não se correm risco dos  giros em  processo de formação se degenerarem. Quanto ao treino vamos falar mais à frente, deve levar-se a cabo com canários que realizem já um canto extremamente avançado, em que se percebam os diferentes giros que vão compor o seu canto mas que ainda  lhe  falta a tonalidade, a intensidade e a nitidez do seu timbre de voz que adquire em poucos dias ou semanas. O  canto do canário segue um ciclo, onde a habilidade do criador está em saber fazer chegar os seus exemplares aos concursos no ponto do seu maior esplendor, pois a partir deste momento, a maioria dos canários, começam a mostrar sintomas de cio e o canto começa a perder musicalidade (ritmo, harmonia e melodia),  à  medida que vai ganhando decibéis, como forma de demonstrar a sua virilidade e com o fim de atrair as fêmeas, e avisar outros machos da sua presença.

Até que chegue esse momento, em que possamos ir tirando os diferentes lotes das estantes, ou das caixas transportadoras para ouvi-los e se irem acostumando  às mudanças de lugares e à presença de outras pessoas, devemos escutar e controlar os canários, sentados frente a eles, para que possamos ver quais e como cantam, separando aqueles que demonstrem uma inferioridade na sua aptidão para o canto e fazer o necessário para que o resto se desenvolva nas melhores condições. Ter presente que, tanto no  voador, como nas gaiolas de concurso, antes que o canário alcance um canto nítido, passa por distintas fases no  processo de expressão do seu padrão inato de melodia e há dias que aponta grande  qualidade e outros em que destaca uma aparente mediocridade, que decepciona o criador. Não confundir estas flutuações, próprias do repasso, com o processo de encurtamento, degenerativo, ou continuado que fazem esses canários e que será necessário separá-los, uma coisa são as mudanças próprias do canto em período de formação, que se produzem intermitentemente, ou de forma ocasional, e  outra as mudanças continuadas que se fazem no dia a dia mais patentes. Se houver exemplares que necessitem de uma alimentação diferente (vide referencia anterior sobre a mistura de alpista vs nabo) deveremos dar-lha, se houver mudanças bruscas de temperatura, que possam prejudicar as vozes dos  nossos jovens canários temos que lhes dar, por exemplo, água de regaliz, ou pau doce, como também conhecida por este nome noutras regiões, para desta maneira  prevenir problemas respiratórios que lhe podem prejudicar tanto a sua aptidão para o canto  como a realização das variações que formam o seu repertório (está mais que provado que os resfriados, ou outras doenças respiratórias, são a causa de muitos canários fracassarem na sua emissão de voz, na  grande maioria dos casos, com  giros nasais, assim como das temidas afonias, um flagelo para os criadores de canto ao longo de toda a sua historia). Inclusive há quem lhes dê uma  pequena quantidade de papa de ovo com mel uma vez por semana. Resumindo, devemos estar cientes de todas as necessidades que estas singulares aves estudantes possam precisar para poderem tirar o  máximo partido das suas condições inatas para a realização de um bom canto. Só para lembrar, que devemos ter presente que o fenótipo, ou conjunto de caracteres perceptíveis pelos nossos sentidos, é  o resultado da incidência sobre o genótipo, conjunto de características que um exemplar  herda  de seus progenitores e que pode transmitir à sua descendência  e  ter também em conta  os factores meio ambientais. De nada serve ter um plantel de exemplares de alta qualidade  genética, se não formos  capazes de proporcionar as condições necessárias  para levar em frente  esse mesmo plantel.

Exemplares que manifestam uma carência de faculdades: (Giros defeituosos e canto excessivamente pobre e recortado). A essência da canaricultura desportiva é a melhoria das distintas raças de canários. Para isso existe uma serie de Códigos e Regulamentos, que integram as características que devem ter os exemplares de uma ou outra variedade. O  caminho para chegar à cobiçada e utópica perfeição, é a seleção zootécnica, através da qual eliminamos os exemplares que não se ajustem ao standard da raça e  nos concentrarmos no  trabalho daqueles que consideremos aptos para levar a cabo o nosso objectivo, que são os concursos, ou a sua reprodução.

