Tradução: Diogo Santana
1ª PARTE:
Considerações prévias: Antes de começar a falar do tema da preparação dos canários de
canto para os concursos, é preciso referenciar outro tema de extrema
importância para o criador. Em primeiro
lugar, há que avisar os novos aficionados, mais concretamente para quem vai destinado este trabalho, que o método que
vamos a descrever não é exclusivamente dos
criadores de canários de canto, existem
outros métodos e sistemas, que também são válidos, e inclusive podemos dizer que existe
um método distinto na preparação dos canários em cada um dos aviários. É lógico ser distinta a forma como trabalham os criadores das três raças de canários de canto, tendo em
vista as notáveis diferenças que existe entre
elas, apesar de terem algumas bases em comum, não é muito a diferença que existe no método de um criador e de outro. As diferentes circunstancias que cada um tem é decisivo na forma de trabalhar
os canários, assim não é o mesmo dispor
de muito, ou de pouco espaço em nossas casas, de ter muito, ou pouco tempo livre
e, neste último aspecto, em que momento
do dia o podemos desfrutar (recordamos o
caso de alguns amigos criadores que são obrigados a treinar os seus pássaros durante a noite, devido ao seu turno
de trabalho). Estas circunstâncias e outras impedem que haja um único sistema
de preparação.
O criador de canários de canto que comece neste mundo deve começar com um método que na maior parte das vezes se adapte
às suas circunstancias pessoais, por isso deve adoptar pouco a pouco o seu método próprio, método este que ninguém lhe
ensinará e a experiencia que for ganhando
com o tempo lhe vai dar um maior conhecimento da matéria que o encaminhará
nesse seu empenho. No entanto, isto não
significa que a principio não tenha que se guiar pelas indicações de pessoas com mais
conhecimento e experiência. Resumindo, devemos aprender um sistema, que seja, sempre e quando nos conste a sua correcção
através dos resultados conseguidos pelos
nossos maestros e neste sistema, juntamente com outros que, sem dúvida alguma, vamos
conhecendo e fazendo um próprio que se
adapte a nós. Não se deve esquecer o principiante que não é ele que se tem de
adaptar ao sistema, é o sistema que se
deve adaptar a ele. O presente trabalho
tem como única finalidade orientar o principiante
e dar-lhe algumas bases sobre as quais pode ir trabalhando.
Por outro lado, já deveria ter notado
o leitor que não falamos de educação, mas de preparação. Em muitos trabalhos sobre este tema se alude à educação dos canários, no fundo, o termo educação esconde um método de ensino com
maestro, prática que raças como o Malinois necessitam (devido à importância que
lhe dão os seus criadores), mas de modo
nenhum se pode fazer com o canário de
Canto Espanhol (Timbrado), há que negar redondamente que o nosso cantor
nacional precise de educação com maestro para desenvolver o seu canto e menos ainda
se possa dizer que o canário precise disso para realizar um canto adulto. A má interpretação das conclusões dos etólogos, assim como a doutrina daqueles que praticam um mar de dúvidas e que os levam a perder um tempo precioso no correcto estudo
dos canários de canto. Um bom conselho é que façamos caso daqueles que fundamentam seus estudos nos canários, o canário não se pode comparar, no
que diga respeito ao seu canto, com
outras espécies muito pior dotadas que ele para a função canora. Mais de quinhentos anos de estudos e trabalho, assim como a fixação genética das três raças de
canto, internacionalmente reconhecidas, são prova suficiente que não podemos comparar o estudo
de canários criados e seleccionados para o canto, durante séculos, com as
observações feitas em espécies de canto rudimentares e, sobretudo, de comportamento,
muitas vezes, distintos, nas suas reações, àqueles canários, cujos hábitos se foram mudando em
cativeiro, resumindo, é como se pretendêssemos comparar um estudo realizado com
canários silvestres, com outro realizado com canários de canto, alguém duvida
da mudança tentada geneticamente nos canários domésticos em relação ao seu
antepassado silvestre.
Para terminar esta parte, simplesmente dizer que são bem
vindas, para o principiante, todas aquelas informações que lhe possam dar
alguns conhecimentos, mas antes de confiar nas opiniões expostas em
foros, naquilo que é a canaricultura de canto, temos que comprovar que são aplicáveis ao canário e se não forem, teremos
que ir aprendendo naquilo que criamos o que
nos pode ser útil, mas nunca tomar como sacramental
aquilo que não nos conste objectivamente, só porque alguns senhores, que supostamente se dizem
ter um maior conhecimento científico, o digam, especialmente quando as suas
observações nem sequer se fazem com canários de canto, apenas se limitaram a dar a sua opinião, baseada em experiencias de outros e que, sem dúvida, não
se atreveriam a realizar aquilo que eles
fizeram, não se pode tratar de igual modo o que a natureza e a mão do homem, neste
caso em concreto do canário, tem feito diferente.
O mês de Setembro: A recta final do trabalho do criador começa
em Setembro, é nesta altura quando os jovens canários estão a terminar a sua primeira muda. O final da muda significa que os canários já são
fisiologicamente quase adultos, para considerá-los como tais vamos ter que
esperar, no entanto, que o seu desenvolvimento hormonal termine. Uma vez que o
canário tenha terminado o seu período de muda e abandonado para sempre a sua plumagem
juvenil, o seu desenvolvimento hormonal,
de certa maneira paralisado até agora, se reactiva e a cada dia é mais evidente
o avanço que o repasso do mesmo ensaia. O bando, tomando a expressão utilizada por um
companheiro especialista na matéria, começa apesar de ter estado sempre aí,
apenas nos faltava esse descodificador natural que faz que pouco a pouco o repasso
se transforme no belo e harmonioso canto do canário adulto. Muito falta ainda
percorrer a nossos canários, mas será preciso multiplicar horas de observação
nos diferentes voadores, com o fim de evitar que um canário excessivamente adiantado
possa arrastar alguns de seus irmãos para um caminho inadequado e que o conduza
irremediavelmente á loja de pássaros mais próxima. Nesta tarefa, será de extrema importância vigiar os
canários que dominam em cada voador, o que torna fácil se observarmos os voadores com assiduidade. Os canários guia, como eu lhes
chamo ocupam o lugar mais alto dentro da
hierarquia estabelecida nesta pequena comunidade
que constitui cada voador, é o canário guia,
ou os canários guias se houver vários, os que dominam os seus irmãos e que marcam
o desenvolvimento de seus cantos. Assim, se um desses canários começa a realizar defeitos, ou a degenerar o seu canto,
as possibilidades dos outros machos do voador o seguirem são quase absolutas.
