17 de setembro de 2012

Curso de Canto Timbrado Espanhol


Por: José L.Clemente Lillo, Juiz FOCDE e OMJ

Tradução: Diogo Santana

 
CAPITULO 4° – 1996
 
 - Classificação atendendo à estrutura fonética composição e variação das suas sílabas.
As notas dividem-se em únicas e múltiplas: Nota única é aquela que sempre tem  a mesma composição e estrutura fonética. Ou seja,  as sílabas que a  compõem são  sempre idênticas.
Exemplos: Cascavel (lin)
Variações Rodadas  - Consoante única "r",  que pode ser acompanhada com a vogal "e" (re); com  a vogal  "o" (ro) e  com  a vogal "u" (ru).
Nota múltipla é aquela  que a  composição e  estrutura fonética é muito  variável,  manifestando-se de diversas e incontáveis  formas pela variação das sílabas que a podem compor.
Exemplos: Floreios, Floreios Lentos e Variações Conjuntas
- Classificação de acordo com o carácter positivo ou negativo.
São notas positivas aquelas que aportam um valor meritório e  de qualidade à canção e que merecem uma  qualificação expressada em  pontos positivos podendo ser maior ou  menor  a pontuação que obtenha a qualidade da nota. As notas positivas são as que referimos anteriormente com a sua correspondente pontuação.
Entende-se  por notas negativas no  canto do  canário todo o som desagradável  que possa romper a melodiosa beleza da sua emissão. Por serem consideradas como faltas dentro do bom canto tem uma pontuação contrária ou negativa.
 
Existem três  notas negativas: 
Rascada: Que se penaliza  com um máximo 3 pontos negativos.
Estridência: Tem uma penalização com um máximo de 3 pontos negativos.
Nasalidade: Que se penaliza com  3 pontos de máxima pontuação negativa.

 Alguma História:

O  canário de que falamos foi  chamado originalmente de Canário do  País. Posteriormente Canário de Canto Timbrado Espanhol e  também Canário de Canto Espanhol (Timbrado),  denominação também admitida pelo  Colégio Nacional de Juízes da  Federação Ornitológica Cultural Desportiva Espanhola, e  que utilizamos neste momento  indistintamente com a tradicional de Canário Timbrado Espanhol, ainda que se conste  que a única denominação que tem carácter oficial  é  esta última, tanto a nível nacional como internacional. Este canário tem muitas afinidades na estrutura fonética do seu canto com as outras duas raças de canários de canto reconhecidas pela  Confederação Ornitológica Mundial, o  Harzer (Roller) alemão e o  canário belga Malinois  (Waterslager). Isto não é de estranhar, visto que a origem é  comum para  as três modalidades de canto, o canário silvestre das Ilhas  Canárias, que pela sua evolução, criação em cativeiro, ensino e  seleção  para determinada modalidade ou estilo de canto, todas elas derivaram dele. Por ordem de aparecimento o  primeiro foi o Canário de Canto Espanhol  que continua  sendo o mais próximo do canário silvestre no que diz respeito ao repertório de canto. Dele saíram muitos anos depois, as outras duas raças de forma quase  simultânea.
Na  região montanhosa  alemã  do  Harz  os criadores de canários, na maior  parte mineiros e  pequenos artesãos,  concentraram  as suas preferências para um canário de canto doce e  rolador, daí veio a  denominação de canário do  Harz ou Roller, que reflete a sua  origem alemã e a característica do seu canto, e que desta maneira se denominou, Canário de Canto Alemão. Tendo-se também  em conta que naquela época se criava na  Alemanha o  canário Saxónico  (da Saxónia) que era um canário comum de canto que os alemães exportavam em grandes quantidades.
Simultaneamente, enquanto os alemães centravam as  suas preferências para esta  modalidade de canto, os aficionados belgas orientavam  o seu  trabalho e  esforços com o  fim de obter um canto parecido ao do  rouxinol  (arrouxinalado), cuidando com esmero o seu ensino e  seleção  adequada, com especial preferência e  perfeição nas notas de agua. O canto arrouxinalado foi desenvolvendo-se  e impondo-se  com a  devida disciplina.
Conseguidos os fins procurados  se chamou a este canário o  Belga Waterslager ou  Canário de Canto Belga. Devido a que na  vila de Malinas se obtiveram os melhores e mais  afamados cantores, por este motivo foi denominado,  Canário de Canto Malinois, ou  simplesmente Malinois, denominação que acabou por se impor e  como atualmente se conhece  mundialmente.
Para se conhecer o canto deve-se fazer  referência ao que se deve valorizar, em teoria e na  pratica, um canário de canto. Trata-se de se  conhecer as suas qualidades e virtudes, o mesmo que para os seus defeitos, e  poder fazer um resumo  de todos os aspetos das suas notas, giros ou  variações, tanto positivos como negativos. Para isso se dá um  valor em pontos às notas individualmente consideradas e  ao  computo total do  exemplar, somando as positivas e subtraindo as negativas, formando tudo isso o valor canoro que entendemos no seu conjunto como o canto.
Anteriormente davam-se pontuações máximas às notas positivas e negativas a cada uma delas se fosse caso para isso. Este máximo de pontos é  divisível por três. A divisibilidade por três das notas é regra  de ouro nos códigos de qualificação e todas as raças de canários de canto reconhecidas pela Confederação Ornitológica Mundial são  fundamentalistas na sua aplicação para que haja uma  boa qualificação dos exemplares de canto dos competidores, pelo que não se deve admitir nem reconhecer-se nenhum outro sistema de outorgar pontuações que não tenham estas características tão  especiais. A não divisão por três  implica  graves carências ou defeitos no  momento de  valorizar os canários de canto por parte dos juízes, já que é o instrumento que lhes permite fazer a classificação ou valorização, como mais adiante veremos, para estabelecer o valor de uma nota ou  variação suficiente, boa ou muito boa, segundo sejam os méritos e  benefícios  que exiba o  canário na emissão da mesma.
Em linhas gerais, o que entendemos por canto? Existe internacionalmente uma definição muito acertada: "O  canto é um conjunto de notas herdadas e de notas aprendidas sob a influência do meio ambiente. Este conjunto é transformado pelo  canário numa canção". Segundo esta definição o canto é herdado mas também aprendido de outros pássaros.
Para poder analisar o canto há que conhecer, ainda que seja elementar, determinadas regras e o  método ou sistema a seguir para esse fim. Precisamos de ter algumas ideias concretas sobre cada uma das notas e  suas variações e do conjunto do repertório. Só  assim, compreenderemos o canto e podê-lo apreciar e quanto mais o conhecemos mais nos interessaremos pela sua perfeição, sendo isto aplicável a todas as raças de canários de canto existentes.
O Canário de Canto Espanhol (Timbrado), por ser o  herdeiro mais direto do canário silvestre, tem um canto natural em muitas das suas notas até mesmo  muito desenvolvidas e aperfeiçoadas depois de largos anos de seleção, e outras tem sido ensinadas artificialmente por diversos métodos, o que se encaixa com a definição dada anteriormente do que se entende por canto.
Para compreender o mecanismo do canto, há  que ir pouco a pouco, sem pressas, procurando assimilar os conceitos teóricos em que se fundamenta e indo  aplicando-os à prática diária. A canção é um conjunto ou sucessão, foneticamente falando de sílabas e frases que constituem sons que podem ser simples ou compostos. O conjunto do repertório, composto por diversas notas, tem uma cadência ou ritmo que varia em mais ou  menos rápido, chegando a ser muito rápido e  muito lento e os sucessivos sons manifestam-se num movimento que estabelece a forma de executar as notas e a sua qualidade.

