UMA TAREFA DIFICIL I
Miguel Angel Martín Espada
Presidente C.T.C. Saragoça
Tradução: Diogo Santana
Presidente C.T.C. Saragoça
Tradução: Diogo Santana
Antes de começar, é preciso esclarecer que não pretendo dar uma aborrecida e magistral lição, nem, sequer , subir ao pódio. Vou expor um conjunto de ideias tão válidas como qualquer outro, o maior ou menor grau de sucesso poderão vós mesmos comprová-lo na prática, também quero deixar claro que isto é fruto do trabalho em equipa que tem levado a cabo os criadores que fazem parte do Clube Timbrado Cidade de Saragoça, visto que o nosso principal objectivo, não é ganhar prémios ou vender canários, longe disso, é contribuir, na medida das nossas modestas possibilidades, para a melhoria da raça e para a formação técnica e prática dos criadores timbradistas.
Antes de mais quero pedir desculpas àqueles que educam os seus canários com maestros adultos, já o que aqui se diga, muito provavelmente, não lhes vai servir de muita ajuda, sendo que se tratam de conclusões obtidas por criadores que não só praticam a educação com maestros assim como a consideram totalmente contra produtiva para a melhoria genética da raça. O que pretendemos, acima de tudo, é melhorar o acervo genético dos nossos canários para que, sem a referência de padrões determinados de canto de canários adultos (maestros voluntários ou involuntários), sejam capazes de emitir canções que nos satisfaçam, independentemente do tipo de giros que mais nos agrade, visto que os nossos particulares gostos musicais determinarão os objectivos a cumprir (o tipo de canto que queremos que os nossos canários emitam) e os métodos de seleção necessários para a sua realização.
Chegados a este ponto, devemos fazer referência já aos dois pontos fundamentais de que falamos na difícil tarefa de conseguir bons cantores:
1º) "O nosso objectivo é conseguir canários que, dentro dos parâmetros estipulados pelo standard da raça e através de uma boa e melodiosa voz, sejam capazes de compor, com boa dicção e total mestria musical, evidenciando através do pleno domínio das suas faculdades vocais e amplo registo tonal, uma série ou séries de giros o mais ricos e variados possíveis, atendendo às suas limitações orgânicas e fisiológicas, e sem nunca antepor a quantidade à qualidade ".
2º) "O que o canário herda é a predisposição inata para realizar uma série indeterminada, mas determinável, de giros, que se vão formando numa melodia ao longo do repasso, marcado pela morfologia, mais ou menos idónea, do exemplar e pelos factores que o rodeiam durante o processo da sua maturidade".
Tendo em conta tudo isto, cabe ao criador definir os objectivos concretos e os métodos que veja mais adequados para a sua realização. Assim, e a titulo de exemplo, partindo do objectivo genérico definido no primeiro ponto, poderemos optar, segundo os nossos gostos musicais e dentro das possibilidades que nos permite a amplitude do standard da raça, por criar exemplares de canto completo, no sentido de emitirem quantos mais giros dos que formam a dita ficha de julgamento melhor (não confundir canto completo com canto variado), ou por bem criar exemplares em cujo canto primam, quantitativa e qualitativamente, os giros de ritmo não continuo e, portanto, que concentrem a pontuação do seu repertório nas casas de maior valor musical (Floreios) da ficha de julgamento. Tendo em conta a ficha de julgamento do Timbrado Espanhol e que a pontuação máxima é de 100 pontos, imaginemos qual poderia ser o canário ideal para três criadores diferentes: A, B e C.
Suponhamos que A, é madrileno, e que gostaria de ter exemplares de canto completo, que C, é de Saragoça, e que gostaria de ter exemplares com uma base de canto em giros de ritmo não continuo e que B, que é andaluz, e que gosta de um tipo de canto intermédio mas com predomínio de giros de ritmo não continuo:
A, B e C tem como objectivo a obtenção de um tipo de canário de canto Timbrado Espanhol de acordo com as suas preferências pessoais e como o standard da raça, apesar das notáveis diferenças que encontramos nas suas fichas de julgamento ideais, as três visões da raça são igualmente válidas. A visão B é actualmente a maioritária entre os criadores de Timbrado de F.O.C.D.E., que como se pode ver separa-se um pouco do tipo de canário que prima nos concursos, apesar de se reconhecer que os criadores do C.T.C.Z. se identificam mais com C.
Isto significa que se a balança se inclina para o lado dos giros de ritmo continuo o peso da canção dos de ritmo descontinuo diminui e vice-versa.
A máxima expressão do que se disse alcança-se no canário Roller, cujo canto moderno foi seleccionado pelos alemães com base na especialização e domínio nos giros de ritmo continuo, constituindo estes a base da canção de todos os exemplares da raça e, certamente, são as belas, delicadas e inigualáveis, desde o ponto de vista musical, as modulações que imprimem a seus rulos o que mais chama à atenção ao ouvinte (e talvez o que alguns dos pais da nossa raça nacional de canto quiseram imitar no Timbrado quando nos primeiros Códigos, e tal como se lê ainda hoje no de F.O.E., se diz que os timbres de ritmo continuo são a base do canto Timbrado Espanhol e que são eles que conferem a personalidade à raça [talvez por esse motivo se negou o reconhecimento internacional em 1956, quando se considerou, por parte da comissão de especialistas internacionais que o examinaram, que se tratava do produto não refinado de cruzamentos com o Roller]. A especialização do Roller envolveu a redução ao mínimo o seu repertório segundo a ficha de julgamento (pelo menos na linha oca clássica) (1).
Como já se disse, partindo do seu canto ideal, cada um dos criadores tratará de traçar os métodos que o levem a conseguir os seus objectivos ou, pelo menos, à obtenção de exemplares que emitam um canto o mais próximo possível ao modelo que persegue. Para isso, e supondo que o lugar (ou lugares) em que vamos ter os nossos canários reúna todos os requisitos (2), é imprescindível:
1º) Fazer uma cuidadosa seleção de reprodutores, atendendo aos caracteres que queremos que primem em nossos canários.
2º) Elaboração dos cruzamentos, de acordo com a seleção de reprodutores efectuada e com o objectivo de potenciar à descendência os caracteres que desejamos.
3º) Extremar as atenções e cuidados de nossos canários antes, durante e depois da criação, para que desfrutem de um estado de saúde perfeito e que possamos tirar o máximo partido deles em cada uma das fases do seu ciclo vital.
4º) Favorecer condições ambientais propicias para o desenvolvimento canoro dos jovens, evitando, especialmente, que possam escutar exemplares adultos de cópia.
Na prática, o trabalho de todo o criador de canários de canto pode ser concebido como um ciclo que consta das seguintes fases:
1ª) Seleção de reprodutores.
2ª) Elaboração de cruzamentos e criação.
3ª) Voador.
4ª) Separação em gaiolas de canto e maturação do canto.