Por isso, se observarmos que um deles executa variações não desejadas será de imediato
separado e talvez, com um pouco de sorte, consigamos salvar os restantes
pássaros. Se tardamos muito em separar
esses canários guias, também pode acontecer que os seus irmãos não saibam
seguir correctamente a evolução do seu repasso, assim, quanto mais demorarmos, maiores
serão os riscos de estragar o resto dos machos.
Tão
pouco devemos deixar de vigiar o resto dos jovens canários, pois um dos canários
que consideramos hierarquicamente inferior, pode estropear-se e arrastar todos
os outros, dada a maior facilidade que envolvem na sua execução os giros
degenerativos e defeituosos. Resumindo, devemos vigiar todos os canários, mas
muito em especial aqueles que ostentem uma posição hierárquica maior entre os
seus irmãos e aqueles que apresentem uma debilidade, ou subdesenvolvimento
físico notável (Os exemplares doentes, assim
como os que se desenvolveram deficientemente e que estão, geralmente, menos dotados
para o canto, já que não são capazes de
levar a cabo uma evolução normal do mesmo, o aconselhável é separá-los quanto
antes de seus irmãos, já que são os primeiros que costumam realizar giros defeituosos).
A
observação dos voadores em Setembro pode
facilitar, aos criadores experientes, uma primeira seleção, já que podem
descartar algum voador, atendendo a essas observações que a experiência vos possibilita
e que estão longe do principiante. Aquilo que se pode fazer com esses primeiros
descartados, se não se tiver sitio para onde os levar, podem seguir a sua evolução sem risco para os restantes exemplares (no caso de nos
termos enganado), ou se os quiserem tirar do aviário definitivamente (vendidos ou oferecidos), vamos
falar deste assunto mais à frente, para então falar dos exemplares descartados
em geral, por manifestarem uma carência de faculdades para o canto, ou para desenvolver
o seu repasso com as algumas limitações.
2ª PARTE:
Nesta segunda parte cabe apontar que o mês
de Setembro tem que ser dedicado ao controle do repasso dos nossos canários,
que começa a ser mais nítido e efectuar uma primeira seleção àqueles que mais estejam capacitados,.
O mês de Outubro: os concursos de canários de canto celebram-se a partir da última semana de Novembro até princípios
de Fevereiro. Geograficamente, os concursos de Andaluzia e da zona Levante costumam
ser os primeiros, os últimos são os do terço norte peninsular, e concretamente,
se as minhas informações não estão equivocadas, o último concurso de Canto Espanhol
(Timbrado) é o da cidade de Oviedo, um dos berços da nossa raça de canto. É
certo que no decorrer do mês de Outubro os criadores procedem à separação dos exemplares em gaiolas de concurso, a operação realiza-se, em cada
zona, dependendo das datas dos concursos. Assim, nas zonas onde os concursos começam
no final de Novembro colocam-se nas gaiolas de canto a princípio de Outubro, e naquelas onde os
concursos se realizam a partir da
segunda quinzena de Janeiro esta operação pode-se retardar até princípio de Novembro.
A maior parte dos criadores colocam nas gaiolas de canto os seus canários, em media, durante a segunda
quinzena de Outubro, o que lhes permite uma maior manobra de ação, na hora de competir em concursos de zonas geograficamente
diferentes (Existem circuitos de concursos que começam em Andaluzia e terminam
no norte, o que permite uma estreita colaboração entre criadores e associações,
e um melhor conhecimento da realidade dos nossos canários por todo o País).
Antes
de proceder à separação nas gaiolas de
concurso, devemos ter a certeza que todo
o material está em condições e preparar um programa de ação, para isso
dedicamos os primeiros dias do mês de Outubro.
Penso
ser importante, já que fizemos
referência ao material, falar também de um tema tão importante como é o caso
das gaiolas de concurso. Todo o principiante se encontra, dependendo da zona
geográfica em que resida, com o problema de aquisição das gaiolas de concurso, as quais se fabricam artesanalmente e não habitual encontrarem-se
facilmente no mercado. Para consegui-las temos que recorrer às associações,
onde certamente nos possam arranjar
alguma solução para o problema, directamente, ou informarem-nos onde as possamos adquirir. Existem vários tipos de gaiolas de concurso, tema no qual não vou entrar,
algumas delas obedecem ao modelo C. O.
M.. Para canários de canto existem as valencianas e as sevilhanas e outras
são fruto da escassez das primeiras tradicionais, gaiolas de alumínio e gaiolas
de madeira do modelo antigo, madrilenas, estas últimas ainda se vêem em modelo
antigo e com alguma frequência ainda se vêem nos concursos. Tenhamos um modelo ou outro de gaiolas,
o importante é que estejam em boas condições e cumpram com a sua finalidade.
Outro
tema de interesse, relacionado com as
gaiolas, é a colocação dos poleiros. É frequente ver os poleiros colocados segundo
o Regulamento de concursos da C. O. M. de
acordo com o mesmo, as gaiolas dos canários Roller (Artigo 5 do Regulamento dessa raça, aplicável ao
resto dos canários de canto) devem levar um poleiro no terceiro arame a contar
dos comedouros e outro no lado oposto no sexto arame a contar da porta da
gaiola, o mesmo dispõe o Artigo 19 do Regulamento do Campeonato Nacional. Tal prática
é contra produtiva, já que se o canário
não adopta, de forma natural, uma posição de canto correcta (horizontal em relação
ao solo, fazendo um ângulo quanto mais agudo melhor). Para isso os poleiros devem ser colocados a uma altura média, para que se o
canário adoptar posturas de canto muito verticais, o que costuma proporcionar
canto demasiado elevado, ou até estridente, devem-se subir os poleiros e obrigá-los a cantar deitado,
para que o canto ganhe em doçura e o canário
fica mais estético na gaiola. Há que utilizar
as gaiolas e seus elementos como instrumentos para ajudar os canários a tirar o
máximo partido das suas faculdades. Saiba o leitor que a incorrecta colocação dos
poleiros e as posturas viciadas que provocam nos canários, podem causar uma
impressão bastante negativa no juiz, também existem exemplares que estão
acostumados a cantar numa posição incorrecta, por causa dos poleiros e quando
se sobem, adoptam uma posição de canto mais horizontal, ganham em musicalidade e o valor de algumas passagens pode
ser maior.