Ao longo da  temporada, desde que começamos a criação até começarem os concursos, a seleção deve fazer-se em três fases:

-Eliminação de exemplares com taras físicas.

-Eliminação de exemplares que não se ajustem, pelo motivo que seja, ao  standard da raça que criamos. Neste nosso caso, será o canário de Canto Espanhol (Timbrado).

Os motivos de desclassificação num concurso são:

Presença de factor vermelho na cor, riços na plumagem, giros que tenham suspeitas de cruzamento com outras raças Roller e  Malinois), qualquer outro indicio que ponha em evidencia o cruzamento com outras raças de canários ou espécies distintas.

4ª  PARTE:

      - Eliminação de exemplares que mostrem uma carência de faculdades para a função canora.

Os exemplares dos dois primeiros grupos, em teoria, terão sido descartados já em fases anteriores, por isso neste parágrafo só se faz  referencia aos terceiros. Há que distinguir entre os canários que foram separados gradualmente  e  que se encontram neste grupo,  que realizam giros  apresentando um canto pobre de repertório, daqueles que   dizemos estarem recortados. Se não dispormos de muitos lugares, o normal será estes canários irem parar a uma loja de pássaros, se tivermos sítios de sobra, coisa pouco frequente nos dias de hoje, podemos tentar corrigir-lhes seus defeitos, a forma de fazê-lo dependerá da natureza dessa carência que nos levou a separá-los.

a) Exemplares com giros defeituosos ou negativos.

O criador de canários de canto deve estar  atento e demonstrar a sua sensibilidade musical na hora de detetar giros defeituosos, ou giros negativos, já que nem todos os giros defeituosos são penalizados como negativos, a sua  execução simplesmente diminui a pontuação na hora de fazer a valorização de cada passagem pelo juiz, a emissão de giros defeituosos incide na qualidade conjunta de uma série de giros enquadráveis na qualidade conjunta da ficha de julgamento.

Cabe distinguir, dentro destes giros, atendendo à sua natureza, três tipos:

Giros próprios: São aqueles que se integram no padrão inato do canto dos nossos exemplares e cuja realização se deve a uma predisposição genética. Este tipo de giros costumam manifestar-se durante a fase de voador, a partir dos dois meses de idade  e são os primeiros, por regra geral, que costumam fazer  acto de presença.

Giros adquiridos (copiados): São aqueles giros que o canário realiza por  tê-los  escutado de outros exemplares e que os assimilou ao seu canto. Podem aparecer em qualquer momento do desenvolvimento do repasso e, é comum, desaparecer o risco quando o canário cerra o canto. Em muitas ocasiões este tipo de variações são copiadas por exemplares quando  enviamos a concurso antes de terem terminado a evolução do seu canto.

Giros degenerativos: São giros que aparecem no canto como consequência de uma carência de faculdades, com  várias origens, na tradução de um giro que inclui na sua execução uma  certa complexidade e que se traduz na substituição de texto fonético original por outro de maior facilidade, que costuma originar  giros com deficiência auditiva, carentes de musicalidade, e que rompem a melodia intrínseca desejável no canto do canário. Um claro exemplo é mostrado com a profusão de giros pronunciados com a consoante CH, que substitui as consoantes originais de maior complexidade e musicalidade. As causas do aparecimento destes giros são muito variadas,  colocação nas gaiolas de canto precoce, precipitação forçada da evolução do repasso,  desleixo  por parte do criador nas  atenções devidas aos canários (controle dos distintos factores médio ambientais), etc., etc.

Falamos, para além do referido, de uma origem de natureza patológica, sobretudo doenças respiratórias, que incidem  no aparecimento e fixação no repasso de giros defeituosos. Se tratarmos dos nossos exemplares a tempo, não se deverá produzir a degeneração do giro, se, contrariamente a isso, não o fazemos, o giro pode-se degenerar e, mesmo apesar da doença desaparecer, fica agarrado ao  canto. Muitas nasalidades e  rascadas devem-se a estados patológicos que o criador não detetou a tempo.