CAPITULO 5° – 1996

O Timbrado é  rico em notas claras, altas, sons de timbre metálico, também de tons baixos, ocos e  aquosos, notas que contrastam entre si, unidas por passagens  harmoniosamente fundidas. As  características gerais do canto devem ser: Canto alegre, metálico, vigoroso, variado, que mude  em intensidade, notas emitidas em todos os tons, com intervenção de diversas consoantes e vogais, com distintos ritmos de emissão formando um canto alegre, sonoro, de rápida e rítmica ligação no seu conjunto, mudando as metálicas com as graves, as ocas e as aquosas e com a profusão das compostas (conjuntas) ou notas em duo. Não deve ter estridências nem dar chilreios desagradáveis, nem realizar tons excessivamente ocos ou profundos. Falando em termos gerais, as condições que deve reunir todo o canário de canto, em qualquer das raças, podem-se definir  assim: "O  canto do  canário será sempre um canto artístico e com uma musicalidade o mais melodiosa e agradável, que deverá satisfazer e  ajustar-se em todo o momento ás  exigências da sua própria raça, às  suas próprias peculiaridades básicas e ao Código de qualificação que tenha sido estabelecido". O canário Timbrado Espanhol é o mais antigo vinculo das muitas raças criadas em todo o mundo, todas com a mesma origem comum, o tronco de origem  que foi o canário silvestre das  Ilhas Canárias. Sendo  o que está mais vinculado e próximo do canário silvestre, diferencia-se para melhor na medida em que  suas notas foram enriquecidas, sistematizadas no âmbito  de uma disciplina, incluindo-lhe novas variações e impondo-lhe uma forma de as emitir  que, conservando em parte a sua originalidade, fosse  agradável e  atrativa ao ouvido e  com uma cadencia ligada no seu  distinto repertório, procurando eliminar as acuidades e imperfeições desagradáveis musicalmente. Ainda que a seleção desta raça e o melhoramento do seu canto se tenha desenvolvido a passo largos nos últimos vinte anos e  se tem fixado em considerável proporção, não se chegando à sua perfeição  por ser um canário que embora  esteja em período de desenvolvimento e aperfeiçoamento do seu canto, pela  aparição de novas variações nas suas notas e  novas estirpes ou linhas de canto com diversas formas de execução do  repertório. Isso é  fruto do esforço  dos numerosos criadores existentes em Espana e igualmente em alguns países hispano- americanos, e  pelo  sacrificado  trabalho de orientação e encantamento cultural que vem  desenvolvendo os juízes  pertencentes ao Colégio Nacional de Juízes da Federação Ornitológica Cultural Desportiva Espanhola, no  momento da qualificação dos exemplares nos  numerosos concursos que se celebram por toda a  Espana (a nossa Federação conta com umas 260 sociedades de canaricultores repartidas por toda a geografia nacional).
Podermos afirmar por ultimo, que será a qualidade do som que faz com que se distingam os sons emitidos por instrumentos diferentes, ou seja, o timbre será a qualidade do som  que nos permite diferenciar iguais notas emitidas por instrumentos diferentes e que diz respeito à  complexidade das vibrações, ou seja, com a presença de harmónicos  sobrepostos ao som fundamental.
 O que é música? - De acordo com o  Dicionário da Real Academia da Língua Espanhola, podemos dizer que a musica é a arte de combinar os sons com o tempo, de modo que produza deleite ao  escutá-los, comovendo a sensibilidade do ouvinte. Os três elementos essenciais da musica são: Ritmo, Melodia  e HarmoniaDevem tratar-se as notas ou  giros na sua melhor expressão, as mais formosas e  puras, que sejam bem  emitidas e com boa definição, perfeitamente catalogadas dentro do repertório do canto que consta a ficha de julgamento.
Ficha de julgamento, que não tenhamos nenhuma dúvida quando ouvimos uma nota sobre a sua estrutura e por conseguinte se enquadre com a mesma. O  canário de qualidade é o mais fácil de qualificar, já  que ao emitir o repertório claro, preciso, cada nota com sua correspondente composição silábica, o ritmo de emissão bem delimitado, boa dicção, sons claros, boa ligação do repertório, bom gosto no canto, e  melodia no conjunto canoro, sem estridências nem  giros desagradáveis ao ouvido, etc., faz com que possam classificar sem dúvidas as notas que estamos escutando e a sua  rápida valorização em pontos. Pelo contrario, aqueles canários que emitem notas confusas, medíocres, vulgares ou  mal pronunciadas, com deficiente vocalização, abundância de consoantes, que podem induzir ao  Juiz uma margem de erro que, às vezes, se tem dúvida sobre se é  uma coisa ou  outra, são mais complicados de julgar, ainda que o  Juiz sempre tem a convicção de que, ao não serem  pássaros excelentes, não possam aspirar a uma boa pontuação e ficarem numa categoria mais inferior e dar-lhe um ponto a mais ou a menos. As denominadas " linhas de canto devem-se criar com a maior separação possível, procurando a sua pureza, fugindo de improcedentes cruzamentos realizados ao acaso, sem ordem nem concerto, por ser extremamente prejudicial,  sendo a sua consequência a obtenção de sons desagradáveis, com rasgos, má dicção, sujos, duros, agudos  e estridentes, que impedem as expressões claras e  limpas das notas, cujo carácter se deve mais importante.
Recolhemos a opinião manifestada na Revista "Nossos Canários" do ano 1956, pelo Juiz especialista internacional D. Salvador March Carnasa, na ocasião do IV Campeonato do Mundo da C.I.C., em Barcelona, ao apresentar a associação de Canaricultores Espanhóis, de Madrid, determinados timbrados à consideração dos especialistas internacionais de canários de canto. Dizia o Sr. Marcha: "O canto gostei muito e impressionou- me grandemente sobretudo pelo seu vigor. Possui trinos de água muito doces e definidos, muitas variedades de notas, batidas e lingual-palatinadas, com toda uma boa gama de tons que lhe conferem uma característica geral muito briosa e alegre". "A minha cordial felicitação à Associação de Canaricultores Espanhóis que, sem sair do canário de origem, de todas as raças, conseguiram depurá-lo e dignificá-lo, ficando à altura que na realidade já deveria ter estado há mais tempo". Observamos a menção especial que faz sobre a existência de notas de agua muito doces, devido a que atualmente existia uma certa polémica sobre elas e que a seu momento analisaremos.
O  canto do canário tem  as suas limitações porque não é  possível que possam emitir todas as possíveis variações do canto, muito mais no nosso canário espanhol, pela  existência das denominadas notas múltiplas cuja composição gramatical e fonética podem teoricamente chegar a ser muitas e incontáveis as possíveis composições, pelo que devemos procurar  a utilização dos conhecimentos científicos para poder obter a melhoria na qualidade do canto, enobrecendo-o  e aperfeiçoando-o ano após ano. Por isso recomenda-se que, ao começar a criação, se procure a qualidade dentro da variedade de notas, pelo  que é  imprescindível conhecer a estrutura das mesmas, seu ritmo de emissão adequado, a qualidade dos sons, a ligação e a cadencia de sons estridentes, desagradareis e turvos. Tem que se conseguir exemplares possuidores  de uma cultura de canto superior, dotados de um órgão canoro que seja capaz de produzir sons metálicos em distintas formas, mas  também outros mais vazios (ocos) e  alguns aquosos com as  suas diversas formas de se expressar, que proporcionem melodias agradáveis pela sua doçura e  não sendo suficiente ou  que não se encontrem presentes notas mal emitidas e negativas. Sobre este assunto temos de dizer que cada ano que passa vamos escutando canários com um canto mais belo, mais doce e  harmonioso e  que emitam notas novas e distintas, que não existiam entre as originais....  

CAPITULO 6° - 1997 

O que é que se valoriza no Canário de Canto Espanhol (Timbrado). Em termos gerais há que considerar os seguintes fatores:

· a) A quantidade de notas ou giros que emita o canário no repertório canoro.

· b) Dentro da quantidade de notas, as distintas variações que no contexto de cada uma delas possa emitir, especialmente consideradas as denominadas notas múltiplas, que já foram definidas anteriormente, que permitem incontáveis variações na sua estrutura fonética  ou gramatical.

· c) A  musicalidade que tenham as notas, considerando como as melhores aquelas que soam agradavelmente ao  ouvido, com suavidade e doçura, sem estridências, sem  sons berrantes, duros ou agudos em excesso  que roubam à mesma.

· d) A boa harmonia e ligação entre as notas que desenvolve o pássaro na sua  canção.

· e) A harmonia  que exista no  canto dos exemplares que participam por equipa.

· f) As  notas ou giros defeituosos que se considerem faltas negativa.