Retomando
o tema central deste trabalho, vamos
falar do lugar onde vamos colocar os
nossos canários, uma vez separados nas gaiolas de concurso. Esse lugar, se for possível,
e uma vez mudadas as jovens fêmeas para outro lugar (por exemplo, juntá-las às
adultas), que será o mesmo onde passaram os meses de voador, quanto menos mudanças
ambientais sofram melhor para eles. As condições ambientais serão as mesmas que tinham
anteriormente, um local com boa acústica, semi-penumbra, ou luz fraca, tranquilidade, higiene extrema, uma
correcta e suficiente ventilação e esse aparelho de música que tanto nos tem ajudado
na tarefa de separar acusticamente um voador
de outro. A alimentação continuará sendo uma mistura
de alpista e nabo, cuja composição altera conforme as necessidades de cada pássaro,
se tiver muito adiantado juntamos mais nabo à mistura se for o contrário tiramos, se for preciso neste
último caso podemos dar só alpista. Nunca utilizar vitaminas para adiantar um canário,
pois podemos forçar um desenvolvimento insatisfatório
para os nossos objectivos.
Tenhamos
em conta que o facto de colocar nas gaiolas de canto os nossos jovens canários
muito cedo faz com que aceleremos o curso
normal da evolução do seu repasso. A solidão antecipada a que submetemos os canários,
em condições naturais, não se produziria até à chegada da Primavera, quando alcançam
a maturidade sexual determinada pelo culminar do seu desenvolvimento hormonal. Neste
momento os bandos que passaram o Inverno
juntos separam-se e começam os preparativos para a época de criação. Com a separação em gaiolas
individuais fomentamos um precoce desenvolvimento hormonal proporcionado pelo assombroso
desenvolvimento do instinto de territorialidade, que leva o canário a marcar o
seu território, na gaiola de canto, frente ao resto dos seus companheiros, que
se encontram na mesma situação. Como se adapta o canário ao seu novo lugar? Dependerá,
em grande parte, de ser capaz ou não de
desenvolver o máximo das suas faculdades canoras, pois se acusa em excesso a
mudança de situação podem acontecer uma série de circunstâncias que levam a uma
degeneração do seu canto. Pode ocorrer desde um estado de abatimento físico, ao
ponto de provocar a morte da ave, até a
reações que vão desde uma quebra até uma precipitação na evolução do canto, ambas
contraproducentes para o mesmo.
Devemos
atrasar o máximo possível a data de separação, já que esse enjaulamento
antinatural a que submetemos os pássaros pode terminar no surgimento de giros degenerativos como consequência
da precipitação do canário na hora de fixar as diferentes variações que compõem
o seu canto. É muito frequente que um exemplar, ao querer adiantar em excesso a
realização de um giro, não chegue a combinar bem as diferentes consoantes e vogais que nele intervém e perante essa situação improvise
consoantes de mais fácil execução, como por exemplo a CH. Um conselho útil,
para o principiante, é que não tente preparar os seus canários para um determinado
concurso, se não for participar nele, mas sim, participar naqueles concursos que mais se adaptem
à evolução do canto de seus exemplares, se
não o fizer desta maneira corre o risco do canto se degenerar ou se recortar em excesso. Há
concursos suficientes no nosso País para que não se faça depender o nosso plano de
trabalho de um só concurso, mesmo que o
canto dos nossos canário se faça pausadamente, logo ao proceder à sua separação
nas gaiolas de concurso, será o bastante para adiantar logo à priori o seu
canto. Há diferentes formas de colocar, ou situar, as gaiolas de concurso.
Pode-se utilizar um armário
especialmente desenhado para tal fim, transformar as baterias de criação em armários tirando as sua frentes, utilizar transportadoras
no lugar de armários, e inclusive pendurar
as gaiolas, simplesmente numa parede, existem mil e uma maneiras de se fazer, para
todos os gostos e para qualquer lugar (desde uma habitação a uma varanda, ou terraço). Este é um ponto que depende
exclusivamente do sítio que disponha cada criador, como referido anteriormente,
há que se adaptar o método às nossas possibilidades
e não o contrário.
3ª PARTE:
Por último, na hora de separar os jovens machos, temos que ter a certeza de terem finalizado por completo a muda. É
importante que façamos esta operação (a separação) gradualmente, atendendo
principalmente a dois factores: a sua idade e datas dos concursos. Quando temos
um número elevado de machos e os concursos em que pretendemos participar tenham
datas próximas, é conveniente separarmos
os canários gradualmente, em relação ao grau de desenvolvimento do seu canto, para podermos
ter diferentes lotes para competir em
cada um deles, sem ter que adiantar, ou atrasar a evolução do repasso.
Distribuímos
os canários por lotes de irmãos, se os tivermos assim separados na fase de voador
e se não os tivermos assim e os tivermos
juntos, será por semelhança de canto. Entre os canários que tenham o mesmo repasso,
faremos uma seleção atendendo às características de suas vozes, em especial ao
tom. Cada lote estará colocado numa estante, ou caixa transportador.
Um período crítico: Como indicamos anteriormente, o facto de
colocar os nossos canários em gaiolas individuais,
como requer a canaricultura desportiva, supõe adiantar a evolução do seu canto,
para que madure a tempo de poder competir nos concursos. É por esse motivo que as primeiras semanas nas gaiolas de
concurso são cruciais para o êxito ou fracasso das nossas aspirações desportivas.
Dependendo da capacidade de adaptação de nossos exemplares à situação descrita,
o seu repasso evoluirá num sentido ou noutro. O facto de que devemos procurar
que as circunstancias do meio ambiente não variem, em relação à fase
de voador, deve-se a esse trabalho de procurar, dentro daquilo que deve ser, para
que o canário não acuse em excesso essa mudança de situação. Assim, se tiramos luz, o canto sofrerá uma considerável baixa,
que pode proporcionar um canto recortado e de baixo tom e intensidade, se pelo
contrário, aumentamos demasiado a luz, proporcionamos um maior adiantamento na evolução do canto que pode conduzir a giros
degenerativos e, possivelmente com estridência. Uma prática aconselhada por alguns
criadores a fim de conseguir uma melhor aclimatação, é deixar que os canários se possam ver durante os primeiros dias de separação
individual, não colocando as chapas ou separadores entre as gaiolas. De tudo o
que se disse, o leitor pode deduzir que manusear muito ou pouco os canários de
canto provoca situações prejudiciais, dificilmente susceptíveis de serem
solucionadas, uma vez que são produzidas pelo criador.