Cabe fazer uma sucinta referencia, dentro deste parágrafo dedicado aos giros defeituosos, às  vozes defeituosas ou, dito de outra maneira, a esses fenómenos que afectam a emissão sonora do canário de forma generalizada. Desde sempre, a maior praga tem sido a afonia propriamente dita, ou a leve voz baixa tomada, que a  ela se uniu. As causas do seu aparecimento são, principalmente, de origem genética, cruzamentos mal feitos que se traduzem em órgãos de canto defeituosos), e de origem patológica. Com os que tem origem genética não há nada a fazer, apenas procurar não utilizar na criação esses exemplares suspeitos de transmitir essa genética às gerações vindouras. Os que tem uma origem patológica tem difícil tratamento, mas   possibilidade de desaparecerem quando a doença  que lhes deu origem for tratada. A agua de regaliz é um bom remédio por minha experiencia própria e de outros canaricultores e, em último caso, recorreremos a um veterinário para que nos prescreva um tratamento adequado para a enfermidade de origem.

Referencia especial merecem as denominadas vozes nabilizantes, como são conhecidas  as vozes de canários que atingem um defeito tonal que causa a  impressão de estarmos perante exemplares, que apesar de realizarem corretamente os distintos giros de canários adultos, ainda não alcançaram a sua  maturidade sexual, sendo pobre a tonalidade em que emitem  o seu canto devendo-se neste caso a um excesso de nabo na sua mistura (Fazendo referência a  D. Rafael León Rivero, no seu artigo intitulado,  “O treino do  canário Roller”, Pájaros nº 7, 2 Época, pág., 16 1969): “O nabo possui substancias anti- toroidais ou bociógeneas, que provocam um aumento (hiperplasia) da tiróide, glândula situada na  parte anterior do pescoço das aves e consoante o  tamanho da sua hormona (tiroxina) estimula a secreção testicular, e  todos sabemos que o canto das aves está dependente desse estimulo, que quanto mais acentuado for mais estridente será o canto em questão. Pois bem, a hiperplasia a que nos referimos influencia a secreção hormonal da tiróide, diminuindo por consequências lógica a sua  circulação e consequentemente o  estimulo ao testículo da ave não será tão marcante e o seu canto, em relação directa, como dizíamos, com este processo fisiológico, também será mais suave. “O  criador deve evitar, a todo o custo, que isto se produza, para isso terá que ter cuidado nas doses de nabo, naqueles casos em que deva aumentar o normal, e não exceder mais que isso.

Já dissemos que não é o mesmo falar de giros defeituosos e de  giros negativos apesar de ambas as categorias se encontrarem irremediavelmente unidas. Nem todos os giros negativos de cada raça de canários se tenha que recorrer ao seu Código de canto. Em concreto, para o  Canto Espanhol (Timbrado) há três giros que diminuem a  pontuação; rascada, estridência e nasalidade. Vejamos brevemente cada um deles:

Rascada: Defeito que tem a sua origem na  excessiva predominância da consoante “r “ no texto fonético do giro, que produz um som duro que molesta o ouvido, dá-se naqueles giros onde intervém a consoante citada, principalmente nos giros de ritmo continuo (timbres e variações rodadas) e nos denominados floreios com “riñas”. Não devemos confundir a rascada com giros torcidos,  próprios de muitos exemplares procedentes de cruzamentos com canários silvestres, nos  que predomina o som da  consoante “r” mas sem romper a musicalidade do canto.

Estridência: Defeito que consiste numa mudança brusca, quer no tom como na intensidade do som durante a emissão do canto, que provoca a perda da musicalidade do mesmo (ritmo, harmonia e melodia). As subidas de tom e intensidade, que provocam a estridência, podem atenuar-se diminuindo a  quantidade de luz que recebem os exemplares afectados e aumentando-lhes a quantidade de nabo.