5ª) Treino e Concursos... e torna a começar
Cada uma das fases condiciona e marca as seguintes, por isso é de suma importância não se descuidar em nenhuma e tratar de conseguir os melhores resultados possíveis em todas e cada uma delas. Em cada fase existem alguns objectivos a cumprir, se falhamos num deles estamos irremediavelmente condenados ao fracasso.
UMA TAREFA DIFICIL II
1. - Seleção de reprodutores.
1.1. - Introdução.
Penso que é desnecessário explicar o motivo da importância da seleção de reprodutores na criação não só da nossa raça assim como de outro tipo de animais. Ao contrario do que acontece no estado selvagem, onde se leva a cabo uma seleção natural dos mais aptos, e na criação em grandes voadores, onde apesar de se poder eleger os reprodutores (seleção artificial) faz-se uma criação à sorte, na criação em cativeiro recai sobre o criador a tarefa de seleccionar os exemplares reprodutores e formar os casais para aproveitar e desenvolver o máximo as virtudes que estes possuem.
Se bem que todas as fases do ciclo que fazem parte da criação selectiva de canários de canto são importantes, mas é a seleção de reprodutores que representa a base de todo o trabalho, se erramos nesta fase o mais provável é que nos falte o porte genético adequado e, por muito bem que façamos o resto das coisas, estamos irremediavelmente condenados ao fracasso.
A experiência, normalmente, determina o grau de autonomia do criador na hora de seleccionar os exemplares com que vai criar, contrariamente para o principiante é praticamente impossível superar a sua inexperiência apenas com os conselhos teóricos que aqui vamos escrever, já que apesar de oferecermos de forma clara e precisa algumas das regras básicas que se tem que ter em conta na selecção dos reprodutores, sem o concurso ou ajuda de criadores veteranos de pouco ou nada serve o que aqui se diga. A principio, o sucesso de um criador avalia-se em relação directa à lealdade dos criadores que lhe ensinam, é mais importante nestes primeiros anos a qualidade técnica dos seus “professores” que a qualidade genética que os seus canários possuem, de nada lhe serve ter adquirido exemplares com uma alta qualidade confirmada, senão souber tirar o máximo partido deles.
Contudo, muitos criadores veteranos são incapazes de seleccionar adequadamente os seus reprodutores e de elaborar os cruzamentos, apesar de contarem com muitos anos de experiência, conhecimento do canto, da raça, sensibilidade musical e bastante mestria nas técnicas de preparação mais adequadas para cada uma das fases que atravessam os jovens canários desde que começam a emitir a sua subcanção até, passarem pela fase de repasso ou canção plástica e chegarem a cerrar o canto.
Nestes casos é onde deve entrar em jogo a entre ajuda dos criadores, característica principal das pequenas associações ou clubes especializados, cujo principal objectivo é a melhoria da raça (no seio deste tipo de grupos de criadores costuma-se desenvolver uma canaricultura sã e solidária baseada na confiança e boa fé reinante entre os seus membros). A existência deste tipo de associações explica o porquê de muitos criadores começarem, mesmo apesar da sua inexperiência, a alcançar êxitos logo no princípio da sua actividade como criadores. Conquistas estas que sem os concursos e a ajuda dos criadores mais experientes que integram estas associações, levariam anos a chegar, sempre cansados de comprar canários todos os anos e de receber temporada após temporada conselhos e informações contraditórios sem obter qualquer resultado, ao ponto de chegarem a atirar a toalha ao chão e dedicarem-se a criar outras variedades ou, inclusive abandonarem exaustos esta “afición”.
1.2.- Objetivos
Recordemos que no capítulo anterior de "Uma Tarefa Difícil" falamos dos objectivos a cumprir e então dissemos:
"Nosso objectivo é conseguir canários que, dentro dos parâmetros estipulados pelo standard da raça e através de uma boa e melodiosa voz, sejam capazes de compor, com boa dicção e total mestria musical, evidenciado através do pleno domínio das suas faculdades vocais e amplo registo tonal, uma série ou séries de giros o mais ricos e variados possíveis, atendendo às suas limitações orgânicas e fisiológicas, e sem antepor nunca a quantidade à qualidade ".
Este objectivo é comum a todos os criadores de canários de canto, independentemente da raça que possam criar.
1.2.1. Parâmetros do canto segundo o standard da raça
É fundamental definir, segundo o standard de cada raça, o tipo de canto que queremos que emitem os nossos canários. Já dentro da nossa raça, podemos encontrar três abordagens diferentes de como devem estar formadas as canções dos canários, atendendo aos giros presentes na ficha de julgamento. Resumindo falamos de :
1º) Criadores que procuram canções nas quais intervenham todos, ou a maior parte possível, dos giros presentes na ficha de julgamento e que poderiam ter como ideal a seguinte ficha de julgamento:
2º) Criadores que seleccionam as canções de seus exemplares com base nos giros de ritmo não continuo, apoiando-se a variedade do repertório em múltiplas formas de expressão de giros de texto fonético ilimitado e cuja ficha de julgamento ideal seria a seguinte:
3º) Por último, aqueles que preferem canções intermédias, entre as duas preferências anteriores, procurando a inigualável beleza dos giros de ritmo não continuo e texto fonético ilimitado sem renunciar à presença do ritmo continuo. Sua Ficha de julgamento ideal poderia ser assim:
Não restam dúvidas que de gostos não há nada escrito e que a amplitude do standard permite que sobre estas três variantes genéricas possam existir tantas fichas de julgamento ideais como criadores.
Em seu momento também se indicou qual era a postura com a que se identificavam os integrantes do Clube Timbrado Cidade de Saragoça, dado que o presente artigo vai dirigido àqueles criadores que partilham a nossa forma de entender o Canário de Canto Espanhol, será a segunda ficha de julgamento acima referenciada a qual tomaremos como objectivo de a conseguir, assim a nossa ficha de julgamento ideal é:
No Clube Timbrado Cidade de Saragoça tratamos de conseguir o objectivo de todo o criador de canários de canto, através da seleção do canto de nossos canários com base na melhoria dos giros de ritmo não continuo, principalmente dos descontínuos, eliminando dos nossos aviários os exemplares que utilizem como apoio e/ou base nas suas canções os giros de ritmo continuo (timbres metálicos e variações rodadas) e inclusive, no caso dos criadores mais rigorosos e exigentes, excluir como reprodutor todo aquele exemplar que emita algum giro de ritmo continuo no seu canto. A especialização nos giros de ritmo não continuo implica um desenvolvimento inesperado das faculdades de criação canora de nossos canários, conseguindo-se, com tal variedade de giros e com o inigualável e inato talento musical do Canário de Canto Espanhol, uma canção que resulta praticamente impossível de não ser premiada e perguntar-se como é possível que uns animaizinhos tão pequenos sejam capazes, por si próprios, compor tão belas e delicadas melodias sem nenhum tipo de educação artificial de canto. Evidentemente, são poucos os canários capacitados para emitir este tipo de canto, menos que aqueles que desejaríamos ter, mas todos os anos são mais os exemplares que sobressaem e passam ao duro crivo selectivo a que são submetidos.