O
período crítico a que
nos referimos, é o da maturidade forçada que tem que levar a cabo os jovens canários
até conseguirem cerrar canto, ou dito de
outra maneira, realizarem o canto de um canário adulto, a isto se junta a
exigência de se acomodar a esse modelo oficial denominado Código de canto, criado
pelo homem para modelar o canto dos canários sob as qualidades musicais de
ritmo, harmonia e melodia. O tempo que leva
o canário a cerrar o canto oscila entre mes e
meio a dois meses, dependendo das
características de cada linha de canto, em particular, da maior ou menor complexidade
das variações que pretende fixar e das
circunstancias meio ambientais, entre as que o homem, nos seus acertos e seus equívocos, ocupam o primeiríssimo lugar. Há muitos canários que
potencialmente são autênticos campeões mas que não alcançam tal categoria, para
a que estavam geneticamente destinados, isto por culpa e incompetência de seus
criadores. Em suma, as atenções que dedicamos aos nossos canários são
definitivas, para o bem, ou para o mal, na hora de obter bons resultados na criação e preparação desportiva dos canários.
Até que o canário não cerre o canto não devemos tirá-lo
para cantar do lugar onde se encontra,
tal prática supõe precipitar a evolução do repasso, a preparação e treino temos
que deixá-los para esse momento em que, apesar de ainda estar evoluindo o seu
canto, já não se correm risco dos giros
em processo de formação se degenerarem. Quanto ao
treino vamos falar mais à frente, deve levar-se a cabo com canários que realizem
já um canto extremamente avançado, em que se percebam os diferentes giros que vão
compor o seu canto mas que ainda lhe falta a tonalidade, a intensidade e a nitidez
do seu timbre de voz que adquire em poucos dias ou semanas. O canto do canário segue um ciclo, onde a habilidade
do criador está em saber fazer chegar os seus exemplares aos concursos no ponto
do seu maior esplendor, pois a partir deste momento, a maioria dos canários, começam
a mostrar sintomas de cio e o canto começa a perder musicalidade (ritmo, harmonia
e melodia), à medida que vai ganhando decibéis, como forma
de demonstrar a sua virilidade e com o fim de atrair as fêmeas, e avisar outros
machos da sua presença.
Até
que chegue esse momento, em que possamos ir tirando os diferentes lotes das estantes,
ou das caixas transportadoras para ouvi-los e se irem acostumando às mudanças de lugares e à presença de outras
pessoas, devemos escutar e controlar os canários, sentados frente a eles, para que
possamos ver quais e como cantam, separando aqueles que demonstrem uma inferioridade
na sua aptidão para o canto e fazer o necessário para que o resto se desenvolva
nas melhores condições. Ter presente que, tanto no voador, como nas gaiolas de concurso, antes
que o canário alcance um canto nítido, passa por distintas fases no processo de expressão do seu padrão inato de melodia
e há dias que aponta grande qualidade e outros
em que destaca uma aparente mediocridade, que decepciona o criador. Não confundir
estas flutuações, próprias do repasso, com o processo de encurtamento,
degenerativo, ou continuado que fazem esses canários e que será necessário
separá-los, uma coisa são as mudanças próprias do canto em período de formação,
que se produzem intermitentemente, ou de forma ocasional, e outra as mudanças continuadas que se fazem no
dia a dia mais patentes. Se houver exemplares que necessitem de uma alimentação
diferente (vide referencia anterior sobre a mistura de alpista vs nabo) deveremos
dar-lha, se houver mudanças bruscas de temperatura, que possam prejudicar as vozes
dos nossos jovens canários temos que
lhes dar, por exemplo, água de regaliz, ou pau doce, como também conhecida por
este nome noutras regiões, para desta maneira prevenir problemas respiratórios que lhe podem
prejudicar tanto a sua aptidão para o canto como a realização das variações que formam o
seu repertório (está mais que provado que os resfriados, ou outras doenças respiratórias,
são a causa de muitos canários fracassarem na sua emissão de voz, na grande maioria dos casos, com giros nasais, assim como das temidas afonias, um
flagelo para os criadores de canto ao longo de toda a sua historia). Inclusive
há quem lhes dê uma pequena quantidade
de papa de ovo com mel uma vez por semana. Resumindo, devemos estar cientes de
todas as necessidades que estas singulares aves estudantes possam precisar para
poderem tirar o máximo partido das suas
condições inatas para a realização de um bom canto. Só para lembrar, que
devemos ter presente que o fenótipo, ou conjunto de caracteres perceptíveis pelos
nossos sentidos, é o resultado da incidência
sobre o genótipo, conjunto de características que um exemplar herda de seus progenitores e que pode transmitir à
sua descendência e ter também em conta os factores meio ambientais. De nada serve
ter um plantel de exemplares de alta qualidade genética, se não formos capazes de proporcionar as condições necessárias
para levar em frente esse mesmo plantel.
Exemplares que manifestam uma carência de
faculdades: (Giros defeituosos
e canto excessivamente pobre e recortado). A essência da canaricultura desportiva
é a melhoria das distintas raças de canários. Para isso existe uma serie de
Códigos e Regulamentos, que integram as características que devem ter os exemplares
de uma ou outra variedade. O caminho
para chegar à cobiçada e utópica perfeição, é a seleção zootécnica, através da
qual eliminamos os exemplares que não se ajustem ao standard da raça e nos concentrarmos no trabalho daqueles que consideremos aptos para levar
a cabo o nosso objectivo, que são os concursos, ou a sua reprodução.
Ao
longo da temporada, desde que começamos
a criação até começarem os concursos, a seleção deve fazer-se em três fases:
-Eliminação
de exemplares com taras físicas.
-Eliminação
de exemplares que não se ajustem, pelo motivo que seja, ao standard da raça que criamos. Neste nosso
caso, será o canário de Canto Espanhol (Timbrado).
Os motivos de desclassificação num
concurso são:
Presença
de factor vermelho na cor, riços na plumagem, giros que tenham suspeitas de
cruzamento com outras raças Roller e Malinois), qualquer outro indicio que ponha em
evidencia o cruzamento com outras raças de canários ou espécies distintas.
4ª PARTE:
- Eliminação de exemplares que mostrem uma carência de faculdades para a função
canora.
Os
exemplares dos dois primeiros grupos, em teoria, terão sido descartados já em
fases anteriores, por isso neste parágrafo só se faz referencia aos terceiros. Há que distinguir
entre os canários que foram separados gradualmente e que
se encontram neste grupo, que realizam
giros apresentando um canto pobre de repertório,
daqueles que dizemos estarem recortados. Se não dispormos de muitos
lugares, o normal será estes canários irem parar a uma loja de pássaros, se
tivermos sítios de sobra, coisa pouco frequente nos dias de hoje, podemos
tentar corrigir-lhes seus defeitos, a forma de fazê-lo dependerá da natureza dessa
carência que nos levou a separá-los.
a)
Exemplares com giros defeituosos ou negativos.