Nasalidade: Defeito consistente na  produção de um som defeituoso, cujo origem aparentemente parece estar mais nos  orifícios nasais que na  siringe. Geralmente dá-se nos giros em que prevalece o som das vogais  (mais  puros que aqueles em que  dominam as consoantes) e  naqueles em que intervém certas consoantes que, pela sua especial sonoridade, são susceptíveis de produzir nasalidade se a dicção das mesmas não for a adequada. Exemplos de nasalidades produzidas por uma deficiente pronuncia, que conduz à degeneração do giro, são aquelas que se dão nos canários Roller, nas flautas  (substituição da consoante “d” pela “m”) e nos canários de canto Espanhol (Timbrado) na  campainha (deficiente dicção da consoante “n”). Os  giros fanhosos penalizam-se dependendo da sua intensidade, os casos mais graves constituem nasalidades, enquanto  que os mais ligeiros, tiram pontuação na  hora de se valorizar o giro, mas não chegam a ser giros negativos, propriamente ditos.

5ª PARTE:

 Ao longo do que já se escreveu, temos visto que nalguns casos os giros defeituosos são susceptíveis de serem corrigidos ou, pelo menos atenuados, dependendo da sua causa de origem. Quando isto não for possível, o  criador deve recorrer a medidas mais contundentes.

Afirmamos, no inicio do presente trabalho, sermos contra a utilização de maestros para educar os  canários de Canto Espanhol (Timbrado), dada a riqueza genética do nosso cantor nacional, e o contraproducente de tal prática para a melhoria do padrão inato que rege o canto dos nossos canários. Atrás dessa prática esconde-se, geralmente, uma canaricultura do tipo conservador e  sem riscos, que pretende assegurar êxitos nos concursos e a venda das cópias. Embora, o criador e não passareiro, saiba que, nalguns casos, a utilização de maestro poderá ser justificada. Com efeito, a prática indiscriminada da  educação com maestros seja criticável, mas a mesma prática utilizada em casos concretos e justificados possa ser instrutiva. Sem dúvida alguma, a correção de exemplares que apresentem no seu canto giros defeituosos, é um dos supostos em que poderá ser justificada a  utilização de um tutor, que terá como função a educação dos exemplares que por si sós não tem as suficientes faculdades para realizarem o seu canto de acordo com os parâmetros mínimos exigíveis de um canário de canto. Embora, se pensarmos cuidadosamente sobre esta questão,  daremos conta  que não merece a  pena realizar tal prática. Contudo, vamos fazer uma referência com carácter puramente educativo.

O tipo de educação referido deve ser levado a cabo de acordo com uma serie de requisitos, que suponho serem indispensáveis, ao mesmo tempo difíceis de cumprir pela maioria dos criadores. Os referidos requisitos são: sitio, tempo e um exemplar que reúna as condições  necessárias para esta  tarefa da educação. Dos dois primeiros não é preciso falar (sitio e tempo), do terceiro vamos fazer  uma sucinta menção. O criador de canários de canto deve ser consciente de que, se não cumpre estes três requisitos, deve desfazer-se dos exemplares com giros defeituosos no momento em que os descubra.