Concretizando ainda mais o nosso objectivo inicial, pretendemos alcançar canários de forma inata e sem a ajuda de exemplares adultos, baseando-se o seu canto na riqueza e variedade de giros de ritmo não continuo, com predomínio dos de texto fonético ilimitado (floreios, floreios lentos e variações conjuntas), e através de uma boa e melodiosa voz
(*1), sejam capazes de compor, com boa dicção e total mestria musical, evidenciando através do pleno domínio das suas faculdades vocais e amplo registo tonal, uma série ou séries de giros o mais ricos e variados possíveis, atendendo às suas limitações orgânicas e fisiológicas, e sem antepor nunca a quantidade à qualidade ".
(*1), sejam capazes de compor, com boa dicção e total mestria musical, evidenciando através do pleno domínio das suas faculdades vocais e amplo registo tonal, uma série ou séries de giros o mais ricos e variados possíveis, atendendo às suas limitações orgânicas e fisiológicas, e sem antepor nunca a quantidade à qualidade ".
Convém recordar também algo que já dissemos anteriormente e que é de capital importância no nosso trabalho selectivo: "O que o canário herda é a predisposição inata para realizar uma série indeterminada, mas determinável, de giros, que se vão formando numa melodia através de um período de repasso, marcado pela morfologia, mais ou menos idónea, do exemplar e pelos factores que rodearam o mesmo durante o processo de maturidade". Nós trabalhamos na melhoria dessa predisposição inata ou padrão genético de canto seleccionando e utilizando como reprodutores somente aqueles exemplares procedentes de famílias com uma base de canto apoiada em giros de ritmo não continuo e que, neste caso dos machos, demonstrem claramente as suas aptidões canoras nessa direção de canto.
1.2.2. A voz
É evidente que a base de todo o canário de canto é a sua voz. Uma boa voz implica um aparelho de canto perfeito, mecanismo de produção sonora verdadeiramente complexo e envolvendo uma multiplicidade de órgãos.
Na siringe encontramos um complexo mecanismo accionado por um sofisticado sistema muscular (*2) que, unido à ação da pressão externa do ar contido no saco aéreo inter clavicular (que envolve a siringe e provoca que esta se encontre num ambiente neumático), permite que umas membranas, denominadas timpaniformes (*3), se apertem e, ao passar o ar expulsado desde os pulmões, vibram produzindo o som (*4). O tom ou frequência do som poderá variar pela ação dos músculos que enervam a siringe através da maior ou menor tensão das membranas timpaniformes. O som passa depois à traqueia, onde também pode ser modificado, tradicionalmente defendeu-se que o tom do som pode ser variado na traqueia através do alongamento ou contração desta, se bem que os cientistas não dão demasiado valor a esta afirmação (*5). A sua passagem pela laringe, segundo a sua maior ou menor abertura, também pode sofrer modificações no tom.
Finalmente, o som chega à cavidade bucolingual, onde se acredita *6 que se produza a sua articulação definitiva e a sua transformação nos diferentes sons que nós percebemos e que, segundo a sua duração, estrutura e complexidade, denominamos por chamadas, gritos ou cantos (*7). Destacar o papel da caixa de ressonância que realiza o esófago (que quando se enche de ar, dá lugar ao denominado buche de canto, pode actuar sobre a parte superior da traqueia, modificando desta forma o tom).
Seguindo o famoso "Tratado de Canaricultura Roller" de Evaristo Fratantoni, alguns autores espanhóis e inclusive algum Código de Canto citam como factores fisiológicos que influem no tom dos sons produzidos pelo canário as seguintes:
Notas:
1 Quando falamos de vozes costumamos juntar um adjectivo que faz referência às suas características sonoras ou, dito de forma mais correcta, a sua cor ou timbre, assim falamos de vozes brilhantes, metálicas, ocas, graves, aquosas, tendenciosas ou rosnantes, doces, aflautadas, etc. O timbre determinará o instrumento, o aparelho de canto, dai as diferenças entre as três raças de canto internacionalmente reconhecidas, visto que a especialização das vozes favorece o predomínio no canto daqueles giros cujo timbre ou cor coincida em maior medida com a característica da raça. O canário Roller está seleccionado com cores ocas e graves (não confundir com tons graves) e domina especialmente os giros de timbre oco, o Malinois, seleccionado com timbres aquosos, os seus giros são caraterizados, giros de água; e o canário de Canto Espanhol, que se destaca nas cores brilhantes e metálicas, a execução dos seus giros é dominada por uma textura metálica. Isso não quer dizer que estas raças, dentro das características próprias de seus aparelhos de canto especializados, não podemos falar ao mesmo tempo de especializações para timbres diferentes dentro daquilo que pode permitir o genérico da raça e sem entrar no timbre identificativo de outras raças. Assim, encontramos nos Roller linha Gluck, ou de água. Por fim, dentro da nossa raça e segundo as preferências do criador, encontramos linhas especializadas em floreios aflautados, floreios de rinha, giros compostos com água, etc., etc. Em definitivo, um predomínio de giros nas canções que, como consequência directa da especialização, significa que o criador realize nos seus exemplares uma seleção procurando vozes (e os órgãos que as produzem) mais idóneas para conseguir o seu tipo de canto preferido.
2 Distinguimos entre os músculos que actuam no funcionamento da siringe dois músculos externos, o esterno traqueal e o lateral traqueal, e cinco pares de músculos intrínsecos. Discute-se entre os cientistas quais destes músculos são os responsáveis pelo funcionamento da siringe. Para os defensores do modelo de funcionamento passivo (Miskinen) seriam os músculos esterno traqueal e lateral traqueal os que determinam o funcionamento da siringe. Para os defensores do Modelo de funcionamento activo (Chamberlain) o peso do funcionamento da siringe recairia nos músculos intrínsecos. Por último, há autores que consideram que ambos os modelos são insuficientes, por si só, para explicar satisfatoriamente o complicado funcionamento da siringe.
3 Distinguimos membranas timpaniformes internas e externas, um jogo em cada uma das metades da siringe. Parece ser que no canário o papel fundamental na produção sonora é desempenhado pelas membranas timpaniformes internas.
4 Evidentemente que a pressão do ar expulsado deve alcançar um determinado umbral ou valor para fazer vibrar as membranas timpaniformes e, portanto, produzir som, em caso contrario resultaria praticamente impossível para a ave controlar a emissão sonora. Quanto maior a pressão de ar expulso maior volume ou intensidade terá o som.
5 Parece ser que para produzir algumas das modulações tonais que os canários e outras espécies de passeriformes realizam com a traqueia, esta deveria ser muito mais larga ou, quando menos, a possibilidade de se alongar em maior medida.