Cada nota pode ser emitida de variadas formas e existem distintas quantidades delas, de maneira que de um exemplar a outro podem existir variadas emissões e uma maior ou menor quantidade de notas. Logicamente o exemplar que aporte maiores giros ou variações e  mais quantidade delas, terá maior opção para poder obter uma melhor pontuação.
É fundamental conseguir uma adequada qualidade musical dentro do repertório do Timbrado, procurando e premiando o canto agradável ao ouvido  que combine harmoniosamente e ligue com facilidade as notas do repertório, rejeitando as emissões duras, berrantes, prejudiciais pela sua grande agudez, especialmente nos tons fortemente metálicos que ferem a sensibilidade do tímpano. Para isso é extremamente importante que o canário articule e empregue na estrutura das notas as sílabas apropriadas a cada giro e que o seu canto resulte fluido e belo, tendo  em conta que todo o  giro que fira o  nosso ouvido deve ser considerado  não desejável e deve-se  procurar a sua eliminação.
Pela  enorme variação de notas que podem chegar a cantar os Timbrados, segundo  seja a sua procedência ou lugar de criação e dependendo das preferências ou gostos dos criadores, fica  muito difícil chegar a classificá-los sob algumas normas concretas de estirpes, de canto, além disso, este cantor segue submetido a um processo de evolução que compreende tanto a perfeição das notas existentes, como o aparecimento  de novas notas que os criadores se esforçam por conseguir. Está demonstrado que existe uma total relação entre a estrutura morfológica da siringe do pássaro com a capacidade que ele tem em emitir esse mesmo  tipo de canto.
Fundamentalmente em termos gerais, podem-se classificar duas direções ou linhas de canto: A  direção seca e de água. A  seca manifesta-se, por sua vez, em duas variantes com características próprias e distintas, que são: A metálica, que tem uma grande  metalicidade  na  maioria das suas notas, e a oca com sons e tons mais ocos no seu canto e  com muito menos metalicidade, que se continua  conservando.
Uma das  principais  características do canto Timbrado, que por muitos anos foi conhecida, era a da sua grande  metalicidade por serem  muito abundantes os canários de  linha seca metálica que então  se criavam e   concorriam aos concursos com abundância com sons metálicos, carentes de variações aquosas. Esta direção de canto é  capaz de produzir, quando é  pura e selecionada, formosas  emissões de variados repertórios e  foi precisamente a que deu origem, anos atrás, à  atual denominação do canário de canto Timbrado Espanhol pelo  tom eminentemente timbrado metálico ou de timbre metálico que tinham a maioria das suas notas.
A  variante de canto seco oco tem muito menos metalicidade nas suas  distintas variações e na qual   existem notas que manifestam algo de oco na sua  estrutura.
Como é  lógico, na  direção seca,  seja metálica ou oca, para ser pura não devem existir notas de agua.
A  direção de água manifesta-se com uma maior especialização na  emissão de notas de água, as que se incluem na ficha de julgamento. Há que ter em conta que as variações aquosas normalmente não podem alcançar a maravilhosa dicção e aquosidade que expressam os canários da raça  Malinois, por constituir as mesmas a maior especialização e característica desta raça. Também, que o  canto aquoso costuma influir no resto do repertório do canário de Canto Espanhol (Timbrado) suavizando-lhe e  dando-lhe  maior doçura nalgumas das suas notas e absorvendo-lhe algum porte  aquoso.
As  duas direções de canto mencionadas há que considerá-las em termos gerais já que na  pratica existem variadas expressões dentro delas, segundo sejam as estirpes dos canários. Com frequência aparecem nos concursos pássaros que, dotados de uma  siringe prodigiosa, são capazes de emitir notas metálicas junto às ocas, todas elas próprias da linha seca, combinando-as com outras que correspondem à linha aquosa e  também perfeitamente emitidas. Isto  se deve aos múltiplos cruzamentos que realizam  os criadores com os seus exemplares. Pessoalmente, em determinadas ocasiões julguei canários excecionais que tinham metade do seu repertório muito metálico e variado, e a outra metade era extremamente pródiga em excelentes notas de agua. A sua canção  era uma maravilha que impressionava.
Para a correta qualificação dos canários é  imprescindível  a utilização de uma Ficha de Julgamento, e o seu Regulamento, que seja o mais ampla possível nos seus conceitos, tanto em quantidade de notas como em pontos disponíveis para cada uma delas. Estas qualidades estão muito bem integradas na Ficha de Julgamento que há muitos anos vem utilizando o  Colégio Nacional de Juízes da Federação Ornitológica Cultural Desportiva Espanhola (F.O.C.D.E)  e que o  O.M.J. da  Confederação Ornitológica Mundial (C.O.M.)  aprovou oficialmente, apresentada pela  COM/Espanha no  mês de Janeiro  de 1995, no  Congresso de Udine (Itália) e que  por ela  se regeram nas  sucessivas qualificações dos concursos de canto deste canário,  organizado pelo Organismo mundial citado e também os Internacionais. Com isto se reconhece o  grande trabalho  que no desenvolvimento cultural da raça Timbrado Espanhol  tem vindo realizando durante muitos anos o  Colégio Nacional de Juízes da F.O.C.D.E e  seus Colegiais. Felizmente  para a “afición”, o  reconhecimento desta Ficha de Julgamento  teve  como consequência direta com que na  C.O.M.  ficasse  anulada a existente que anteriormente foi aplicada e pela qual vinham sendo julgados ultimamente os campeonatos  mundiais. Ficha de Julgamento  que se elaborou de forma extremamente  precipitada, sem prévia consulta e debate técnico dos  órgãos correspondentes, que foi apresentada em seu dia à  C.O.M. de forma arbitraria, anómala e antirregulamentar, sendo de  ordem  técnica  totalmente inadmissível pelos seus erros, tanto na distribuição de pontos que estabelecia como nas  denominações das notas, e a falta de uma correta estrutura que não permitiam qualificar  adequada e corretamente os  canários e que se tiveram queixado desde o  primeiro dia muitos dos Juízes  que a tiveram que aplicar nos Mundiais. Foi  um  passo que se deu  atrás  na medida  em que prejudicou o desenvolvimento cultural do canário Timbrado, com a grave circunstancia de em Espanha,  a terem  apresentado à C.O.M., não foi conhecida nem  se chegou  a aplicar em nenhum concurso das sociedades ornitológicas do nosso País. Logicamente, o Colégio de Juízes nunca a reconheceu nem aplicou.
Dentro das duas  direções  de canto comentadas, tecnicamente são  infinitos os giros ou  variações que podem emitir os canários, especialmente pela existência das denominadas notas múltiplas, já  que estas admitem a possibilidade de indetermináveis  combinações gramaticais que se podem produzir. Ainda que, como é  lógico é  impossível que nenhum exemplar possa chegar a cantar todas elas, sempre existirá no seu  canto uma maior especialização nalguns giros sobre outros, uns alcançam uma expressão superior, de grande qualidade, e outros serão comparativamente inferiores. Só exemplares excecionais chegam a ter um amplo repertório que está unido a uma excelente qualidade do  mesmo, pelo que se deve ter preferência na qualidade sobre a quantidade das notas. É preferível um exemplar de menos repertório, mas  que tenha uma  grande qualidade no  mesmo, a outro que possua muitíssimas  notas e que na sua  maioria sejam medíocres. Para conseguir isto, além do  continuo trabalho de seleção que realizem os criadores, é  fundamental que a Planilha ou  Ficha de julgamento tenha uma ampla possibilidade para outorgar pontos em cada uma das notas do repertório, que permita premiar adequadamente o pássaro que emita excelentes variações sem importar que lhe possa  faltar alguma delas e que na classificação de um concurso fique  por cima de outro pássaro que emita completamente todas as notas da Ficha de Julgamento, mas  cantadas a maioria com pouca qualidade, o que vulgarmente se chama ou denomina um  canário “rouba pontos" já que em todas ganha  pontos mas em nenhuma se destaca pela sua qualidade, e o seu canto se desenvolve com  mediocridade. Por esta razão não seria aceitável desde um ponto de vista técnico, uma Ficha de Julgamento estruturada de forma que, para que um  exemplar fosse catalogado como de primeira categoria, tivesse que emitir todas as notas integradas na mesma, e que no  suposto de lhe faltar uma só  delas não tivesse opção na categoria superior, já  que a dita Ficha de Julgamento na  prática está primando a quantidade sobre a qualidade e seria um fator determinante para premiar nos concursos canários de baixa qualidade só pelo facto  de serem  capazes de cantar um amplo, mas  medíocre repertório, ou  seja os "canários “rouba pontos", que ficariam melhor classificados que outros que possuindo uma  maior  bonomia  e qualidade no  mesmo, fossem  mais limitados no  número dos giros.

CAPITULO 7° – 1997
 
Seguidamente transcrevemos os conhecimentos gerais que figuram no  Regulamento do Colégio Nacional de Juízes e  que são de imprescindível conhecimento para se poder conhecer o  canto do canário, em geral.
O que percebemos primeiro  quando um pássaro expulsa o  ar  dos pulmões através da siringe, são uma série  de sons que podem ser perfeitamente transcritos e representados num  pentagrama, por meio dos diferentes signos e notas musicais em uso, compondo com isso uma  melodia ao cantar, criando musica, já  que estes sons conjugam em si mesmos essas três características fundamentais da música, como são: O Ritmo, a Melodia e a Harmonia.
Igualmente poderemos distinguir e diferenciar claramente no  sentido fonético, as vogais e as consoantes que compõem as diferentes passagens musicais ou giros emitidos pelo  canário na  execução do  seu canto.
É  por tudo isso, que consideramos importante o total conhecimento de todas aquelas características que acompanham o som como agente físico e  à musica como conjunto de sons, ambos componentes essenciais do canto do canário e cujo conhecimento e utilização nos servirá para uma maior compreensão em posteriores explicações da Ficha de Julgamento e um maior conhecimento geral que nos ajudará muito na  hora de nos fazermos  entender pelos aficionados.
Para começar, quando ouvimos  cantar  um canário, estamos ouvindo uns sons que em principio poderão ser bons ou maus, segundo  sejam musicais e melódicos, ou  simplesmente que seja um ruído. Portanto, sendo esta a primeira diferença clara que percebemos ao ouvir qualquer som, será necessário saber em que consiste esta diferença.
Deve notar-se que teoricamente a diferença não é muito clara, já que às vezes um som musical pode dar a sensação de ruído e  noutras um ruído pode adquirir qualidade musical, quando se associa a outros sons, mas, apesar disso, podemos dizer que a diferença reside fundamentalmente em que, enquanto  no  som  musical é  possível determinar a sua entoação e que as vibrações emitidas são regulares, no  ruído, as vibrações são irregulares e  não é  possível determinar a sua entoação.
Mas  vamos  definir já o que é o  Som e assim  poderemos dizer que é a sensação produzida no órgão do ouvido pelo movimento vibratório dos corpos, transmitida através de um meio elástico como pode ser o ar. O que se deduz que  um corpo só pode produzir som, se é capaz de vibrar e que ao transmitir-se o som  por meio de ondas é  necessário que essas vibrações se produzam num  meio elástico, já  que no vácuo  não se transmite som. A  velocidade de propagação do  som  varia segundo o meio. Assim, no  ar e a zero graus é de 331 m./seg. e  aumenta a razão de 0,6 m/seg. ao  aumentar um grau de temperatura.
As  ondas produzidas por um som se movimentam através do ar introduzindo-se no nosso  tímpano e  passando posteriormente ao ouvido  interno, onde estão situadas umas terminações nervosas que transmitem estas sensações ao cérebro, o qual imediatamente identifica estes sinais e nos dá resposta sobre o que estamos ouvindo, ou seja, por meio do tom dessas vibrações, assim como dos harmónicos que os acompanham e a intensidade das mesmas, nos identificará as características e procedência desse  som.
No sentido físico  também podemos dizer  que o Som é o  agente que se manifesta em forma de energia vibratória e que é a causa da sensação auditiva, enquanto as  vibrações se manifestam dentro dos limites. O movimento harmónico simples de um corpo vibrante transmite-se no meio elástico que o rodeia, provocando nele uma série de compressões e refrações que se propagam afastando-se da fonte do som. Esta perturbação forma um movimento ondulatório longitudinal e como tal possui,  além de uma velocidade finita, propriedades de reflexão, refração, interferência e  difração.

QUALIDADES DO SOM:
As  qualidades do som são três: tom ou frequência fundamental, intensidade ou altura e timbre ou qualidade. 

O TOM:
É a qualidade do som que nos permite distinguir um som  grave de outro agudo e que consiste na  maior ou menor rapidez das  vibrações dos corpos sonoros, por unidade de tempo, e  assim, as frequências altas produzem sons agudos e as baixas os sons graves. Embora, o ouvido não possa  perceber mais que os sons cujas frequências estejam compreendidas entre 20 e 20.000 vibrações por segundo, ou seja, uma dezena de oitavas. Na musica chama-se tom à distância maior de entoação entre duas notas consecutivas, com a exceção das distâncias de entoação menor de duas notas consecutivas chamadas semitons e  compreendidas na  escala musical entre o  MI e o FA e  do  SI e o DO.
 