Do tema dos maestros se fez saber  num grande número de trabalhos, talvez em demasia, mas, na  opinião da maioria dos aficionados, a importância que se deu ao tema foi no mínimo que insatisfatório. De todas as formas, se há alguma coisa em que  coincidam todos aqueles que  trataram deste assunto, é o facto em que um exemplar utilizado para esta tarefa deva ter uma grande qualidade e carecer de defeitos no seu canto. Deve ser um canário em que as qualidades sonoras (tom, intensidade e timbre) e as qualidades musicais (ritmo, harmonia e melodia) sejam perfeitas, com um repertório rico e variado (recordemos que a qualidade é melhor que quantidade  e entre dois exemplares, é preferível aquele que realize menos giros mas  de grande qualidade que aquele outro de repertório mais  variado mas  de inferior qualidade). É fundamental uma boa dicção, para evitar que os alunos assimilem erradamente a lição e realizem os giros sem a pureza precisa, o que se traduz  em giros de deficiente qualidade. Em último lugar, o maestro será da mesma família ou linha de canto que os alunos, ou pelo menos, ter  um canto de características compatíveis com os de seus alunos. Um problema que se apresenta na hora de utilizar este sistema é o da  conservação do canto nos machos adultos, já que, normalmente, a medida que entram em cio e  decorra a época de criação, o canto vai decrescendo em qualidade, às vezes de forma barulhenta. Sem dúvida, o maestro ideal será um canário que não tenha feito criação, com o que, em teoria, o seu canto estará  melhor conservado, embora se tenham que  deixar-se de utilizar como reprodutores os  exemplares de maior qualidade, com a conseguinte perda que implica no aspeto da melhoria da genética. A respeito da utilização de meios eletrónicos para o ensino (gravações em qualquer tipo de suporte), tenhamos em conta que apesar da qualidade da gravação ser muito boa, sempre se perde alguma qualidade  tanto sonora como musical.

Para levar a cabo a educação dos jovens desencaminhados procederemos à colocação de uma  cortina escura à frente deles, mas  guardando alguma  distancia prudencial, a fim de não diminuir perigosamente a ventilação do lugar onde se encontrem instalados (no caso de  tê-los  em caixas transportadoras basta ter a porta ou tampa fechada, sempre, como se disse, que a ventilação não sofra uma alteração  importante). A  finalidade de pôr na obscuridade os  canários serve para lhe inibir o seu ânimo de cantar, para assim  prestarem mais atenção ao maestro e  assimilarem corretamente o seu canto. Se me é permitida a  expressão, o que se pretende é  bombardear os  exemplares com o canto do maestro para que substituam o seu próprio canto, com defeitos, pelo canto do maestro.  

   O maestro pode-se  colocar de diferentes maneiras, entre os alunos, à frente deles, etc., o importante é  que o som chegue corretamente e que não haja obstáculos físicos que possam  desvirtuar  a correta  percepção das suas lições.

h) Canto excessivamente pobre e recortado.

Desgraçadamente costuma  acontecer  que alguns exemplares desenvolvam alguma  carência de faculdades, derivado a fatores externos, tais  como a cópia ou a incorreta atuação do criador (por exemplo, tapar os canários antes de cerrarem o  canto). Não devemos confundir  estes exemplares com aqueles outro que recortam o canto quando estão a ponto de cerrá-lo, ou depois de o terem  feito, já que, apesar de em ocasiões as causas coincidam, a explicação torna-se impossível de se fazer na maioria das ocasiões, pois há canários que sem causa aparente começam  a encerrar-se numa  parte do seu repertório, em detrimento da outra, e já não é  possível fazer nada para remediá-lo. Referimo-nos unicamente a esses canários que no decorrer da evolução do seu repasso nunca mostraram  faculdades para o canto, apesar de não terem  giros defeituosos ou negativos, para realizar um canto rico e variado.

A  conduta a seguir nestes casos poderia ser igual  ao  que referimos anteriormente, quando falamos da educação com maestros. A única variante em relação ao que se disse é que não devemos submeter os canários a uma obscuridade absoluta. A  cortina apenas tira um pouco de luz, para que a inibição do canto não seja absoluta. O  objetivo consiste em que os  canários assimilem giros do tutor, mas sem perder o seu próprio canto, daí que a semelhança estrutural entre o canto do maestro e a dos alunos deva ser a maior possível dentro do maestro e a dos alunos deva ser a maior possível dentro das nossas possibilidades. Trata-se  de enriquecer e  não de substituir.

Recorde o leitor que a educação com maestro é contraditório ao trabalho consequente da melhoria genética dos nossos canários de canto.