O
criador de canários de canto deve estar atento e demonstrar a sua sensibilidade
musical na hora de detetar giros defeituosos, ou giros negativos, já que nem
todos os giros defeituosos são penalizados como negativos, a sua execução simplesmente diminui a pontuação na
hora de fazer a valorização de cada passagem pelo juiz, a emissão de giros defeituosos
incide na qualidade conjunta de uma série de giros enquadráveis na qualidade
conjunta da ficha de julgamento.
Cabe distinguir, dentro destes giros, atendendo
à sua natureza, três tipos:
Giros próprios: São aqueles que se integram no padrão inato do canto dos nossos exemplares
e cuja realização se deve a uma predisposição genética. Este tipo de giros costumam
manifestar-se durante a fase de voador, a partir dos dois meses de idade e são os primeiros, por regra geral, que costumam
fazer acto de presença.
Giros adquiridos (copiados): São aqueles giros que o canário realiza por tê-los escutado de outros exemplares e
que os assimilou ao seu canto. Podem aparecer em qualquer momento do
desenvolvimento do repasso e, é comum, desaparecer o risco quando o canário cerra
o canto. Em muitas ocasiões este tipo de variações são copiadas por exemplares quando
enviamos a concurso antes de terem
terminado a evolução do seu canto.
Giros degenerativos: São giros que aparecem no canto como consequência de uma carência
de faculdades, com várias origens, na tradução
de um giro que inclui na sua execução uma certa complexidade e que se traduz na substituição
de texto fonético original por outro de maior facilidade, que costuma originar giros com deficiência auditiva, carentes de musicalidade,
e que rompem a melodia intrínseca desejável no canto do canário. Um claro exemplo
é mostrado com a profusão de giros pronunciados com a consoante CH, que substitui
as consoantes originais de maior complexidade e musicalidade. As causas do
aparecimento destes giros são muito variadas, colocação nas gaiolas de canto precoce, precipitação
forçada da evolução do repasso, desleixo
por parte do criador nas atenções devidas aos canários (controle dos
distintos factores médio ambientais), etc., etc.
Falamos,
para além do referido, de uma origem de natureza patológica, sobretudo doenças respiratórias,
que incidem no aparecimento e fixação no
repasso de giros defeituosos. Se tratarmos dos nossos exemplares a tempo, não se
deverá produzir a degeneração do giro, se, contrariamente a isso, não o fazemos,
o giro pode-se degenerar e, mesmo apesar da doença desaparecer, fica agarrado
ao canto. Muitas nasalidades e rascadas devem-se a estados patológicos que o
criador não detetou a tempo.
Cabe
fazer uma sucinta referencia, dentro deste parágrafo dedicado aos giros defeituosos,
às vozes defeituosas ou, dito de outra maneira,
a esses fenómenos que afectam a emissão sonora do canário de forma
generalizada. Desde sempre, a maior praga tem sido a afonia propriamente dita,
ou a leve voz baixa tomada, que a ela se
uniu. As causas do seu aparecimento são, principalmente, de origem genética,
cruzamentos mal feitos que se traduzem em órgãos de canto defeituosos), e de origem
patológica. Com os que tem origem genética não há nada a fazer, apenas procurar
não utilizar na criação esses exemplares suspeitos de transmitir essa genética
às gerações vindouras. Os que tem uma origem patológica tem difícil tratamento,
mas há possibilidade de desaparecerem quando a doença
que lhes deu origem for tratada. A agua
de regaliz é um bom remédio por minha experiencia própria e de outros
canaricultores e, em último caso, recorreremos a um veterinário para que nos prescreva
um tratamento adequado para a enfermidade de origem.
Referencia
especial merecem as denominadas vozes nabilizantes, como são conhecidas as vozes de canários que atingem um defeito
tonal que causa a impressão de estarmos
perante exemplares, que apesar de realizarem corretamente os distintos giros de
canários adultos, ainda não alcançaram a sua maturidade sexual, sendo pobre a tonalidade em
que emitem o seu canto devendo-se neste caso a um excesso de nabo na sua mistura
(Fazendo referência a D. Rafael León Rivero,
no seu artigo intitulado, “O treino do canário Roller”, Pájaros nº 7, 2 Época, pág.,
16 1969): “O nabo possui substancias anti- toroidais ou bociógeneas, que provocam
um aumento (hiperplasia) da tiróide, glândula situada na parte anterior do pescoço das aves e consoante
o tamanho da sua hormona (tiroxina)
estimula a secreção testicular, e todos
sabemos que o canto das aves está dependente desse estimulo, que quanto mais
acentuado for mais estridente será o canto em questão. Pois bem, a hiperplasia
a que nos referimos influencia a secreção hormonal da tiróide, diminuindo por consequências
lógica a sua circulação e consequentemente
o estimulo ao testículo da ave não será
tão marcante e o seu canto, em relação directa, como dizíamos, com este processo
fisiológico, também será mais suave. “O criador deve evitar, a todo o custo, que isto
se produza, para isso terá que ter cuidado nas doses de nabo, naqueles casos em
que deva aumentar o normal, e não exceder mais que isso.
Já
dissemos que não é o mesmo falar de giros defeituosos e de giros negativos apesar de ambas as categorias
se encontrarem irremediavelmente unidas. Nem todos os giros negativos de cada
raça de canários se tenha que recorrer ao seu Código de canto. Em concreto,
para o Canto Espanhol (Timbrado) há três
giros que diminuem a pontuação; rascada,
estridência e nasalidade. Vejamos brevemente cada um deles:
Rascada:
Defeito que tem a sua origem na excessiva
predominância da consoante “r “ no texto fonético do giro, que
produz um som duro que molesta o ouvido, dá-se naqueles giros onde intervém a
consoante citada, principalmente nos giros de ritmo continuo (timbres e variações
rodadas) e nos denominados floreios com “riñas”. Não devemos confundir a
rascada com giros torcidos, próprios de muitos exemplares procedentes de
cruzamentos com canários silvestres, nos que predomina o som da consoante “r” mas sem romper a musicalidade do canto.
Estridência:
Defeito que consiste numa mudança brusca, quer no tom como na intensidade do
som durante a emissão do canto, que provoca a perda da musicalidade do mesmo
(ritmo, harmonia e melodia). As subidas de tom e intensidade, que provocam a estridência,
podem atenuar-se diminuindo a quantidade
de luz que recebem os exemplares afectados e aumentando-lhes a quantidade de
nabo.