INTENSIDADE:
É a qualidade do  som, que nos permite distinguir um som forte de um débil, dependendo da amplitude das ondas sonoras. A maior amplitude mais intensidade e vice-versa. Embora  o ouvido não possa perceber um som cuja amplitude seja inferior a certo valor ou nível mínimo. A  intensidade mínima correspondente se denomina "umbral de audibilidade". Se se faz aumentar enormemente a amplitude das vibrações sonoras, a audição  vai acompanhada de sensações  dolorosas. O  limite máximo suportável pelo ouvido  humano,
Chama-se  "umbral de dor".
Assim mesmo há que distinguir a intensidade do  corpo sonoro e a intensidade da perceção do som. A  primeira temos visto que depende da amplitude das vibrações e a segunda depende da nossa  agudeza auditiva, da intensidade das vibrações do  foco sonoro e, como é  lógico, da distância que nos encontremos deste. 

O  TIMBRE:
Podermos afirmar por ultimo, que será a qualidade do som que faz com que se distingam os sons emitidos por instrumentos diferentes, ou seja, o timbre será a qualidade do som  que nos permite diferenciar iguais notas emitidas por instrumentos diferentes e que diz respeito à  complexidade das vibrações, ou seja, com a presença de harmónicos  sobrepostos ao som fundamental.
 O que é música? - De acordo com o  Dicionário da Real Academia da Língua Espanhola, podemos dizer que a musica é a arte de combinar os sons com o tempo, de modo que produza deleite ao  escutá-los, comovendo a sensibilidade do ouvinte.

Os três elementos essenciais da musica são: Ritmo, Melodia  e Harmonia. 

RITMO:
Não se pode esquecer que a música está composta de  sons, e que, portanto, neste especto está sujeita às  leis dos mesmos  e em relação com os elementos essenciais da musica, diremos que o ritmo musical vem determinado pela  ordem e a proporção no tempo. O  ritmo nasce do desejo inato da mente humana de encontrar uma  ordem em tudo quanto percebe, na dança, regulando o  movimento,  na  poesia, mediante a escritura métrica e os adequados acentos e na musica agrupando sistematicamente sons sucessivos. O  ritmo existiu já nos  gongos  das  tribos selvagens, muito  antes de  aparecer a musica.
A relação entre ambos deu-se  quando surgiu a harmonia e a melodia, ou seja, o  ritmo precedeu  a  melodia, no entanto esta antecedeu a harmonia como fruto da evolução lógica. Portanto o ritmo baseia-se na duração dos sons e manifesta-se no que dominamos  compasso. No entanto, não há que confundir o ritmo com o compasso, já  que uma unidade rítmica pode abarcar um só compasso ou vários. O compasso é uma  unidade de notação elegida pelo  compositor segundo  as suas  conveniências.
A aparição do compasso constitui uma  necessidade técnica para conjugar aos executantes, pois graças a ele  se percebeu a realidade incontestável do ritmo e  prevaleceu a ideia de que era fundamental conferir-lhe uma regularidade absoluta. 

MELODIA:
É o elemento da musica que consiste na sucessão de sons diversos unidos entre si e no seu conjunto com sentido musical, ou seja, que na MELODIA enlacem entre si, os sons com diferente intensidade, entoação e duração, criando musica. 

HARMONIA:
Diremos, por ultimo que é o elemento musical que consiste na  combinação de sons simultâneos e  diferentes, mas em acordes. A  diferença  entre harmonia e melodia reside fundamentalmente em que, na  melodia  os sons sucedem-se um após outro e na harmonia os sons sobrepõem-se, pelo que o canário ao cantar cria a  melodia, e  o fazer harmonia corresponde  a um   conjunto de pássaros quando cantam. 

CANTAR:
Em parágrafos  anteriores fez-se referência ao verbo cantar e  podemos dizer  simplesmente  que cantar  é  emitir com  os órgãos da  voz uma série de sons modulados.

Que é Modulação?
É o passo de um  semitom  a outro, que se efetua na  melodia mediante o emprego  de alterações  acidentais, " meio-tom a mais e meio tom a menos " que a levam à  nova  tonalidade  fixando-a na harmonia mediante acordes de transição   que desvanecem a tonalidade primitiva e  fixam o carácter da nova.

Que é a Escala Musical?
Diremos que a escala musical se refere aos distintos graus  de intensidade que se podem dar a um som e que se indicam por meio de palavras, normalmente italianas, que vão  desde o "pianíssimo" ao "fortíssimo" e  expressões tais como "crescendo", etc., que modificam os motivos.

Que são os Harmónicos?
Quando ouvimos um som temos  que ter presente que estamos ouvindo uma mistura de sons. A  nota que ouvimos é fundamental e é a que domina, mas simultaneamente e no mesmo instante, por cima dela, muito mais  suave e de uma  maneira quase  imperfectível, se produzem outros sons que se fundem perfeitamente com  a nota fundamental, pela razão de que tem uma perfeita relação  de frequências sonoras. Estes sons chamam-se  harmónicos e são os que dão beleza e interesse ao canto. O pássaro com a siringe executa estes sons com mais facilidade, considera-se  mais capacitado e igualmente podemos dizer que ouvido  humano fique mais preparado para ouvir estes sons, se considera mais sensível, musicalmente falando.

CAPITULO 8° – 1998 

No  Código do Timbrado consideram-se alguns conceitos, giros ou notas, básicas e  principais,  que serão o eixo de todo o cantor formando um conjunto de tons brilhantes, alegres e  harmoniosos que vão dar porte e personalidade própria ao nosso canário representativo do Canto Espanhol, com a sua maior ou  menor bonomia, mas outros conceitos complementares  que ao estarem no repertório do  canário se devem considerar. Todas estas notas, sejam  principais ou  complementares se valorizam positiva  ou negativamente segundo se percebam e segundo  seja a qualidade da sua  emissão.
Se  consideramos  o  repertório de notas de acordo com a pontuação que se lhe atribui a cada uma  delas no  Código, temos em primeiro lugar que considerá-las  como as mais  valiosas às notas denominadas Floreios, Floreios Lentos e Conjuntas. As examinaremos com a maior precisão possível, realizando o seu devido comentário técnico, apreciativo, ou até algo histórico e comparativo.
Floreios: São notas, variações ou giros reconhecidos no Código como de superior categoria ou qualidade, sendo as suas características seguintes:

· A – São notas múltiplas, já  que na sua  formação podem intervir todas  as vogais e   consoantes do idioma.

· B – Podem manifestar-se em movimento horizontal, ascendente, descendente ou ondulatório.

· – O seu ritmo de emissão é semi-descontinua  ou escalar

· – Podem ser simples (um único som) e compostas ou conjuntas (mais de um som).

· – O seu carácter é  positivo.

Desde os princípios  do  estudo  e  sistematização regulamentar do canário que nos ocupa, dedicou-se especial atenção aos  FLOREIOS, principalmente devido à sua beleza de emissão, à sua complexidade e variada composição  fonética, e à variedade que representam dentro do repertório.
No  primeiro e antigo Código, o  que inicialmente elaborou D. Alejando Garrido Martínez, na  Associação de Canaricultores Espanhóis, de Madrid, decorria o ano de  1953, completado posteriormente por outros Juízes desta mesma associação, existia uma  confusão  terminológica no  referente às  notas cloqueios e Floreios. Isso foi devido a que no  capítulo dos denominados cloqueios  se incluía uma  definição desta nota que era própria dos  atuais  Floreios.
 
  
Dizia-se  que os cloqueios eram múltiplos, preciosos e muito  abundantes e que na sua  composição  intervinham diferentes consoantes e  vogais, dada a grande  diversidade de cloqueios que se podiam emitir era de todo impossível precisar com exatidão as letras que os  compunham, nem o número destas belíssimas notas que eram capazes de dar. Dizia-se neste Código que tirando as notas que o mesmo definia concretamente, qualquer outra que se escutasse seria sem dúvida um  cloqueio. Eram infinitos os cloqueios que se podiam escutar e  muito difícil  de enquadrá-los num limitado Código, apesar de se ter feito a sua recolha, sem que se escapasse nem um, toda a variedade de notas que emite este canário, ainda que em casos como o presente, ou seja os cloqueios, só tenha sido possível agrupá-los com  carácter geral. Dizia-se que a emissão dos cloqueios era um pouco mais rápido que o Chau e Piau que anteriormente se tinha descrito, salvo as exceções  com as que sempre se devia contar. As letras que os compõem se consignava  o  abecedário completo, com quaisquer  consoantes e  vogais  se podiam formar cloqueios. Como exemplos de cloqueios figuravam:
· a) Com uma consoante  e  uma  vogal, bi-bi-bi…pi-pi-pi...
· b) Com dois consoantes  e uma  vogal, blu-blu-blu... clo-clo- clo…
· c) Com três consoantes  e  uma  vogal, bloc-bloc-bloc....tric-tric-tric
· d) Com dois consoantes e  duas  vogais, blui-blui-blui ... clou-clou-clou,
· e) Com uma consoante e  duas  vogais lui-lui-lui...lou-lou-lou
Também se dizia que os Cloqueios  Lentos  eram os melhores, alcançando a categoria dos Cloqueios do rouxinol  aqueles em que intervinham as vogais "o", e "u"' e  excecionalmente o "bli", cuja beleza metálica não tinha comparação..
Como vemos havia uma miscelânea  de notas que se enquadravam nos Cloqueios, algumas que realmente eram as que atualmente se consideram Cloqueios  as restantes  pertenciam aos  atuais  Floreios. Por isso, foi muito acertado que o atual Código que aplica o Colégio Nacional de Juízes da FOCDE e a Confederação  Ornitológica  Mundial integrasse os verdadeiros Floreios  nesta denominação, enquadrando dentro deles as notas Chau e Piau que antes estavam diferenciadas, e define  e separe como Cloqueios as expressões canoras que imitem as que realizam  as galinhas chocas, o que corresponde com a correta definição gramatical do dicionário. Era pouco aceitável falar do Cloqueio em "bli", ou seja bli, bli, bli, como excecional expressão de beleza e mérito, se  temos em conta que o cloqueio  da galinha  não diz estes sons. O  mesmo se pode dizer dos exemplos bi, bi, bi,... pi, pi, pi,... e  para não falar dos  horrorosos tric, tric, tric,... próprios de um inseto.
Com a inclusão das notas Chau e Piau  ou  Chiau dentro do conceito genérico dos Floreios, se consegui em parte ampliar o número de expressões que se podem encaixar nestes, e de outra, que as notas citadas em primeiro lugar não tenham uma valorização  específica, o que ocorria nos primeiros Códigos e dava lugar a que canários que davam e produziam estridentes Chaus e Piaus, que por desgraça  abundavam e que eram autenticas estridências que soavam ao ouvido humano e que representavam o contrario do bom  gosto musical, da doçura e harmonia, somassem uns pontos e que num concurso podiam decidir o seu resultado ou a sua posição dentro de uma escala de méritos.
  