Confeção das equipas: Um dos momentos mais bonitos e complexos, da preparação desportiva dos canários de canto é, sem qualquer tipo de dúvidas, a confecção das equipas. As equipas, como o leitor conhece, são lotes de quatro canários de canto similar, em repertório ou  registo tonal, que se valorizam atendendo à soma das pontuações de cada um deles por separado e ao grau de harmonia existente entre o seu canto. A habilidade de fazer uma boa equipa depende, em certa medida, da sensibilidade musical que tenhamos, já que, acima de tudo, devemos atender ao  que o nosso ouvido determina.

As equipas sairão, em principio, daqueles lotes de exemplares que colocamos juntos quando os separamos em gaiolas  de canto  (vide supra ponto 3, no fim). Normalmente, os canários que formam uma equipa realizam um repertório, mas há ocasiões que não acontece isto. São dois, principalmente, os motivos que através dos quais se  confeccionam equipas com exemplares de canto diferente. O primeiro desses motivos é não ter pelo menos quatro canários que cantem igual, o que costuma  acontecer  nos aviários onde se separam os canários em diferentes voadores  por irmãos, nem todos os casais dão mais de três machos. O segundo motivo é a originalidade de alguns criadores que, por causa da sua grande sensibilidade musical, procuram nas equipas combinações canoras mais complexas que as que se conseguem com as equipas tradicionais, que em ocasiões  pecam com um excesso de monotonia. Além disso, há canários que, pelas suas características particulares, não se podem integrar  numa equipa tradicional, já  que apesar da sua qualidade individual, ao cantarem os quatro exemplares não só não existe harmonia necessária  sem que também, e como consequência deles, a qualidade individual parece diminuir e fica prejudicada a  valorização particular de cada um dos exemplares. Trata-se de equipas nas quais os exemplares não conjugam as suas melodias harmoniosamente e se produz um som confuso e monótono. Também existem exemplares que tem um ou vários giros  que se  destacam acima dos outros, por diferentes motivos, e quando se faz uma equipa com quatro desses canários  parece que estão repetindo continuamente esses giros (um claro exemplo disso são os exemplares que realizam o giro campainha, sobretudo em variação conjunta com floreio de onomatopeia “tilón”).

6ª PARTE:

Convém também ter exemplares de reserva para no caso de um dos quatro  eleitos adoeça ou morra, se bem que isto dependerá do número de exemplares que sejam compatíveis com os da equipa em questão.

Se tivermos que  eliminar os exemplares defeituosos, essa exigência multiplica-se no caso dos canários destinados a formar uma equipa, em que deve  primar a harmonia, a qual se rompe quando no canto de um dos exemplares haja um giro negativo ou defeituoso.

Um problema interessante é apresentado na colocação dos exemplares dentro da equipa. Os  exemplares colocam-se verticalmente, com uma gaiola encima da outra, sendo a gaiola mais alta a que leva a primeira letra, ou numero.

Esta colocação está  estabelecida para os canários Roller e canários de canto Espanhol (TIMBRADO). Existem infinidades de teorias que tratam deste assunto.      

        

POSIÇÃO DAS
GAIOLAS SOBRE A
MESA
A                ou                 1
B               ou                  2
C                 ou                 3
D                 ou                 4

  

Os  exemplares dentro da referida estrutura, cada um deles, embora, procure atingir um mesmo objectivo devem conseguir que o som seja uniforme e que a ligação entre os cantos dos integrantes da equipa seja perfeito, resumindo, que a equipa tenha uma perfeita harmonia. Volto a defender que, acima de qualquer teoria, é a sensibilidade musical do criador, que neste caso concreto o levará a bom caminho. A colocação se realizará empiricamente, escutando os canários e corrigindo as posições conforme o seu andamento. Contudo, dizer, que a maior parte dos criadores colocam o exemplar de canto mais forte na posição mais baixa, pois se o colocar noutra posição prejudica notavelmente os seus  companheiros, se impõe a eles e rompe a harmonia da equipa, e  por vezes até  provoca a inibição canora dos seus companheiros.