6 Ainda que desconheçamos como se produz exactamente a articulação sonora, apenas temos que ver os movimentos do bico de nossos canários para chegar à conclusão de que a cavidade bucolingual intervém de alguma maneira na produção desses sons que, por analogia onomatopeica, dizem que estão formados por consoantes e vogais. No dia que soubermos como se produz a articulação dos sons no canto dos pássaros, seja bucolingual, lingual ou palatina, gutural, etc., teremos dado um grande passo científico.
7 Os sons musicais emitidos pelo pássaro já sabemos que se caracterizam por um tom, uma intensidade e um timbre ou de determinada cor. Há que ter em conta que o ar também actua como filtro nos sons, pelo que se deve ter presente a sua influência ao se analisar como se percebe ao nosso ouvido o som, da mesma forma que terão que se analisar as propriedades acústicas do meio em que o som se transmite (fenómenos de reflexão, refracção, reverberação, etc.).
COMO CONSEGUIR BONS CANTORES
O
diâmetro dos brônquios. - Os brônquios largos determinam uma perda de
velocidade na expulsão do ar, por outro lado os brônquios estreitos expulsam o
ar com mais velocidade.
· A longitude do músculo esterno traqueal. - Quando
este é curto impossibilita o alongamento da traqueia. Uma traqueia curta ou que
não se alarga com facilidade eleva o tom do som.
· A rigidez nasparedes da traqueia. - Que ao aumentar
faz igualmente aumentar o tom do canto.
· A posição da laringe. - Já que a laringe apesar de
não ter cordas vocais, pode obstruir-se ou abrir-se e modificar assim o tom(*8).
Já temos visto que os cientistas não
concordam plenamente com as observações de Fratantoni, mas será conveniente
citá-las para que o leitor as conheça.
NUCLEOS CEREBRAIS QUE INTERVÉM NA FUNÇÃO CANORA
O complexo mecanismo canoro que acabamos de descrever é controlado pelo sistema nervoso central - vid. setas negras figura 4.a) -, destacando dois núcleos cerebrais principais localizados no telencéfalo: o centro vocal superior (CVS, cujas siglas em inglês são HVC) e o robustus archistrialis (RA), que através da rede neuronal, nervo cranial XII ou grande hipogloso, situado no bolbo raquídeo, e dos nervos hipoglosos (também chamados traqueio-siringiais), enviam a sua informação aos músculos que permitem a produção do som na siringe. Junto a estes núcleos cerebrais encontramos outros, conectados de uma ou outra forma com um ou com ambos dos principais. Destacam entre estes o nucleus magnocellularis medio (MMAN) e o nucleus magnocellularis lateral (LMAN), situados também no teleencéfalo e conectados neuronalmente com o CVS, o primeiro, e com o RA, o segundo, o LMAN joga um papel importante na aprendizagem do canto e o seu desenvolvimento motor. Outros núcleos cerebrais de importância no canto são o nucleus intercollicularis (ICO), situado no mesoencéfalo, conectado com o RA e o nervo craneal XII, o nucleus interfacial (NIF), conectado ao CVS, o UVA, conectado com o CVS; e o área cerebral X, conectada com o CVS. A proximidade de algum destes núcleos com os centros auditivos do cérebro relaciona-se pelos estudiosos com a capacidade de memorização e aprendizagem dos pássaros e o posterior desenvolvimento motor do memorizado - figura 4.b)-. De facto, recentes estudos propõem um duplo mecanismo na memorização das canções: o primeiro consiste na memorização baseada na expressão motora do canto (ou, o que é o mesmo, memorização do canto através do seu ensaio e desenvolvimento vocal, manifestado através da canção plástica ou repasso), o segundo baseia-se no armazenamento na memória dos cantos escutados pelos canários. Ambos mecanismos inter relacionam-se, visto que um jovem canário privado do sentido do ouvido é incapaz de desenvolver uma canção normal, o que demonstra que o pássaro tem que poder ouvir as suas próprias vocalizações para memorizá-las adequadamente e compor com as mesmas o seu canto.
Os cientistas, entre os quais se destaca Fernando Nottebohm (ao que devemos a maior parte dos estudos sobre o controle neurológico no canto do canário demonstraram um claro dimorfismo sexual no tamanho destes núcleos cerebrais, especialmente do CVS e do RA. O volume do CVS e do RA é muitíssimo maior nos machos que nas fêmeas. Também se mostra que o tamanho destes núcleos está directamente relacionado com o nível de hormonas no sangue, concretamente da hormona masculina: a testosterona, quanto maior é a taxa hormonal, maior é o volume destes dois núcleos cerebrais (*9). Também tem sido relacionado o tamanho destes núcleos cerebrais com a maior ou menor complexidade, variedade e duração do canto: maior volume, maior capacidade canora. Embora o facto de que um canário possua um CVS e um RA muito volumosos não implica necessariamente uma maior riqueza canora, mostra apenas as faculdades que o canário não pode desenvolver (*10).
Voltando aos nervos hipoglosos, que, como temos visto, são os encarregados de transmitir a informação gerada no cérebro à siringe, dizer que o hipogloso dereito controla a parte direita da siringe e o hipogloso esquerdo a parte sinistra. Isto explica para os cientistas o funcionamento independente de cada um dos lados da siringe, com tudo o que isso implica.
Seja como for, os cientistas demonstraram que a intervenção na função canora de cada um dos lados da siringe é diferente, sendo sobre o lado esquerdo o que recai o maior peso na produção sonora no caso do canário e a maioria dos passeriformes (controle vocal lateralizado com dominância do lado esquerdo).
Os estudos realizados demonstram que se se secciona o nervo hipogloso dereito só se perdem alguns elementos da canção, que são substituídos por ruídos ou por silêncios, por outro lado, se se secciona o nervo esquerdo desaparecem a maioria dos motivos da canção. Os efeitos da secção do hipogloso esquerdo variam segundo a fase do desenvolvimento do canto em que nos encontremos:
- Subcanção: Após um breve período de tempo, o jovem passarito retoma as suas emissões sonoras com normalidade, a ave substitui a perda funcional do nervo esquerdo com o direito. O nervo esquerdo não se regenera, ainda que haja excepções que confirmam a regra e, afortunadamente para nós, uma delas é o canário. Se se secciona o nervo esquerdo entre o decimo terceiro e o vigésimo sétimo dia de vida, o nervo se regenera e ambos os lados da siringe compartem a produção sonora (haverá sons emitidos pela parte direita, sons produzidos pela parte esquerda e outros, um terço aproximadamente, em cuja produção intervém ambas as partes).
- Canção plástica: O pássaro permanece para a vida nesta fase do canto, sem chegar a cristalizar um canto de adulto estereotipado. O canário volta a ser uma excepção, visto que é capaz de substituir a perda do lado esquerdo com o direito e chegar a cerrar o canto como um adulto qualquer.