 
Os  Floreios constituem a parte do  canto que confere personalidade e um carácter definido ao  canário e beleza ao seu variado repertório. Tem um máximo de 9 pontos, valor que se concede às  notas de mais  alta qualidade. São colocados entre os diversos giros do repertório. Incontáveis e múltiplos. Exemplos: Pi-pi... tu-tu...tui-tui,ou-tou…lou-lou... tuli-tuli. . Tolu-tolu... Chau- chau... diau- diau.... Piau-piau... Liu-liu. tiu-tiu ... didlioo-didlioo... didel-didel... duti-duti... tschui- tschui... csilip-csilip... Etc.
Recentemente surgiu uma tendência ou  teoria, que felizmente não prosperou, pretendendo estabelecer ou diferenciar dois estilos, variedades ou supostas linhas de canto dentro do Timbrado. A do canário Floreado e a do canário Clássico. Deve recusar-se  rotundamente e de facto foi não aceite pelo Colégio Nacional de  Juízes da F.O.C.D.E. Diz-se  que o canário floreado é  aquele que generaliza  e se especializa fundamentalmente na  variada execução de Floreios, com prejuízo de outras notas integradas no Código. Visto que os Floreios são considerados no  Código como notas superiores, com máxima de 9 pontos (que são 27 no computo total), é  evidente que todos os canários, qualquer que seja a sua linha de canto, quer  seja seca (metálica ou oca) ou de água, deverão  generalizar, especializar-se e desenvolver da melhor forma variados Floreios. Ou seja, que todos os canários de Canto Espanhol terão que ser Floreados e quantos mais e melhores Floreios emitam e sempre que estes reúnam as devidas condições na  beleza da sua emissão, melhores exemplares serão, ainda que deixando bem  claro que os Floreios, quer  de ritmo semi-descontinuo (que são os que agora estamos considerando) ou de ritmo descontinuo chamados Floreios lentos, não constituam única ou exclusivamente os seus repertórios devendo logicamente distribuir-se ou ligar-se com outras notas integradas no Código. Portanto é inaceitável a denominação de Canário Floreado referente a uma suposta linha de canto.
Consta-me que num Concurso se pretendeu estabelecer esta distinção entre canários Floreados e Clássicos e que os Juízes que iam atuar no  mesmo fossem diferenciados (ignoro o critério “diferenciados”), e adjudicados individualmente e separadamente a cada uma destas fictícias modalidades, segundo o gosto ou opinião dos aficionados concorrentes desses  exemplares. Como é lógico os Juízes, com bom critério e autoridade, se negarão a esta absurda pretensão, e quando se chegou ao conhecimento do Colégio Nacional de Juízes/F.O.C.D.E. se deram as respectivas instruções para que este facto não voltasse a acontecer.
Quanto ao Canário Timbrado Clássico á uma definição abstrata que não matiza nenhuma classe de característica técnica e que não define nada no que se refere à forma de canto. Parece ser que alguns, mas poucos, aficionados, que não aceitam assimilar que o canto do nosso canário tem vindo evoluindo no decorrer do tempo, pelo  trabalho de muitos criadores que tem  sabido estabelecer e implantar novas e variadas notas, com as suas correspondentes variações, em relação ao repertório que tiveram  alguns dos antigos Timbrados, o que lhes serviu para recuperar uma estirpe de pássaros que por circunstancias, que agora não é  caso para  analisar, tinham quase desaparecido em Espanha, são estes os que consideram que aqueles exemplares, que em muitos  casos nem sequer chegaram a poder escutar,  devido a serem aficionados relativamente jovens, consideram que o  canário que eles chamam Clássico é o de carácter fortemente metálico, com fortes timbres e variações rodadas muito subidos de tom e  volume (muitas vezes estridentes e com atritos), com Castanholas que em ocasiões parecem chicotadas, com Floreios em suas formas de Chaus  e Piaus  subidos de volume e estridentes (que devem penalizar-se como estridências), sem notas de água, etc., esquecendo ou desconhecendo que quando se fez a reconstrução da raça já existiam as Notas de Água e que os velhos e histéricos  canários de Vich os tinham.
Desde há muitos anos e  hoje em dia, numerosos aficionados desprezam os Piau e Chau, eliminando-os drasticamente do  repertório de seus canários. Existem estirpes de cantores que já não os tem e  foram  substituídos por múltiplos Floreios. É uma questão de gostos, todos respeitáveis. Em relação aos Chaus  e  Piaus  é preferível  eliminar aqueles com  tons fortes e estridentes, que estragam o bom gosto musical e o ouvido  humano, mas podem-se manter os emitidos em tonos suaves, aflautados, doces, com boa dicção, bem ligados e que não se repitam mais  de 2 ou 3 vezes em cada emissão, se forem repetidos mais vezes podem causar má impressão no geral. Não é aceitável a teoria que se mantém nalguns aficionados, cada vez menos, que afirmam que um Timbrado, para ser de boa raça ou de raça autentica, tem que cantar muito forte, com o bico aberto e  emitir Chau  e Piau, ainda que o  canto esteja cheio de estridências. A  prática mostra-nos que existem em toda a Espanha estirpes de canários de um belo e variado canto, naqueles em  que se eliminaram  totalmente estes Floreios do seu  repertório.
Por outro lado, se generalizam em determinadas estirpes, que em muitas ocasiões tiveram o prazer de escutar e qualificar, uns belos e variados Floreios em distintas vocalizações e com diversas combinações gramaticais, ao mesmo tempo que também se escutavam as outras notas do repertório que integravam a ficha de julgamento, igualmente de excelente qualidade, formando um canto variado, harmonioso, bem ligado nas suas variações, cantando com tons agradavelmente melodiosos e sem notas excessivamente fortes, estridentes e duras, que como já se disse são adversas ao bom gosto musical.
 