Nasalidade:
Defeito consistente na produção de um som
defeituoso, cujo origem aparentemente parece estar mais nos orifícios nasais que na siringe. Geralmente dá-se nos giros em que
prevalece o som das vogais (mais puros que aqueles em que dominam as consoantes) e naqueles em que intervém certas consoantes
que, pela sua especial sonoridade, são susceptíveis de produzir nasalidade se a
dicção das mesmas não for a adequada. Exemplos de nasalidades produzidas por uma
deficiente pronuncia, que conduz à degeneração do giro, são aquelas que se dão
nos canários Roller, nas flautas (substituição
da consoante “d” pela “m”) e nos canários de canto Espanhol
(Timbrado) na campainha (deficiente dicção
da consoante “n”). Os giros fanhosos penalizam-se dependendo da sua intensidade,
os casos mais graves constituem nasalidades, enquanto que os mais ligeiros, tiram pontuação na hora de se valorizar o giro, mas não chegam a
ser giros negativos, propriamente ditos.
5ª
PARTE:
Ao
longo do que já se escreveu, temos visto que nalguns casos os giros defeituosos
são susceptíveis de serem corrigidos ou, pelo menos atenuados, dependendo da
sua causa de origem. Quando isto não for possível, o criador deve recorrer a medidas mais
contundentes.
Afirmamos,
no inicio do presente trabalho, sermos contra a utilização de maestros para
educar os canários de Canto Espanhol
(Timbrado), dada a riqueza genética do nosso cantor nacional, e o
contraproducente de tal prática para a melhoria do padrão inato que rege o
canto dos nossos canários. Atrás dessa prática esconde-se, geralmente, uma
canaricultura do tipo conservador e sem
riscos, que pretende assegurar êxitos nos concursos e a venda das cópias. Embora,
o criador e não passareiro, saiba que, nalguns casos, a utilização de maestro
poderá ser justificada. Com efeito, a prática indiscriminada da educação com maestros seja criticável, mas a mesma
prática utilizada em casos concretos e justificados possa ser instrutiva. Sem
dúvida alguma, a correção de exemplares que apresentem no seu canto giros defeituosos,
é um dos supostos em que poderá ser justificada a utilização de um tutor, que terá como função a
educação dos exemplares que por si sós não tem as suficientes faculdades para
realizarem o seu canto de acordo com os parâmetros mínimos exigíveis de um canário
de canto. Embora, se pensarmos cuidadosamente sobre esta questão, daremos conta que não merece a pena realizar tal prática. Contudo, vamos
fazer uma referência com carácter puramente educativo.
O
tipo de educação referido deve ser levado a cabo de acordo com uma serie de
requisitos, que suponho serem indispensáveis, ao mesmo tempo difíceis de cumprir
pela maioria dos criadores. Os referidos requisitos são: sitio, tempo e um exemplar
que reúna as condições necessárias para esta
tarefa da educação. Dos dois primeiros não
é preciso falar (sitio e tempo), do terceiro vamos fazer uma sucinta menção. O criador de canários de
canto deve ser consciente de que, se não cumpre estes três requisitos, deve desfazer-se
dos exemplares com giros defeituosos no momento em que os descubra.
Do
tema dos maestros se fez saber num grande
número de trabalhos, talvez em demasia, mas, na opinião da maioria dos aficionados, a
importância que se deu ao tema foi no mínimo que insatisfatório. De todas as formas,
se há alguma coisa em que coincidam
todos aqueles que trataram deste assunto,
é o facto em que um exemplar utilizado para esta tarefa deva ter uma grande
qualidade e carecer de defeitos no seu canto. Deve ser um canário em que as qualidades
sonoras (tom, intensidade e timbre) e as qualidades musicais (ritmo, harmonia e
melodia) sejam perfeitas, com um repertório rico e variado (recordemos que a
qualidade é melhor que quantidade e
entre dois exemplares, é preferível aquele que realize menos giros mas de grande qualidade que aquele outro de repertório
mais variado mas de inferior qualidade).
É fundamental uma boa dicção, para evitar que os alunos assimilem erradamente a
lição e realizem os giros sem a pureza precisa, o que se traduz em giros de deficiente qualidade. Em último
lugar, o maestro será da mesma família ou linha de canto que os alunos, ou pelo
menos, ter um canto de características compatíveis
com os de seus alunos. Um problema que se apresenta na hora de utilizar este
sistema é o da conservação do canto nos
machos adultos, já que, normalmente, a medida que entram em cio e decorra a época de criação, o canto vai decrescendo
em qualidade, às vezes de forma barulhenta. Sem dúvida, o maestro ideal será um
canário que não tenha feito criação, com o que, em teoria, o seu canto estará melhor conservado, embora se tenham que deixar-se de utilizar como reprodutores os exemplares de maior qualidade, com a conseguinte
perda que implica no aspeto da melhoria da genética. A respeito da utilização
de meios eletrónicos para o ensino (gravações em qualquer tipo de suporte), tenhamos
em conta que apesar da qualidade da gravação ser muito boa, sempre se perde alguma
qualidade tanto sonora como musical.
Para
levar a cabo a educação dos jovens desencaminhados procederemos à colocação de
uma cortina escura à frente deles, mas guardando alguma distancia prudencial, a fim de não diminuir perigosamente
a ventilação do lugar onde se encontrem instalados (no caso de tê-los em caixas transportadoras basta ter a porta ou
tampa fechada, sempre, como se disse, que a ventilação não sofra uma alteração importante). A finalidade de pôr na obscuridade os canários serve para lhe inibir o seu ânimo de
cantar, para assim prestarem mais atenção
ao maestro e assimilarem corretamente o
seu canto. Se me é permitida a expressão,
o que se pretende é bombardear os exemplares com o canto do maestro para que
substituam o seu próprio canto, com defeitos, pelo canto do maestro.
O maestro pode-se colocar de diferentes maneiras,
entre os alunos, à frente deles, etc., o importante é que o som chegue corretamente e que não haja obstáculos
físicos que possam desvirtuar a correta percepção das suas lições.
h)
Canto excessivamente pobre e recortado.
Desgraçadamente
costuma acontecer que alguns exemplares desenvolvam alguma carência de faculdades, derivado a fatores
externos, tais como a cópia ou a incorreta
atuação do criador (por exemplo, tapar os canários antes de cerrarem o canto). Não devemos confundir estes exemplares com aqueles outro que recortam
o canto quando estão a ponto de cerrá-lo, ou depois de o terem feito, já que, apesar de em ocasiões as causas
coincidam, a explicação torna-se impossível de se fazer na maioria das ocasiões,
pois há canários que sem causa aparente começam a encerrar-se numa parte do seu repertório, em detrimento da
outra, e já não é possível fazer nada para
remediá-lo. Referimo-nos unicamente a esses canários que no decorrer da
evolução do seu repasso nunca mostraram faculdades para o canto, apesar de não terem giros defeituosos ou negativos, para realizar um
canto rico e variado.