- Canção estável: Os sons produzidos pela parte esquerda são substituídos no canto por silêncios ou ruídos.
Na procura das propriedades das melhores vozes e aptidão canora, os criadores de canários tem seleccionado a morfologia de nossos canários procurando características presentes e observáveis empiricamente na maioria dos cantores de qualidade:
- Cabeça grande.
- Amplitude torácica.
- Tamanho ou volume médio.
- Posição de canto horizontal (*11).
As três primeiras características morfológicas parecem, à vista dos estudos citados, que poderiam ser tomadas como indícios de uma maior capacidade cerebral, um sistema respiratório mais desenvolvido e cantos de tonalidades medias, mais musicais, nem muito agudos nem muito graves (*12).
1.2.3. Conclusões
1ª) Devemos procurar a perfeição das vozes dos nossos canários. O timbre de voz deve ser rico e de acordo com as características do tipo de giros que pretendemos desenvolver no repertório de nossos canários. Deve possuir, e poder desenvolver, um registo tonal quanto mais amplo melhor. Além disso, deve poder desenvolver o canto com a intensidade apropriada em cada momento da canção, com faculdades para moldá-la e dar ao canto as mais delicadas nuances musicais. Os sons emitidos pelos nossos canários devem ser limpos e nítidos, com uma excelente dicção (devem predominar os sons vocálicos, mais musicais que os consonânticos) e com a duração justa para poderem ser apreciados sem causar monotonia ao ouvinte.
2ª) Trataremos de conseguir exemplares cujo canto se aproxime o máximo possível à nossa ficha de julgamento ideal. Para consegui-lo, devemos trabalhar o padrão inato de canto dos nossos canários mediante o desenvolvimento da predisposição à emissão de cantos baseados em giros de ritmo não continuo, principalmente nos descontínuos, pois o predomínio na canção dos giros de ritmo semi-continuo conferiria ao canto uma sensação de precipitação que resultaria na clara perda de musicalidade.
1.3.- Método de seleção. Seleção integral de reprodutores
Existem diferentes métodos de seleção que o criador utiliza segundo os objectivos a cumprir. No presente trabalho vamos debruçar-nos por um método de seleção integral, que combina a seleção fenotípica, a funcional e a genética.
É verdade que o nosso objectivo principal é o canto e, além disso, com um determinado tipo morfológico que favorece a aptidão canora, também são de suma importância a seleção genética na criação de uma boa linha de cantores e a seleção funcional, visto que sem umas boas condições orgânicas, sanitárias e de vitalidade não é possível um desenvolvimento satisfatório do canto.
Por seleção fenotípica entendemos que é aquela seleção realizada em função dos caracteres perceptíveis pelos nossos sentidos (*13) e cujo padrão ideal representam os objectivos que já temos visto (*14, 15).
Por seleção funcional, se entende a que se realiza procurando um correcto funcionamento orgânico e fisiológico, assim como um estado sanitário perfeito em nossos exemplares. Estas características nos facilitam a criação, visto que o valor como reprodutores dos exemplares se avalia no valor funcional. A modo de exemplo citaremos alguns dos parâmetros que se utilizam para avaliar o valor funcional dos reprodutores atendendo às suas características individuais e familiares: caracteres dos recém-nascidos e índice de sobrevivência, crescimento, desenvolvimento, salto do ninho e idade de separação dos pais, vitalidade, resistência às enfermidades, comportamento reprodutor, fertilidade, etc. As fichas de criação facilitam o valor funcional, quantos mais dados se recolherem maior será a sua utilidade (*16).
Por último, chamamos seleção genética à realizada em função do valor fenótipico e funcional dos ascendentes dos exemplares objecto de estudo e, além disso, em caso de que se trate de exemplares adultos, da descendência (o denominado teste da ninhada). Também se podem valorizar as características fenótipicas e funcionais de outros exemplares aparentados e sua descendência (irmãos, primos, sobrinhos, etc.). Também não podemos esquecer a análise do grau de consanguinidade, distinguindo, ainda que a realidade seja mais complexa, entre a consanguinidade estreita (entre parentes de 1º e 2º grau), media (entre parentes de 3º e 4º grau) ou distante (de 5º grau em diante) (*17). Não confundir o grau de parentesco com a taxa ou índice de consanguinidade, esta última calcula-se mediante complicadas fórmulas matemáticas, difíceis de aplicar em nosso caso pela complexidade dos cruzamentos consanguíneos que costumamos realizar.
O instrumento mais adequado para realizar o valor genético de um exemplar, de uma família ou de uma linha de canto consanguíneo é o seu pedigree (*18). Tal como acontece com a ficha de criação, quantos mais dados contenha mais útil será, em caso contrário apenas será uma relação de números úteis para o criador que a confecciona mas sem sentido na maior parte dos casos para os outros.
O peso de um ou outro tipo de seleção dentro do método integral pelo qual optámos dependerá muitas vezes daqueles aspectos a melhorar em nossos canários. Por exemplo, quando em nosso aviário começarmos a ter problemas graves durante a criação, devido à redução da capacidade reprodutora ocasionada pela seleção fenótipica e genética em detrimento da funcional, vamos ter, a dor de perder tudo o que conseguimos ao longo de muitas temporadas, que potenciar durante uns anos a seleção funcional dos exemplares com maior aptidão reprodutora.
Em ocasiones, apesar de exemplares de canto insatisfatório e com a finalidade de não perder o porte genético de uma linha que nos demonstrou de forma notável o seu valor canoro, prevalecemos o valor genética sobre o fenótipico.
1.4.- Seleção de machos
A seleção dos machos deve-se realizar, aplicando o que já vimos, em função dos seguintes parâmetros:
1º) Ausência de educação do canto com maestros ou meios electrónicos.
2º) A perfeição da voz, a que é inerente um timbre ou cor e um registo tonal determinados, como manifestação de um aparelho de canto idóneo e de um bom estado de saúde.
3º) O domínio das faculdades vocais, revelado através do correcto controle do tom e intensidade do canto e de uma boa dicção.
4º) A aptidão ou talento musical, manifestada através da emissão pausada, rítmica e melódica, assim como da riqueza nas modulações de tom e intensidade do canto e dos diferentes giros ou variações que, com uma duração adequada, formam a canção ou canções do canário.
5º) A emissão de um repertório variado, baseado nos giros de ritmo não continuo, com base nos descontínuos de texto fonético ilimitado (floreios, floreios lentos e variações conjuntas) e com o complemento de outros giros de ritmo não continuo como os cloqueios e uma pincelada mínima de giros de timbre aquoso (preferivelmente agua lenta e com semi-ligada em variação conjunta com cloqueios) (*19).