 CAPITULO 9° – 1999 
 
Todos os conceitos técnicos estudados nos Floreios são iguais para a nota que agora nos ocupa, mas  com uma importante diferença, o ritmo de emissão, que é  descontinuo e lento como o seu nome indica, pelo alargamento das sílabas finais. Esta nota deve ser fundamentalmente básica e excelente para um bom canto. Tem uma separação muito marcado na  separação entre as silabas  de que se compõem as suas  múltiplas variações, que dentro de um acusado ritmo de emissão  descontinuo devem estar perfeitamente diferenciadas. Constituem a nota que mais  recorda, e inclusive supera, o canto do  Rouxinol.  Lembram  lindos Floreios musicais que os canários sabem colocar e desenvolver entre os diversos giros do seu repertório. Trata-se de uma nota múltipla desde o  ponto de vista da  sua possível composição gramatical e estrutura fonética, já  que na sua formação pode intervir o abecedário completo. Tratam-se de  notas maravilhosas, autêntica câmara lenta do canto, que se devem exceder ao  máximo e causar admiração a entendidos e profanos. Deve-se  procurar nos Floreios lentos a qualidade e a perfeição, sendo os de maior lentidão os melhores, aqueles em que o canário se recria na  sua emissão, distancia perfeitamente as sílabas e realiza-as  de forma suave, doces e prolongadas.
São incontáveis os Floreios lentos que podem chegar a emitir os canários, como simples exemplos colocamos aqui  alguns:
Tu-íi-Tu'líii-Tu-líii-Kí-óo-Ki-óoo-Wo-úu-Wo-úuu-To-úu-Toúuu-
To-lúu-Tolúuu-Blu-óoo-Doúu-Doúuu-Tiée-Ti-éee-Chia-úu-Chia-
úuu-Pia-üu-Pia-úuu Tulíii-Cha-úu-Chaúuu-Blióo-Blióoo.
Podem ser emitidos com tons e sons secos metálicos ou ocos (carentes de aquosidade) ou com som de água, segundo seja a linha de canto a que correspondam. Os de mais mérito são  aqueles em  que a vogal ou vogais finais se acentuam e prolongam na sua  emissão e se neles houver  intercambio nas distintas vogais, ainda mais agradáveis ficam.
Os  Floreios e os Floreios lentos são emitidos abrindo e cerrando o bico.
Dentro dos Floreios lentos convém fazer alguns comentários sobre as populares Notas Chau  e Piau, nas  quais sempre tem  existido muita polémica entre os aficionados. Desde que D. Juan Bautista Xamarró na sua obra "Conhecimento das dez aves menores de gaiola, seu canto, enfermidade, cura e criação", publicada no  ano 1604, disse sobre sua opinião do canto do canário no  capitulo dedicado a este pássaro, titulado "Da natureza e propriedade do canário": "a maior quantidade de  música deste é do rouxinol e muita do pintarroxo, e se não tivessem duas faltas, a primeira chilrear e a segunda que faz  Chau-Chau, e tivesse as flautas tão grossas como o pintarroxo seriam tão bons como ele... ".Podemos ver que então D.Juan Bautista Xamarró considerou  como má nota o Chau, e mais à frente segue  comparando-o com o pintarroxo e no resto com o  rouxinol , considera que o seu  canto deve ser largo de notas em  forma continuada de diversas voltas e que se elevará a sua voz tanto como o rouxinol, considerar-se-ia muito mais, já  que o canário canta todo o ano e os rouxinóis pouco mais  de 3 meses ao ano.
Como anteriormente se comentou, existem  estirpes em que as notas Chau  e Piau  ou Chiau estão muito enraizadas e por alguns consideradas hereditárias, mas noutras estirpes desapareceram  totalmente, como resultado de um largo processo de seleção por parte dos criadores, para conseguir a sua eliminação, o que põe em dúvida  se realmente possam ser consideradas hereditárias. Hoje em dia são a  maioria em todo o País os aficionados que criam  um canário em cujo canto não existem estes Floreios, substituindo-os  por outros diferentes que vem enriquecendo as diversas variações que possam emitir,  são aqueles que trabalham o canário Timbrado para aperfeiçoá-lo, que selecionam algumas linhas de  canto, seja a  seca ou a de água, para conseguirem  que o  conjunto do canto se desenvolva  com expressões o mais melodiosas possíveis, com suavidade, ainda que naturalmente o  canto metálico ou oco  ou  aquoso tenha  sons e tons mais ou menos elevados de maior sonoridade, se os comparamos com as outras duas raças de canários de canto existentes (Harze e Malinois). Nos casos de estirpes que ainda mantenham o Piau  e Chau  há que procurar e selecionar aqueles  que as emitam em ritmo descontinuo, com dicção perfeita, aflautada, suave podendo serem mais alguns dos  incontáveis Floreios Lentos que se podem chegar a cantar, os melhores são os emitidos com majestosa lentidão e à semelhança dos  Floreios  não os repetirem mais  que  duas ou  três vezes. Como já  expliquei no anterior artigo, quando isto se consegue, e que já vem sendo observado em  bastantes canários, desaparecerá a antipatia, o repudio e a má fama que hoje em dia, para a maioria da “afición” tem estas duas notas, que para muitos são um estigma. Os  que criam um pássaro que na sua  estirpe hereditariamente os mantenham, mais que eliminá-las  drasticamente do  seu aviário, trabalho bem difícil de conseguir , ainda que o consigam em determinados exemplares, podem chegar a manifestar-se nos seus descendentes, se é que estão impressos geneticamente e produzir-se inesperadamente o  "salto atrás" da herança, convém que os trabalhem de modo que sejam emitidos da melhor  forma como  comentada anteriormente, eliminando os de tons estridentes e fortes que constituam estridências e durezas penalizáveis.
Ao se terem eliminado os Chau  e Piau  na  maioria dos aviários, aconteceu que nalguns casos os  canários ficaram curtos de repertorio, por isso é muito importante que os aficionados fomentem outros Floreios  Lentos, dentro da grande variedade  que com eles podem cantar os canários desta raça. Nestes  anos que venho atuando como Juiz desta especialidade, a cada temporada e em diversas sociedades pertencentes às mais variadas regiões espanholas, observei que a maioria dos canários por mim julgados, numa percentagem aproximadamente  entre 70% e 80% já não fazem em absoluto os Chau e Piau, prova de que os aficionados fizeram a seleção oportuna para esse objetivo.
Quero recordar a opinião manifestada por D. Alejandro Garrido (Juiz da Associação de Canaricultores Espanhóis de Madrid) publicada no  n° 12, no ano 1960, da Revista Pássaros, que diz: "Existe uma grande maioria que despreza o Chau Chau, preferindo que não figure no repertório dos seus canários, por considerá-los uma nota má e feia na sua audição. O  único que devemos exigir, é  que seja executada em estrofes muito  curtas e lentas com boa  ligação entre si. Todo o Chau Chau que se prolongue mais de cinco sílabas, deve ser evitado. Da mesma maneira que o Piau  Piau, como  nota de pouco mérito, pelo que a sua pontuação é baixa nos  concursos.
Notas Lentas  (atualmente Floreios  Lentos), grupo auge deste canário. Aquele canário que domine amplamente parte da inumerável gama de Notas  Lentas  ou Floreios, que a sua siringe pode emitir será um futuro campeão. É  aqui onde a semelhança  com o Rouxinol é mais parecida. Para que a emissão  deste grupo seja  perfeita, o canário deverá ter uma voz sonora cheia de  matrizes e que a execução seja  limpa, agradável e fácil. Na  constituição  destas notas, podem intervir uma consoante e duas vogais: Tui-Tui, ou melhor duas  consoantes e duas  vogais: Clu-i-Clu-i. É natural que sempre se preferira que as consoantes e vogais que intervenham sejam  brandas, não pontuando aquelas em que intervenha a "R", já  que na  prática se demonstrou que a nota onde esta se percebe resulta duríssima e feia, como sucede nos Cloqueios.
As  Notas  Lentas, regularmente, são executadas no começo, ou à saída do canto, e deverão ser escutadas em passagens curtas ligando a continuação com outra nota. Se o canário a faz  muito longa deverá ser sancionada, já que se destacará mais que outros grupos na sua duração. Podemos  assegurar que este grupo é o que verdadeiramente identifica o  canário Timbrado ou do  País. Não há  outra raça que possua uma  siringe  tão adequada para executá-las (excepto o  Rouxinol), com a sonoridade e  limpeza que se requerem. O  que é uma verdadeira pena é que muitos poucos  canários tenham  no seu repertório variedade de Notas  Lentas quase  todos se limitam a um par de variações ou, no máximo três. Os criadores desta raça deveriam prestar mais  atenção  para incluir mais esta  variedade de notas no reportório dos seus canários. Imaginamos um canário que no seu  canto executa seis ou oito variações no grupo das  Notas  Lentas? Era  possível que então esta raça tivesse muitos mais  adeptos, e outros não a desdenhariam, dizendo que este canto não é agradável, visto que as Notas  Lentas bem emitidas e  com um repertório adequado, podem  usar-se, em beleza, nas  executadas por outras raças. Não pode ser perfeito, nem  sequer ser bom, um  canário que no seu  repertório não possua  Notas  Lentas. Há que gravar-se isto bem, e toda a insistência é pouca. Nos concursos, sempre se dá vantagem àquele canário que as possua. Devemos virar-nos  por completo para elas e para os Cloqueios, e assim esta raça triunfará".
Quando se propôs apresentar à Confederação Ornitológica Mundial uma Planilha ou Ficha de julgamento e seu regulamento para a classificação dos canários nos Concursos internacionais, os Juízes da nossa entidade encarregaram-se  e  assumiram  a  rejeição que entre os aficionados dos demais países produziam os Chaus  e Piaus  estridentes, que consideravam notas próprias de um pássaro vulgar e primitivo, sem cultivar, conhecido com o nome de "CHOPPER" que existia em todas as partes e países. Por esta razão e para que fosse admitido sem reservas a Planilha que apresentou o nosso País à C.O.M., as ditas notas foram eliminadas da mesma, não figurando os seus nomes e ficaram enquadradas no nome genérico e amplo dos Floreios. Desde sempre se manteve este bom critério e nas diversas Planilhas modernas, que se realizaram no decorrer do tempo pelo Colégio Nacional de Juízes, não voltaram a figurar, precisamente por se ter adaptado as mesmas à evolução cultural que este canário tem vindo sofrendo durante os anos, pelo trabalho de muitos aficionados, evolucionando no sentido de um canto mais agradável, mais melodioso e  mais musical dentro da variedade que caracteriza  o  mesmo, de modo que se as voltassem a incluir, haveria supostamente um grave retrocesso na evolução do canto, quando de facto os Piau e Chau  nas suas manifestações estridentes, chicotadas e vulgares   desapareceram na maior parte dos aviários, e inclui-las novamente seria uma ação retrógrada, não apropriada ao  conceito moderno do bom canto do canário espanhol que deve ser refletido na sua  Planilha e Regulamento de julgamento nos concursos.
Numa das ocasiões em que tive a honra de atuar como jurado junto a dois maestros como foram Alejandro Garrido e Esteban Crespo, foi na sociedade ornitológica conhecida como "A Concordia". Atuamos os três simultaneamente, estabelecendo uma media de  3 fichas de julgamentos, como teoricamente se deveria fazer em todos os concursos mas  que na  prática é , por diferentes causas, difícil de conseguir. À direita sentava-se Crespo, Garrido no centro e eu à esquerda. O concurso decorria normalmente, sem que o canto dos canários que estávamos a julgar não haver nada de especial nos seus repertórios e nas suas qualidades, até que apareceram em cena umas equipas que, cantando incansavelmente, nos deram causaram um grande impacto pelo seu formidável canto. Eu  nunca tinha escutado esse estilo ou forma de canto  com abundantes  Floreios, semi-descontinuo e lentos, muito bons e variados. Cloqueios  muito claros, Notas  Conjuntas  e variações aquosas, ligadas facilmente entre outras. Recordo o entusiasmo que ostensivamente manifestou Garrido, dizendo em voz alta: "Esse é o verdadeiro canto que devemos cultivar no Timbrado", repetindo várias vezes frases parecidas. Aqueles magníficos exemplares foram apresentados a Concurso pelo  meu bom amigo, o  atual Juiz de Timbrado de F.O.C.D.E., Angel Reca Comillas.
 