A par desta modalidade  temos a individual. Os canários que competem nesta categoria costumam  ser os melhores de cada aviário, não exemplares para fazer equipas, por se  considerarem  mais meritórios, desportivamente a competição nesta modalidade, pessoalmente, e  sem menosprezar a importância desportiva das equipas, considero minha  preferida a modalidade individual, já que à prior  coloca todos os canários em igualdade de circunstâncias, na hora de poder conseguir o triunfo, sem ter que depender da pontuação do resto dos integrantes do lote a premiar. Hoje em dia, muitos concursos incluem nos seus regulamentos um artigo que possibilita que os canários daquelas equipas em que não tenham cantado os quatro exemplares passem à modalidade de individual. É uma norma justa que pretende evitar que canários de grande qualidade  fiquem sem o prémio que merecem, só porque a equipa em que estavam incluídos falhou,  acontece algumas vezes, em concursos, o contra senso  de ficarem exemplares sem premiar, incluídos em equipas que falharam e que até tem a maior pontuação que aqueles outros que ganharam os prémios individuais. Uma vez que a equipa falhe, como tal, os exemplares que a integram perdem, nesta situação não se aplica a referida regra, de terem a possibilidade de conseguir prémio, salvo o Grande Premio, valha a redundância, em concursos onde é concedido  ao  canário de maior pontuação do concurso.

Ultimamente, está-se a permitir a participação de lotes de quatro canários individuais ao mesmo tempo. É chocante que as associações desconheçam de tal maneira a norma que impede os juízes de julgar lotes de quatro individuais,  Código de Canto Espanhol (Timbrado). Não quero entrar em polémicas sobre a conveniência ou inconveniência de tal prática, mas  se o leitor reparar, pode-se dar o contra senso  de que os quatro individuais de um criador cantem e que na equipa  que ele mesmo apresenta falhe  algum exemplar (como é normal em muitas ocasiões acontecer em concursos em que se pratica esta modalidade). Não é mais justo o sistema, que anteriormente se viu, de passarem a individuais os exemplares que cantaram em equipa  e em que falhou algum exemplar?.

Treino e preparação: O treino ou preparação dos canários de canto, como já se referiu anteriormente, deve começar quando estes tiverem cerrado o canto, ou, pelo menos, estejam perto de fazê-lo. É preciso, antes de entrar mais a fundo no assunto, que falemos  sobre a prática de tapar os canários com uma cortina. A  maioria dos criadores apoiam, ou pensam que é assim, o treino é feito em tirar luz aos canários com uma  cortina, que se coloca a uma distância prudencial das gaiolas de concurso, estantes, caixas transportadoras, ou outros lugares onde estejam  colocadas, com o fim de não prejudicar a ventilação e evitar problemas com as vozes dos canários. O contraste entre a obscuridade ou semiobscuridade e a luz, quando se tiram para serem escutados, incita-os a cantar. A utilização da cortina, para tapar os canários, é uma prática, aplicada a toda a  canaricultura de canto, que se deve realizar com o máximo cuidado, já  que se tapamos os canários antes que esteja  cerrado o canto, a  única coisa que conseguimos será atrasá-los mais e, inclusive, fazer que recorte o seu reportório ou que tenha uma tonalidade e intensidade de canto excessivamente pobre. Um dos erros mais frequentes do criador principiante, é tapar muito  cedo os seus pássaros.

Mas tapar os canários não é  imprescindível para seguir um treino correto. De facto, tendo os exemplares sob condições ambientais que já referimos, estes estão já submetidos a uma semiobscuridade ou semipenumbra suficiente para quando os  levarem  à luz do sitio onde os escutamos seja o suficiente para fazê-los cantar. Além disso, e jogar com é, sem dúvida, um  método válido, em principio, para fazer cantar os canários, se seguirmos uma observação continuada dos  mesmo ficam  acostumados à nossa presença, e bastará o fato de sacá-los  para que o mero instinto de territorialidade os incite a cantar. A  evolução gradual do canto do canário, que defendemos, faz  que não seja necessário tapar mais os canários no caso de terminar a sua evolução em datas demasiado cedo  às do concurso e  evitar desta maneira  que entrem demasiadamente em cio. A cortina deve ser utilizada como um instrumento na  hora de conservar  o  canto já feito dos canários que, de outra forma, correm sérios riscos de não chegarem  em plenitude de faculdades aos concursos, como consequência da evolução descendente  em qualidade que leva ao declínio do ciclo do canto.