6º) A ausência no repertório de giros negativos (riscada, estridências e nasalidade); degenerativos (aqueles que em seu texto fonético predominam fonemas propensos à riscada, estridência ou nasalidade, tais como as consoantes Ch, R y G; e as vogais E, I e A, quando não são acompanhadas de outros fonemas que suavizem o seu som), e de giros de ritmo continuo (*20) (ou pelo menos que não formem parte básica na estrutura da canção nem sirvam como giros de apoio (*21), quando um exemplar emite um giro de ritmo continuo de duração curta, ao inicio ou no final da canção, ou como o arrastamento continuo de um floreio ou variação conjunta acabado em R, sem prejuízo dos giros de ritmo descontinuo, podemos tolerá-los, embora se na descendência desse exemplar aumente a presença quantitativa de giros de ritmo continuo teremos que retirá-lo da criação, visto que nos encontramos perante um desvio de um tipo de canto que pretendemos obter). É preferível como reprodutor um exemplar de repertório de canto repetitivo e pouco variado, carente de defeitos, que outro de repertório rico e variado mas com defeitos.
7º) Papel ou rol hierárquico desempenhado no voador (exemplar dominante ou não dominante) (*22).
8º) Um tipo morfológico adequado (cabeça grande, amplitude torácica, espalda larga, tamanho médio, patas curtas, plumagem lisa, compacto e de cor brilhante...) e uma postura de canto adequada (horizontal). Segundo Giorgio de Baseggio, o macho transmite à sua descendência, em nove de cada dez casos, as seguintes características:
- Tamanho (grande, medio ou pequena).
- Cor e qualidade da plumagem.
- Porte (posição na que o exemplar exibe a beleza harmónica do seu tipo morfológico na gaiola).
9º) Ainda que implícito nos pontos anteriores, estado funcional e sanitário perfeito.
10º) Uma ficha de criação e de pedigree que avaliam a presença de todas as características fenótipicas, genéticas e funcionais expostas anteriormente nos progenitores, descendentes (se é um exemplar adulto) e outros membros da família, como garantia da sua herança e passá-las às seguintes gerações.
O conhecimento de todos estes parâmetros só será possível no suposto dos exemplares a seleccionar serem do nosso aviário ou de algum amigo canaricultor de plena confiança. No resto dos casos deveremos confiar na boa fé e transparência do criador do que pretendamos adquirir os exemplares.
Ao eleger um macho de outro aviário é tão importante a correcta audição e análise do canto como o conhecimento dos factores ambientais de que está rodeado desde o seu nascimento até à sua maturidade (ausência de maestros, audição de outros exemplares do criador, conhecimentos do criador, locais, alimentação, etc.) e, naturalmente, das ficha de criação e pedigree (com exame, se for possível, do canto e do fenótipo dos exemplares (*23) que no mesmo aparecem).
Não selecionar nunca como reprodutor um macho de que não tenhamos plenas garantias do seu valor genético, por muito bom que seja o seu canto. Tenhamos presente que se foi educado com maestros não teremos nenhuma garantia do tipo de canto que está predisposto (há linhas seleccionadas especificamente pela sua capacidade de cópia e às que se pode educar com exemplares de uma ou outra linha de canto, sem nenhum tipo de problema derivado da especialização canora operada nas linhas seleccionadas pela qualidade inata do seu canto (*24)).
1.5. - Seleção de fêmeas
A seleção das fêmeas é mais complexa e difícil que a dos machos por uma razão óbvia: o macho canta e podemos apreciar a sua maior ou menor aptidão canora, mas a fêmea não. Vejamos os parâmetros de seleção, em muitos casos idênticos observados para os machos.
1º) Ausência, no aviário, de educação de canto com maestros ou meios electrónicos.
2º) Seleção das fêmeas em função dos machos seleccionados, duas por cada macho (é recomendável que o principiante adquira do mesmo criador os machos e as fêmeas e que se deixe aconselhar (*25)).
3º) As fêmeas devem ser da mesma linha ou direção de canto que a dos machos com que vão ser cruzadas. Ao valorizar a compatibilidade canora do macho e da fêmea temos que ter em conta as similitudes do aparelho de fonação, que determina a voz, ou timbre de voz, por um lado, e do padrão inato de canto, que determina o tipo de giros que o canário está predisposto a emitir, por outro. Para estudar a compatibilidade de vozes no caso da fêmea, observaremos em primeiro lugar as vozes de seus irmãos. Para estudar a compatibilidade do seu padrão inato de canto analisaremos e valorizaremos o canto do seu pai e irmãos ou meios-irmãos de pai, tendo em conta o referido nos parâmetros 2º a 7º do ponto anterior (*26).
4º) Valorização da qualidade e complexidade das chamadas ou outras manifestações sonoras, como indicativas das qualidades do aparelho fonador.
5º) Um tipo morfológico adequado (cabeça grande, amplitude torácica, espalda larga, tamanho médio, patas curtas, plumagem lisa, compacta e cor brilhante...). Utilizaremos as fêmeas para corrigir as carências morfológicas que os machos mostrem e como forma de fornecer a selecção fenotípica canora realizada nestes, em detrimento da selecção fenótipica morfológica. Segundo Giorgio de Baseggio, a fêmea transmite à sua descendência, em nove de cada dez casos, as seguintes características:
- Tipo.
- Cabeça.
- Forma.
- Constituição Física.
6º) Estado funcional e sanitário perfeito. Desde o ponto de vista da avaliação funcional é de capital importância conhecer as qualidades reprodutoras das fêmeas da linha ou da família, pois se são más criadoras pouparemos sofrimentos desnecessários fazendo-o com um bom número de madrastas.
7º) Uma ficha de criação e de pedigrii que avaliam a presença de todas as características fenótipicas, genéticas e funcionais expostas anteriormente nos progenitores, descendentes (se for um exemplar adulto) e demais membros da família, como garantia da sua herança e passadas às seguintes gerações.
São válidas também as considerações expostas no ponto anterior ao falar da diferença entre a seleção de exemplares próprios e de fora, assim como as precauções a tomar neste último caso.
1.6.- Seleção de madrastas
Como veremos em momento oportuno, o mais adequado em Canaricultura de Canto é deixar que a fêmea crie só ela os filhos (com o que evitamos riscos de cópia). Esta prática exige um esforço extra à fêmea e determina que o criador se deva assegurar de ter fêmeas capazes de levar a bom porto a criação.
Para terminar este capítulo faremos referência à seleção de madrastas, ponto imprescindível na agenda de todo o criador de canários de alta seleção que se preze sê-lo.
Três são os motivos que justificam esta afirmação:
1º) As fêmeas que não alimentam os filhotes podem fazer mais posturas (ainda que não seja recomendável que façam mais de quatro e descansando entre elas um mínimo de duas semanas) e alargar a sua vida reprodutiva (*27).
2º) A seleção fenotípica e genética costumam propiciar o esquecimento da seleção funcional, com a conseguinte diminuição da capacidade reprodutora de nossos canários.