CAPITULO 10° - 1999
 
CLOQUEIOS:
O dicionário da Real Academia da Língua define o  verbo cloquear como "o som Clo-Clo que emite a galinha", o dicionário Espasa como "o  cacarear da galinha choca", ou seja, por ser  parecido com o som que emite a galinha ao  acompanhar e chamar os seus pintos. No canto do canário não nos podemos cingir exclusivamente a este som oco, já que emite outros também ocos que, por sua estrutura, podem figurar e considerar-se como Cloqueios. Este conceito pode-se aplicar igualmente ao canto de outros pássaros. Esta nota pode-se considerar como única na sua composição gramatical, ainda que tenha várias modalidades de expressão. Também ainda poderíamos considerá-la como nota múltipla, mas limitada nas suas possíveis formas de emissão. Letras e sílabas que a compõem: Consoantes "b", "c", "g", "k", "l", "t". Vogais "o", "u", "i". As melhores expressões são aquelas em que as consoantes são suaves e as vogais ocas e com sonoridade. Destas últimas as melhores são a "o" e "u" e suas combinações "uo" e ou" por serem capazes de produzir bons sons ocos.
Exemplos: Clo-Clo, Clou-Clou, Cok-Cok, Gluok-Gluok, Co-Co, Cou-Cou, Clok-Clok, Cluk-Cluk, Bloc-Bloc, Tok-Tok, Glok-Glok, Klok-Klok, Gluk-Gluk, Tiok-Tiok, Tiuk-Tiuk, Bluk-Bluk...
Na  emissão podem  produzir-se variações, ainda que isto não costume ser corrente pela dificuldade que implica, ao intercambiarem-se vogais e consoantes, intercambiar vogais, intercambiar consoantes ou trocar o som de uma  sílaba ou ditongo por outro, sem deixar de ser Cloqueio e dentro das diversas e possíveis  manifestações que temos visto.
A  frequência de emissão depende das letras ou sílabas que intervenham para formar a nota, com um máximo de frequência de 2 ou 3 golpes seguidos. É quando alcançam maior mérito e  valorização,  terão mais valor se se alargam as vogais e se for mais  pequena a frequência da emissão. O  ritmo de emissão, nas suas melhores expressões, é  descontinuo e suas sílabas devem pronunciar-se bem separadas, marcando muito claramente a consoante final. Também podem ser emitidos de forma acelerada ou rápida, pelo que o seu ritmo de emissão se converte em semi-descontinuo ao serem cantados os Cloqueios de forma ligada ou em cadeia, na  que a consoante final estará menos marcada. Esta forma de emiti-los costuma ser frequente e tem menos valor.
Nos  Cloqueios, como nas  demais notas do repertório deste canário, há que distinguir os que correspondem à linha seca ou à de água. Os melhores são os que  correspondem  à linha oca,  precisamente porque o som oco e doce fica mais  meritório e  agradável que, normalmente, o  emitido por um canário de linha  seca metálica, já que este logicamente será menos oco  e mais  metálico Se é canário de linha  de agua, então os Cloqueios terão um arrastamento aquoso na sua emissão, um som de fundo onde se percebe um som de água que é o que lhe dá o carácter que corresponde a esta linha.  Nos Cloqueios aquosos há que ter presente que nas suas  emissões lentas, intervém a vogal "i" combinando-se com outras das vogais, e  se marca excessiva e profundamente o som de  agua, pode converter-se, em determinados casos, na  nota que mais adiante estudaremos, denominada no Código como "Água Lenta".
Os  Cloqueios constituem uma bela nota. Os mesmos podem  alcançar grande  valor se os emitirem de forma seca e oca se os fizerem  com aquosidade, isto irá em função da linha de canto que tenha o canário. Podem formar excelentes combinações com os Floreios, quando são emitidos com ritmo semi-descontinuo ou acelerado,  de igual modo com os Floreios Lentos, quando o seu  ritmo  é  descontinuo ou  pausado, todos eles  em suas formas simples e compostas. Isto acontece quando o  canário se recria na canção, produzindo um canto variado muito agradável, que é o que marca a sua personalidade e diferença das outras raças de canários de canto, acompanhado com outras notas do repertório que veremos.
Tem que se ter cuidado em não estimular em  demasia o canário pródigo em Cloqueios na sua  canção, já  que esta nota poderá afetar a boa dicção dos Floreios, ao  incidir e possivelmente introduzir consoantes na  mesma, com a conseguinte alteração na sua  correta modulação e vocalização.
Os Cloqueios são modulados pelo canário com a boca e a língua, modulação bucalingual. Tem a sua equivalência  no  canto do  Roller com os Gluken, palavra que no  idioma alemão tem o  mesmo significado que no espanhol. Esta nota será más fácil de cultivar nas  estirpes que possuam  maior facilidade para emitir modulações linguais.
 
 CAPITULO 11° – 1999
 
CASTANHOLA:
Quando é bem emitida pelo  canário, constitui uma  bela nota com um  som onomatopeico que recorda o entrechocar rítmico do instrumento musical espanhol com esse mesmo  nome (feito de madeira seca, consistente e oca). Pode-se  considerar uma derivação ou  variação dos Cloqueios, com as consoantes "c", "k", "l" y "g", variando a  vogal que agora  será a "a". Similar aos  Cloqueios quanto à intensidade e altura.
É  nota única: Clak-Clak, Glak-Glak, Clac-Clac, Glac-Glac, Klak-Klak.
O som da consoante  "k" define muito bem esta nota, já  que pode perceber-se na  emissão no principio e fim da mesma, acompanhada pelos outros sons das letras "l" e "a". Às  vezes pode misturar-se o som da "n", produzindo a pronunciação de "Klank-Klank", que resultará menos meritória. A  que termina  em consoante "n" será dura e má. Sempre há que ter presente que quantas mais consoantes intervenham e se misturem no canto de um canário, menos valioso e mais confuso ficará  o  mesmo, já  que as consoantes introduzem, geralmente, ruídos e sons ásperos.
O  ritmo de emissão  pode ser descontinuo ou semi-descontinuo, o que depende da menor ou maior lentidão com que seja emitida, considerando-se as mais meritórias as que se realizam lentas, sonoras e doces, marcando bem os golpes da mesma, que normalmente não superam  os 2 ou 3 golpes. Serve para o canário, como modelo de imitação, o canto do rouxinol  com suas magnificas castanholas emitidas suavemente e com doçura. É então quando alcançarão o seu maior valor.
Ou seja, há que cultivar as Castanholas  principalmente em ritmo descontinuo, ocas, limpas e, repetimos, com clara semelhança com o som produzido pela lenta percussão de umas Castanholas. Constituem um som simples e  com escasso número de harmónicos. Não serão admitidas como Castanholas as deformações ou mistificações, como são as que se produzem ao mudar as consoantes iniciais CL, GL, KL pelo som que produzem as "CH" (Chas, Chac...) que, se são emitidas com força, parecendo duras chicotadas, extremamente desagradáveis ao ouvido.
Em geral, e desde há muitos anos, a maior parte da “afición” tem vindo a eliminar dos aviários aqueles canários que emitem as "CH" no seu  repertório, como são as que acabamos de ver e os Chau, Chou, Chi, etc., por considerarem  que a presença e combinação destas consoantes prejudica o bom canto, sobretudo se se  efetuarem  com força e excessivo volume. Muitas vezes constituem estridências que tem  que se assinalar e penalizar-se, pelo que devem ser eliminadas.
A  Castanhola, ainda que presente na  maioria dos canários, raramente se escuta de forma superior, ou seja, de forma doce e suave, como uma carícia,  que nos agrada ouvir. Deve ser objeto dos aficionados do Timbrado procurar que os seus canários a devam fazer com mais frequência, e voltar à antigas essência do que antigamente se denominou "Canário do País", que a usava muito e  de maneira tão bela que verdadeiramente recordava o Rouxinol.
As Castanholas  podem formar excelentes combinações com os Cloqueios, simplesmente quando o  canário ao cantar troque a vocal A" pela  "O" e com os Floreios  nas suas diversas maneiras de se expressarem rápidos e lentos. Poderão  ter um som de fundo aquoso, se forem exemplares de linha de água,  se pertencerem a uma linha seca oca  o som será oco .
A  pontuação máxima da  Castanhola  é de 3 pontos. 
 
CASCAVEL:
Recebe esta nota a denominação de Cascavel  pela semelhança que tem com o som que produz uma  campainha de sobremesa ou pequeno cascavel (guizo). Pela sua composição gramatical é uma nota única, compondo-se nas suas melhores emissões pelas consoantes "l" e "n" e a vogal "i", que produzem um som  alegre e metálico: lin-lin-lin. Os  exemplares mais capacitados para emitir os Cascavéis  limpos e puros são os que correspondem à linha de canto seca metálica, por serem os que melhor  podem marcar a consoante "n" final, produzindo o som metálico e alegre comentado. O seu ritmo de emissão é semi-descontinuo, de forma muito rápida e, para que alcance o seu verdadeiro valor a consoante "n" final, deve demarcar-se e pronunciar-se muito bem, já que esta condição é a que produz uma grande sonoridade, metalicidade e beleza. Nesta nota a vogal "i" joga um papel fundamental e o som costuma ser excelente devido à doçura da consoante "l".
Esta bela nota que, como se disse, é fácil de emitir corretamente pelos canários muito metálicos,  atualmente perdeu-se em grande parte já que a grande maioria dos pássaros que agora se ouvem nos concursos não pronunciam a sílaba "lin", por terem perdido a consoante "n" final e o que pronunciam é a sílaba "li". Ou seja, "li-li-li" que, sendo igualmente um Cascavel, é menos meritório, e mais diminuída, sendo considerado    como suficiente na  hora de classificá-lo. É consequência de se ter desenvolvido, na  evolução do canto, outras linhas distintas da  pura seca e metálica.
O  Cascavel pode-se  manifestar de forma plana (que é a mais frequente), ascendente, descendente e modulada (excecionalmente), sendo esta ultima a mais meritória. É importante que sempre se pronuncie claramente a "l" inicial e que o  ritmo de emissão  seja semi-descontinuo, já  que se este ritmo se acelera pode chegar  a aparecer a consoante "r" no  lugar da "l" e, fazendo-se o  ritmo continuo e passaria a ser um Timbre. Há que diferenciar bem uma nota de outra, pois  já se disse que a expressão "li-li-li" poderia  passar a ser catalogada como Timbre, isto  seria um  erro, porque o  Timbre é uma nota de ritmo de emissão continuo em  que sempre intervém a consonante "r" e, de se considerar  como tal "li-li-li", resultaria que aumentaria a pontuação do Timbre, mas, em troca, uma grande percentagem de canários ficariam sem  pontuar o Cascavel  quando realmente o tem. Felizmente  esta opinião não prosperou  tecnicamente e não foi  admitida no  regulamento.
Existe semelhança do Cascavel com as notas do Roller (Klingel) e  Malinois (Bellen). No  tratado de Mariella di Mauro e Gustoaf Lelievre sobre o canário Malinois disseram-nos: "Bellen = Campainha". A  Campainha tem uma característica bem precisa. A  particularidade esta no facto de que a silaba se repete com uma pequena batida ou  separação de uma a outra silaba, utilizando  a letra "l" na  separação. É  evidente que não é um giro rulado e é composto por um som separado: "li-li-li; lingling-ling; lung-lung-lung; lu-lu-lu.. Tem ressonância metálica e recorda um pouco a campainha  rulada.
No  tratado de Fratantoni sobre o  canário Roller, diz-se  "Klingel = Campainha". Tour semi-descontinuo. O seu som pode representar-se  pelo que produz uma campainha de prata ou um chocalho, que deixam ouvir claramente o silábico "li-li-li", "di-di-di", segundo  utilize as consoantes "l" ou  "d"; com mais frequência a "l".
A pontuação máxima do  Cascavel é de 3 pontos. 
 