A
conduta a seguir nestes casos poderia
ser igual ao que referimos anteriormente, quando falamos da
educação com maestros. A única variante em relação ao que se disse é que não devemos
submeter os canários a uma obscuridade absoluta. A cortina apenas tira um pouco de luz, para que
a inibição do canto não seja absoluta. O objetivo consiste em que os canários assimilem giros do tutor, mas sem
perder o seu próprio canto, daí que a semelhança estrutural entre o canto do
maestro e a dos alunos deva ser a maior possível dentro do maestro e a dos alunos
deva ser a maior possível dentro das nossas possibilidades. Trata-se de enriquecer e não de substituir.
Recorde
o leitor que a educação com maestro é contraditório ao trabalho consequente da
melhoria genética dos nossos canários de canto.
Confeção das equipas: Um dos momentos mais bonitos e complexos,
da preparação desportiva dos canários de canto é, sem qualquer tipo de dúvidas,
a confecção das equipas. As equipas, como o leitor conhece, são lotes de quatro
canários de canto similar, em repertório ou registo tonal, que se valorizam atendendo à
soma das pontuações de cada um deles por separado e ao grau de harmonia
existente entre o seu canto. A habilidade de fazer uma boa equipa depende, em
certa medida, da sensibilidade musical que tenhamos, já que, acima de tudo, devemos
atender ao que o nosso ouvido determina.
As
equipas sairão, em principio, daqueles lotes de exemplares que colocamos juntos
quando os separamos em gaiolas de canto (vide supra ponto 3, no fim). Normalmente, os canários
que formam uma equipa realizam um repertório, mas há ocasiões que não acontece
isto. São dois, principalmente, os motivos que através dos quais se confeccionam equipas com exemplares de canto
diferente. O primeiro desses motivos é não ter pelo menos quatro canários que
cantem igual, o que costuma acontecer nos aviários onde se separam os canários em
diferentes voadores por irmãos, nem todos
os casais dão mais de três machos. O segundo motivo é a originalidade de alguns
criadores que, por causa da sua grande sensibilidade musical, procuram nas equipas
combinações canoras mais complexas que as que se conseguem com as equipas tradicionais,
que em ocasiões pecam com um excesso de monotonia.
Além disso, há canários que, pelas suas características particulares, não se podem
integrar numa equipa tradicional, já que apesar da sua qualidade individual, ao
cantarem os quatro exemplares não só não existe harmonia necessária sem que também, e como consequência deles, a qualidade
individual parece diminuir e fica prejudicada a valorização particular de cada um dos exemplares.
Trata-se de equipas nas quais os exemplares não conjugam as suas melodias harmoniosamente
e se produz um som confuso e monótono. Também existem exemplares que tem um ou vários
giros que se destacam acima dos outros,
por diferentes motivos, e quando se faz uma equipa com quatro desses canários parece que estão repetindo continuamente esses
giros (um claro exemplo disso são os exemplares que realizam o giro campainha,
sobretudo em variação conjunta com floreio de onomatopeia “tilón”).
6ª PARTE:
Convém
também ter exemplares de reserva para no caso de um dos quatro eleitos adoeça
ou morra, se bem que isto dependerá do número de exemplares que sejam compatíveis
com os da equipa em questão.
Se
tivermos que eliminar os exemplares defeituosos,
essa exigência multiplica-se no caso dos canários destinados a formar uma equipa,
em que deve primar a harmonia, a qual se rompe quando no canto de um dos exemplares
haja um giro negativo ou defeituoso.
Um
problema interessante é apresentado na colocação dos exemplares dentro da equipa.
Os exemplares colocam-se verticalmente, com
uma gaiola encima da outra, sendo a gaiola mais alta a que leva a primeira
letra, ou numero.
Esta
colocação está estabelecida para os canários
Roller e canários de canto Espanhol (TIMBRADO). Existem infinidades de teorias
que tratam deste assunto.
POSIÇÃO DAS
GAIOLAS SOBRE A
MESA
|
A ou
1
|
B
ou
2
|
C ou
3
|
D ou
4
|
Os
exemplares dentro da referida estrutura,
cada um deles, embora, procure atingir um mesmo objectivo devem conseguir que o
som seja uniforme e que a ligação entre os cantos dos integrantes da equipa seja
perfeito, resumindo, que a equipa tenha uma perfeita harmonia. Volto a defender
que, acima de qualquer teoria, é a sensibilidade musical do criador, que neste
caso concreto o levará a bom caminho. A colocação se realizará empiricamente, escutando
os canários e corrigindo as posições conforme o seu andamento. Contudo, dizer, que
a maior parte dos criadores colocam o exemplar de canto mais forte na posição
mais baixa, pois se o colocar noutra posição prejudica notavelmente os seus companheiros, se impõe a eles e rompe a harmonia
da equipa, e por vezes até provoca a inibição canora dos seus companheiros.
A
par desta modalidade temos a individual.
Os canários que competem nesta categoria costumam ser os melhores de cada aviário, não exemplares
para fazer equipas, por se considerarem mais meritórios, desportivamente a competição nesta
modalidade, pessoalmente, e sem menosprezar
a importância desportiva das equipas, considero minha preferida a modalidade individual, já que à
prior coloca todos os canários em igualdade
de circunstâncias, na hora de poder conseguir o triunfo, sem ter que depender da
pontuação do resto dos integrantes do lote a premiar. Hoje em dia, muitos
concursos incluem nos seus regulamentos um artigo que possibilita que os canários
daquelas equipas em que não tenham cantado os quatro exemplares passem à modalidade
de individual. É uma norma justa que pretende evitar que canários de grande
qualidade fiquem sem o prémio que
merecem, só porque a equipa em que estavam incluídos falhou, acontece algumas vezes, em concursos, o contra
senso de ficarem exemplares sem premiar,
incluídos em equipas que falharam e que até tem a maior pontuação que aqueles outros
que ganharam os prémios individuais. Uma vez que a equipa falhe, como tal, os exemplares
que a integram perdem, nesta situação não se aplica a referida regra, de terem
a possibilidade de conseguir prémio, salvo o Grande Premio, valha a redundância,
em concursos onde é concedido ao canário de maior pontuação do concurso.