3º) Quando se tem uma linha de canários de alta qualidade não podemos deixar que o êxito na criação dependa unicamente das fêmeas seleccionadas e resignar-nos a não obter descendência daquelas que não são capazes de continuar a sua descendência.
Se não temos um tronco familiar cujas fêmeas se destaquem pelas suas qualidades reprodutoras e em que para seleccionar fêmeas que façam as funções de madrastas, deveremos fazê-lo com fêmeas que nos aportem maiores garantias que as nossas.
Quanto mais seleccionada esteja a nossa linha e maior seja a taxa de consanguinidade mais indispensáveis são as madrastas. Acredite o leitor que o seu número nunca é suficiente, pois por muitas que tenhamos, ao longo da época de criação, de certeza que desejaríamos ter mais, pois sempre falha alguma fêmea que não esteja em condições de criar (que uma fêmea crie bem um ano não quer dizer que o faça no ano seguinte, de facto uma fêmea que tenha tirado acima de 7 ou 8 pássaros, se não tiver as atenções adequadas durante a muda e o Inverno, de certeza que não nos tira um só pássaro na temporada seguinte).
ANEXO. FICHA DE CRIAÇÃO E FICHA DE PEDIGRII
Notas:
8 Fratantoni cita também o papel dos impulsos de natureza neuro-hormonal, dos que nos ocuparemos mais à frente.
9 Nos primeiros dias de vida o volume do CVS e do RA é pequeno, sem que haja diferenças significativas entre machos e fêmeas. Com o passar dos dias e à medida que aumenta o nível de testosterona no sangue, o volume destes núcleos no cérebro dos machos vai aumentando, ao mesmo tempo que evolucionam as manifestações sonoras (reclamos, sub-canção e desta à canção plástica). Com o inicio da muda da pena, o crescimento dos núcleos desacelera-se, coincidindo com uma baixa no nível hormonal no sangue. Finalizada a muda o crescimento continua até chegar um momento em que se estabiliza coincidindo com a maturidade do canto ou canção estável. A todos os anos, já adultos, o processo se repete com a muda: baixa o nível de testosterona no sangue, diminui o volume do CVS e do RA e o canto do canário volta a perder-se na fase de canção plástica . Até que não acabe a muda e o nível de testosterona volta a subir, junto com o volume dos núcleos cerebrais, o canário não volta a ter uma canção estável. Este é o motivo para que os machos adultos copiem e inclusive substituam completamente o seu canto durante a muda. A importância das hormonas no canto é tal que através da injecção de testosterona em fêmeas se consegue provocar nestas a emissão de cantos nitidamente masculinos.
10 Imaginemos um canário que tenha copiado de outro um canto simples e monótono, apesar de ter faculdades para ter podido desenvolver um repertório rico e variado.
11 Os canários que cantam em posição vertical costumam emitir as suas canções de forma mais esganiçadas e precipitadas. Por este motivo recomenda-se subir os poleiros da gaiola de concurso, para corrigir posições de canto inadequadas.
12 Os cientistas têm revelado a relação entre o tamanho da ave e os tons do seu canto. Quanto maior for o tamanho de uma ave mais graves costumam ser os tons do seu canto.
13 Desta forma incluímos no fenótipo tanto os caracteres visuais como de canto.
14 Recordemos que o fenótipo é o resultado da ação sobre o genótipo dos factores ambientais, em sentido amplo.
fenótipo = genótipo + meio ambiente
Outra forma de expressar o que anteriormente se disse se reflete no triângulo de Walter, onde se representa o individuo como um triângulo equilátero cuja base é o património hereditário e cujos lados são a alimentação e o ambiente respectivamente (nós incluímos a alimentação entre os factores ambientais).
15 A ficha de julgamento de um exemplar, ao contrario do que acontece em outras especialidades, tem um valor relativo, já que reflete o valor do canto emitido durante os quinze ou vinte minutos que dura o julgamento, um canário não canta duas vezes exactamente iguais e a sua qualidade, ainda que não altere o repertório, não é constante. Temos de ser conscientes de que o período culminante, qualitativamente, do canto é proporcionalmente muito curto dentro do ciclo canoro (desenvolvimento, maturidade e declive) e que muitos exemplares não chegam aos concursos no momento óptimo do seu canto (por imaturidade ou por cio). A duração do período de plenitude canora será um dos parâmetros que deveremos trabalhar. Apesar do que se disse, para um principiante a ficha de julgamento emitida por um juiz de reconhecido valor técnico pode ser um instrumento útil para suprimir as suas carências a respeito do canto e da raça, mais para saber em que giros se baseia o seu canto, e que pontos pode ter o canário.
16 Veja-se como exemplo de ficha de criação no ANEXO.
17 Distinguimos parentesco em linha recta (o existente entre indivíduos que descendem uns dos outros: bisavós, avós, pais, filhos...) e parentesco colateral (o de indivíduos que não descendem uns dos outros mas que procedem de um tronco comum: tios, primos...). Para medir o grau de parentesco linear de um exemplar com outro, conta-se, excluindo a do exemplar de que partimos, o nº de gerações que haja até ao ascendente ou descendente que nos interessa e, em caso de parentesco colateral, se conta até o ascendente comum mais próximo e depois segue-se contando até chegar ao segundo exemplar, o número resultante será o grau de parentesco. Vejamos um exemplo prático:
2º `A X aB `C X aD
1º `E X aF
`Z
Sendo Z o exemplar objeto de estudo, E e F, seus pais, terão um grau de parentesco linear de 1º grau, enquanto que A, B, C e D, os avós, terão de 2º grau.
Vejamos agora outra arvore genealógico:
2º `A X aG `H X aI
1º `J X aK
aY
Existe parentesco entre Z e Y e, em caso de haver, em que grau? Bem, à vista dos pedigree resulta que ambos tem um ascendente comum, o macho A, avô comum (são, portanto, primos irmãos, já que seus respectivos pais eram meios-irmãos por parte do pai). Seguindo as regras expostas vemos que de Z a A há dois graus e de A a Y outros dois, portanto entre Z e Y existe um parentesco colateral de quarto grau.
A2
E1 J3
Z Y4
18 Ver ficha de pedigree de quatro gerações no anexo. Depois de ter utilizado fichas de cinco e seis gerações, chegamos à conclusão de que as fichas mais práticas são as de quatro gerações, visto que a partir da quinta geração a percentagem estatística dos genes de cada um dos exemplares que a formam reduz-se ao mínimo:
- 1ª Geração: pais, 50% (1/2).
- 2ª Geração: avós, 25% (1/4).
- 3ª Geração, bisavós, 12,5% (1/8).
- 4ª Geração: Trisavós, 6,25% (1/16).
- 5ª Tetravós: 3,125% (1/32).