Até chegar o momento no qual os exemplares estejam em condições de começarem a ser treinados limitamo-nos a sentarmo-nos em frente do lugar onde os tenhamos e escutá-los à medida que forem cantando, não devemos escutar todos de uma vez mas concentrarmo-nos em um ou vários exemplares para evitar enlouquecermos e podermos realizar uma observação satisfatória. Se for possível, esta operação a faremos, de vez em quando, na companhia de outra ou outras pessoas, para que os canários se acostumem plenamente à  presença humana e tomem a confiança suficiente.

Uma vez que acreditamos ter chegado o momento de iniciar a preparação, começaremos a tirar os canários por lotes, em individuais ou por equipas. Deveremos utilizar para isso  um espaço da habitação silencioso e com boa acústica (recordemos o maestro dos maestros, Aza, quando escrevia acerca da importância do espaço em que se escutavam os canários e o muito que podia influir na audição e na impressão causada pelos mesmos, já que a qualidade dos exemplares podia ser exagerada ou diminuída dependendo das condições acústicas da sala, é esta a razão  da capital importância que se dá nos concursos à  habitação destinada ao julgamento. Utilizaremos preferivelmente a  luz eléctrica, a utilizada nos concursos, já que a luz solar, em alguns casos, excita em demasia os canários e não realizam o seu canto com a serenidade desejável  para, assim,  apreciar a sua qualidade.  As gaiolas de canto colocam-se  numa mesa, uma encima da outra, e sobre a mais alta colocamos  uma tabuinha ou cartão, este detalhe , serve para favorecer a concentração no canto do canário que nela, aparentemente sem importância, é fundamental para a correcta audição dos canários. As  primeiras vezes que levamos  os canários à luz, estes, geralmente, ficam desconfiados pela novidade da situação, começam a saltar nervosos  de um poleiro para o outro e a chamarem-se uns aos outros. Superada  esta estranheza  inicial começarão a desenvolver  o seu repertório canoro. Não nos devemos preocupar se não cantarem nas primeiras vezes que os levamos à luz, de certa forma é normal, há canários que necessitam de mais tempo que outros para começarem a cantar com a nossa presença. Todos os dias levaremos à  mesa os nossos canários durante quinze ou vinte minutos, o tempo dependerá de cada caso concreto (ter os canários cantando durante muito tempo, o tirá-los  demasiadas vezes por dia faz  com que se acelere o seu estado de cio). Um sinal  que nos permite apreciar, em muitos casos, se os canários vão cantar quando os levamos à mesa, é a atitude que adoptam, se estão tranquilos as possibilidades de cantarem  são muitas, se por outro lado saltam de um poleiro para o outro nervosos e excitados, piando e movendo as asas, não cantarão e se o fizerem  fazem-no de forma precipitada e entrecortada, interrompida por intervalos.

Sobre que momento do dia em que é mais adequado para levar  os canários a cantar, isto  depende do tempo que tenhamos e quando o tenhamos. O  ideal é tirá-los para  cantarem  entre as nove da manhã e as oito da noite, horário em que decorrem  os  julgamentos  nos concursos. Não temos que tirar  os canários todos os dias à  mesma hora, de facto  temos que tê-los  habituados a cantar a qualquer hora e em qualquer lugar. São poucos os concursos, ainda que hajam alguns, em que se permita ao criador eleger a hora em  que possa levar à mesa de julgamento os seus canários. Se seguimos o indicado nos parágrafos anteriores, um outro método válido, salvo alguns imprevistos, os nossos canários cantarão quando chegar o crucial momento de passar pela mesa de julgamento.  

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