Ultimamente,
está-se a permitir a participação de lotes de quatro canários individuais ao
mesmo tempo. É chocante que as associações desconheçam de tal maneira a norma
que impede os juízes de julgar lotes de quatro individuais, Código de Canto Espanhol (Timbrado). Não quero
entrar em polémicas sobre a conveniência ou inconveniência de tal prática, mas se o leitor reparar, pode-se dar o contra senso
de que os quatro individuais de um
criador cantem e que na equipa que ele mesmo
apresenta falhe algum exemplar (como é
normal em muitas ocasiões acontecer em concursos em que se pratica esta modalidade).
Não é mais justo o sistema, que anteriormente se viu, de passarem a individuais
os exemplares que cantaram em equipa e
em que falhou algum exemplar?.
Treino e preparação: O treino ou preparação dos canários de canto, como já
se referiu anteriormente, deve começar quando estes tiverem cerrado o canto, ou,
pelo menos, estejam perto de fazê-lo. É preciso, antes de entrar mais a fundo no
assunto, que falemos sobre a prática de
tapar os canários com uma cortina. A maioria
dos criadores apoiam, ou pensam que é assim, o treino é feito em tirar luz aos
canários com uma cortina, que se coloca
a uma distância prudencial das gaiolas de concurso, estantes, caixas
transportadoras, ou outros lugares onde estejam colocadas, com o fim de não prejudicar a ventilação
e evitar problemas com as vozes dos canários. O contraste entre a obscuridade ou
semiobscuridade e a luz, quando se tiram para serem escutados, incita-os a
cantar. A utilização da cortina, para tapar os canários, é uma prática, aplicada
a toda a canaricultura de canto, que se deve
realizar com o máximo cuidado, já que se
tapamos os canários antes que esteja cerrado o canto, a única coisa que conseguimos será atrasá-los
mais e, inclusive, fazer que recorte o seu reportório ou que tenha uma tonalidade
e intensidade de canto excessivamente pobre. Um
dos erros mais frequentes do criador principiante, é tapar muito cedo os seus pássaros.
Mas
tapar os canários não é imprescindível
para seguir um treino correto. De facto, tendo os exemplares sob condições ambientais que já
referimos, estes estão
já submetidos a uma semiobscuridade ou semipenumbra suficiente para quando os levarem à luz do sitio onde os escutamos seja o suficiente
para fazê-los cantar. Além disso, e jogar com é, sem dúvida, um método válido, em principio, para fazer cantar
os canários, se seguirmos uma observação continuada dos mesmo ficam acostumados à nossa presença, e bastará o fato
de sacá-los para que o mero instinto de territorialidade
os incite a cantar. A evolução gradual do
canto do canário, que defendemos, faz que não seja necessário tapar mais os canários
no caso de terminar a sua evolução em datas demasiado cedo às do concurso e evitar desta maneira que entrem demasiadamente em cio. A cortina deve
ser utilizada como um instrumento na hora de conservar o canto
já feito dos canários que, de outra forma, correm sérios riscos de não chegarem
em plenitude de faculdades aos
concursos, como consequência da evolução descendente em qualidade que leva
ao declínio do ciclo do canto.
Até
chegar o momento no qual os exemplares estejam em condições de começarem a ser treinados
limitamo-nos a sentarmo-nos em frente do lugar onde os tenhamos e escutá-los à
medida que forem cantando, não devemos escutar todos de uma vez mas concentrarmo-nos
em um ou vários exemplares para evitar enlouquecermos e podermos realizar uma observação
satisfatória. Se for possível, esta operação a faremos, de vez em quando, na companhia
de outra ou outras pessoas, para que os canários se acostumem plenamente à presença humana e tomem a confiança
suficiente.
Uma
vez que acreditamos ter chegado o momento de iniciar a preparação, começaremos a
tirar os canários por lotes, em individuais ou por equipas. Deveremos utilizar
para isso um espaço da habitação
silencioso e com boa acústica (recordemos o maestro dos maestros, Aza, quando escrevia
acerca da importância do espaço em que se escutavam os canários e o muito que podia
influir na audição e na impressão causada pelos mesmos, já que a qualidade dos exemplares
podia ser exagerada ou diminuída dependendo das condições acústicas da sala, é
esta a razão da capital importância que
se dá nos concursos à habitação
destinada ao julgamento. Utilizaremos preferivelmente a luz eléctrica, a utilizada nos concursos, já
que a luz solar, em alguns casos, excita em demasia os canários e não realizam o
seu canto com a serenidade desejável para, assim, apreciar a sua qualidade. As gaiolas de canto colocam-se numa mesa, uma encima da outra, e sobre a mais
alta colocamos uma tabuinha ou cartão, este detalhe , serve para
favorecer a concentração no canto do canário que nela, aparentemente sem importância,
é fundamental para a correcta audição dos canários. As primeiras vezes que levamos os canários à luz, estes, geralmente, ficam
desconfiados pela novidade da situação, começam a saltar nervosos de um poleiro
para o outro e a chamarem-se uns aos outros. Superada esta estranheza inicial começarão a desenvolver o seu repertório canoro. Não nos devemos
preocupar se não cantarem nas primeiras vezes que os levamos à luz, de certa
forma é normal, há canários que necessitam de mais tempo que outros para começarem
a cantar com a nossa presença. Todos os dias levaremos à mesa os nossos canários durante quinze ou vinte
minutos, o tempo dependerá de cada caso concreto (ter os canários cantando
durante muito tempo, o tirá-los demasiadas vezes por dia faz com que se acelere o seu estado de cio). Um sinal
que nos permite apreciar, em muitos
casos, se os canários vão cantar quando os levamos à mesa, é a atitude que adoptam,
se estão tranquilos as possibilidades de cantarem são muitas, se por outro lado saltam de um poleiro
para o outro nervosos e excitados, piando e movendo as asas, não cantarão e se o
fizerem fazem-no de forma precipitada e entrecortada,
interrompida por intervalos.
Sobre
que momento do dia em que é mais adequado para levar os canários a cantar, isto depende do tempo que tenhamos e quando o tenhamos.
O ideal é tirá-los para cantarem entre as nove da manhã e as oito da noite, horário
em que decorrem os julgamentos nos concursos. Não temos que tirar os canários todos os dias à mesma hora, de facto temos que tê-los habituados a cantar a qualquer hora e em qualquer
lugar. São poucos os concursos, ainda que hajam alguns, em que se permita ao
criador eleger a hora em que possa levar
à mesa de julgamento os seus canários. Se seguimos o indicado nos parágrafos
anteriores, um outro método válido, salvo alguns imprevistos, os nossos canários
cantarão quando chegar o crucial momento de passar pela mesa de julgamento.
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