Por esse motivo quando um exemplar mestiço, produto do cruzamento entre duas raças diferentes, se retro cruza com exemplares de uma das duas raças parentais durante outras três gerações é considerado, em principio, exemplar puro, já que a percentagem de genes da raça em questão na quarta geração é de uns 93, 75%.
- G1. A X B = C (50% A / 50%B).
- G2. C X A= D (75% A / 25% B).
- G3. D x A= E (87, 5% A / 12,5% B).
- G4. E X A= A (93, 75% A / 6,25%B).
- G2. C X A= D (75% A / 25% B).
- G3. D x A= E (87, 5% A / 12,5% B).
- G4. E X A= A (93, 75% A / 6,25%B).
19 Veja-se a nossa ficha de julgamento ideal.
20 A não presença de giros de ritmo continuo no canto de nossos canários não é caprichosa, já vimos a incompatibilidade entre os ritmos contínuos e os descontínuos. O cultivo, desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo dos giros de ritmo descontinuo implica a eliminação progressiva de todo o vestígio de ritmos contínuos no canto de nossos canários.
21 Os giros de ritmo continuo que afloram no canto de nossos canários no final da fase de repasso ou de maturação do canto (no mês de Outubro e princípios de Novembro) são perdoáveis, mas aqueles exemplares que emitem desde o principio do seu repasso, a partir dos dois meses de idade, sons de ritmo continuo demonstram uma predisposição genética para a emissão dos mesmos e não devem ser utilizados como reprodutores, salvo razões de força maior.
22 Como veremos em momento próprio, o papel desempenhado por um canário na escala hierárquica do voador é muito importante, já que se este era o ou um dos exemplares dominantes o seu repasso foi tomado como referência pelos machos hierarquicamente inferiores, com o que as garantias de herança da predisposição e emissão do tipo de canto que apresenta é maior que no caso de seus irmãos ou companheiros de voador que, como vulgarmente se diz, tem ido para a roda e tem aportado menos informação ao desenvolvimento do canto no voador. Por isso é importante saber que machos levam a pauta em cada voador, visto que, ainda logo que o seu canto seja de inferior qualidade à dos seus irmãos, saberemos em que exemplar se manifestou de forma mais acusada a predisposição genética da sua emissão e, por conseguinte, o seu possível maior valor genético.
23 De todos é conhecido que a ausência do espaço faz com que não possamos cuidar o canto de nossos exemplares adultos como devia de ser. Em certas ocasiões temos que pedir a familiares ou amigos que nos guardem os pássaros adultos, sabendo ainda que estes tem canários de canto tipo “balconeros”, que no começar da muda ,sem duvida, fazem mossa nos nossos. Contudo, do que tiverem retido sempre se pode tirar algum tipo de informação útil de canto por muito degenerado que esteja e do pouco que se pareça ao que fez digno da nossa confiança.
24 Quando exemplares de uma linha de canto determinada forem educados com um maestro de outra linha estes não chegam a assimilar de forma correcta o canto desse maestro, já que os seus aparelhos de canto e seus padrões inatos de canto não estão seleccionados na mesma direção de canto que o maestro.
25 Um conselho: Não começar com mais de dois machos e quatro fêmeas!.
26 Se bem que o canto é determinado pelo sexo (com base nas secreções hormonais), partimos da hipótese, como tal refutável, de que os genes que regem o padrão inato de canto estão ligados ao sexo (ao cromossoma Z), portanto a fêmea aportaria aos seus filhos a informação contida no cromossoma sexual masculino herdado de seu pai. Não obstante, o canto é um carácter de Genética Quantitativa em cuja manifestação intervém múltiplos genes, muitos dos quais não relacionados directamente com a função canora (como aqueles que determinam os diferentes caracteres morfológicos que temos visto que intervém de uma ou outra forma na emissão sonora).
27 Uma fêmea que só ela alimenta a sua prole costuma ter uma vida reprodutora de três ou, no melhor dos casos, quatro anos. As fêmeas que não alimentam sozinhas, e se forem bem tratadas, podemos utilizá-las cinco ou seis anos (chegando a verem-se fêmeas a tirarem pássaros com nove anos).
Olá camarada, tive a ler todo o texto e há muitas coisas que não se compreendem fala-se muito da copia e da genética é claro que timbrados só de copia não é a melhor opção mas também conseguir timbrados de canto genético com bom repertório não é muito fácil mas no entanto todos ou quase todos os criadores dizem que seus timbrados não são aprendizes o que cantam é genético mas pela experiencia que tenho todos os timbrados que comprei a seguir á muda todos perderem uma parte do seu canto porque será que isso acontece?
ResponderEliminarPara se ter bons cantores temos que ter timbrados que seja fortes geneticamente e que ao mesmo tempo tenham capacidade para aprender umas notas ao ouvirem os machos mais velhos aí sim conseguimos bons exemplares claro não é fácil mas também não é impossível se não deixamos os timbrados novos ouvir os mais velhos os mais novos ficam com o repertório mais curto e não tem tanta predisposição para cantar, que no entanto quando os novos ouvem os mais velhos isso incentiva-os a cantar melhor e mais à vontade claro que ao fazermos isso nunca podemos fazer uma selecção dos que aprenderam mais pelo contrario temos que seleccionar sempre aqueles que a seguir à muda perderam menos notas são esses que nos vão dar mais carga genética aos próximos timbrados.
Um conselho eu posso dar pela minha pouca experiencia que tenho já deu para perceber que é sempre melhor para os timbrados novos ouvirem os pais e os mais velhos, do que aprenderem uns com os outros nos viveiros porque copiar eles vão sempre copiar e é mais vantajoso que o que tiverem que aprender que seja com os mais velhos duque uns com os outros.
Baião
Quando dizes:
Eliminar“há muitas coisas que não se compreendem fala-se muito da copia e da genética” (afirmção tua)
Resposta no texto para esta tua afirmação:
De todos é sobejamente conhecido que no canto dos pássaros confluem e complementam-se o inato e o adquirido.
Ou seja, o inato são os genes de canto que ele já tem (por exemplo 6 notas na sua genetica ou repertrório de canto), o adquirido é aquilo que ele vai aprender (por exemplo, aprender 6 notas)seria a ficha ideal e de preferencia com fortes floreios, mas isto como é evidente é dificil ou até digo mais quase impossivel de lá chegar, com boa ou má perfeição, consoante as suas faculdades de emitar corretamente aquilo que ouve e com uma boa voz e tudo isto é genética, não podemos separar cópia de genética, quando se está a realçar “cópia” é para dizer que esse pássaro tem essa genese mais desenvolvida para copiar o que ouve e bem (só para fazer uma comparação em termos humanos, pode-se dizer que é do tipo Fernando Pereira um grande emitador de canções, ele tem na sua genetica essa qualidade que poucos tem).
Do artigo:
Tendo em conta tudo isto, cabe ao criador definir os objectivos concretos e os métodos que veja mais adequados para a sua realização.
Saudações Timbradistas