CAPITULO 12° – 2000 
 
CAMPAINHA:
Nota única pela sua  composição gramatical, admitindo algumas variações. Recebe o seu  nome pela  semelhança que tem com o som de uma campainha, podendo ter diversos tons, contemplando-se o  som onomatopeico do  instrumento usado nos  centros de culto para chamar os  fiéis. A sua estrutura gramatical e  fonética, o seu ritmo de emissão descontinuo, que pode ser mais ou menos acelerado, beleza musical, etc., é  similar às  características dos Floreios Lentos  e  antigamente se enquadravam dentro destes, mas atualmente foi diferenciada devido a se ter espalhado muito nas estirpes de canários e merece ser separada e individualizada. Normalmente escutam-se  2 ou  3 golpes com uma marcada separação entre as sílabas que a compõem, com sonoridade, eco e sons metálicos, que são os melhores, ou ocos, o que depende da sua linha de canto. Os  canários da linha seca metálica ou oca são os mais capacitados para a emissão de belas Campainhas.
Pode compor-se das seguintes consoantes: "B", "C", "D", "L", "M", "N", "P", "T", "NG", "NK", devendo terminar sempre com as "N", "NK" y "NG", que lhe dão o  som de uma campainha. E as vogais: "A", "I", "O", "U", "OU", "UI".
Exemplos: Ting-Ting, Tan-Tan, Tam-Tam, Di-long-Di-long, Ti-long-Ti-long, Tang-Tang, Tlan-Tlan, Tlonk-Tlonk, Tonk-Tonk, Plan-Plan, Tong-Tong, Clon-Clon, Lon-Lon, Blong-Blong, Din-Din, Dong-Dong, Ting-Tong, Tuin-Tuin, Tung-Tung, Toung-Toung, Plon-Plon.
A sua  maior beleza é alcançada quando o  canário for  capaz de emitir diversas combinações de, entre os vários exemplos indicados anteriormente. Os canários podem emitir numerosos e diferentes sons de Campainha, dos muitos exemplos expostos, ainda que os de mais mérito e pontuação, e que mais se parecem a uma Campainha, são aqueles em que intervenham as vogais "A" e "O", são estas que lhe dão maior metalicidade e uma perceção de oco, e  finalizando com as citadas "N", "NG" y "NK".
Os  sons metálicos e a Campainha podem ser dados normalmente em tom alto e uma mudança de tom  na sua  emissão aumenta o  seu valor. O movimento normal é o horizontal, a seguir o  ascendente e  muito raramente o descendente. É muito frequente e  são  numerosos os canários que emitem a Campainha com o som fonético de "Ting-Ting-Ting", que pode considerar-se como suficiente (é  parecido  ao som que se produz  batendo  com uma barra metálica  num copo ou  taça de cristal). Este som, no  caso de  não se considerar Campainha, deve de  ser classificado e pontuado como um Floreio  Lento  ou Floreio  dependendo do seu ritmo de emissão. Como são muitos os canários que a emitem é melhor  considerá-la  Campainha, se não for assim a maioria não  teriam  pontos nesta nota.
A  pontuação máxima que pode ter é de 3 pontos. 
 
ÁGUA LENTA:
Os Cloqueios  Aquosos  emitidos de forma lenta ou  descontinua, podem ser realizados por  aqueles canários dotados de um órgão canoro apropriado para realizar notas de agua. Os  que melhor os emitam são os que pertencem  à linha de agua. É nota composta pelo duplo ou triplo som que produz, tendo sempre como fundo o som de água, ou seja, timbre e sonoridade aquosa. Um bom exemplo é o de uma torneira que pinga  uma grossa gota de água, que cai de uma certa altura sobre um balde ou recipiente meio cheio de liquido. No canário Timbrado, até agora, não é  muito  infundida, ainda que, quando se escuta e é bem emitida, resulta muito agradável pela sua  beleza e dá muito valor ao  conjunto do  repertório. Convém destacar a sua semelhança fonética com os Klok do canário Malinois, mas fazendo constar que, pela estrutura da siringe do Timbrado, não chegam à  perfeição de profundidade e aquosidade que se manifestam nos  Malinois, por serem  estes os verdadeiros especialistas no  canto de agua.
Ainda que o seu verdadeiro e  melhor  ritmo de emissão seja o  descontinuo, às  vezes pode apresentar-se de  forma ligada e rápida ou  semi-descontinua, que tem  menos valor.
O texto fonético está limitado pela  presença das consoantes "B", "C", "G", "K", "L", "V", "W" e as vogais "I", "O", "U".
Exemplos:  Gloik-Gloik…. Kloid-Kloid…. Gluik-Gluik…. Bloik-Bloik…. Bluik-Bluik….. Gluic-Gluic….. Wluic-Wluic….. Liuc-Liuc….. Loic-Loic…. Bloui-Bloui…. Gloui-Gloui…. Wloic-Wloic…..Bloi-Bloi
Se  em todos os giros ou notas se precisar de uma boa dicção, no  caso da Agua Lenta, e nas demais variações com sons de agua, esta condição se exige ao máximo,  especialmente para que  as consoantes que intervém sejam emitidas de forma nítida e pura, se não for assim, pode-se  produzir um som borrado que faz  perder ao  conjunto do canto parte da beleza e musicalidade.
Para que o  som  de agua que goteia seja  o mais  nítido possível, basicamente é  necessário que  a vogal "I" apareça combinada com as outras vogais com arrasto ou alongamento do  som na ultima vogal e sempre com  a consoante "L". Na  emissão desta nota, o canário pode utilizar também as vogais "A" e "E", mas o som aquoso que se faz  será de muito pior qualidade, menos claro e até borrado. Convém assinalar que as melhores emissões são aquelas em que as  vogais se apresentam formando ditongos e tritongos e as consoantes são brandas, limpas e profundas.
Como se comentou anteriormente, a Agua Lenta escuta-se  pouco, ou seja, que no  canto   se lhe  atribui um valor segundo  seja a qualidade da sua emissão e facilidade de repetição pelo  canário, ou não existe. Por ser uma nota que, quando é bem emitida, embelece extremamente o repertorio tão variado do canário Timbrado Espanhol, por ser precisamente a variedade de notas que podem chegar a cantar uma de suas características, convém desenvolvê-la e cultivá-la nos exemplares da linha de agua, já  que terão maior aptidão para a  realizar.
O máximo valor que se lhe  atribui é  de 6 pontos. 
 
CAPITULO 13° - 2000 
 
TIMBRES:
É  nota de ritmo de emissão continuo, já  que as sílabas que os compõem se repetem de forma ininterrupta e rápida. Estão ligadas umas às outras ficando um som continuo. O  canário reproduz onomatopeicamente o  som similar a determinados timbres que normalmente se escutam, como o telefono, um relógio  despertador ou de uma porta.
É  nota única por sua composição gramatical, formada sempre pela sílaba "RI", intervindo na sua estrutura a consoante "R" e a vogal "I". As suas duas letras devem escutar-se ao mesmo nível de força, já  que se uma ou  outra sobressaem, o Timbre perde valor, ficando  duro se se marca muito  a "R" e  agudo se for  a "I"  que sobressaia. Pode emitir-se de forma plana ascendente, descendente e modulada, sendo esta ultima a que se produz ao mudar o  canário o  tom do Timbre formando sons e escalas ascendentes e descendentes. Quando se emite ascendente e se prolonga demasiado, o canário pode-se afogar na nota e originar a falta denominada rascada.
São sons simples cuja frequência de emissão  rouca é tão rápida e a separação entre as sílabas tão curtas e breves que o  ouvido unicamente percebe um som continuado: "riririririri", é mais doce e  agradável quando a vogal domina ligeiramente sobre a consoante. Os Timbres  são as notas de emissão  continua mais próprias deste canário, mas  realizadas de forma breve, sem se alargar demasiado, também são emitidos por outros pássaros silvestres e igualmente pelas outras duas  raças de canto reconhecidas oficialmente.
A  pontuação máxima é  de 3 pontos.
Seguidamente estudaremos as denominadas Variações   Rodadas, ainda que agora convém assinalar  que os Timbres se podem considerar igualmente como Variações   Rodadas  por serem  idênticas no seu  ritmo de emissão continuo, rouco, ainda que a sua modulação varia segundo o uso de  diferentes vogais. 
 
VARIAÇÕES RODADAS:
São passagens musicais do canto, emitidas de forma simples, ritmo continuo e frequência algo mais lenta que os Timbres, que se  diferenciam pela troca de vogais, sendo de intermitência tão pequena que dão a sensação de que esta não existe, ainda que é  seja maior que a dos Timbres e que podem chegar a ter um som grave que não deve ser excessivo. O seu  texto fonético é  limitado e de sonoridade oca, intervindo a consoante "R" e "RR" e as vogais "E", "EI", "O", "U" e "OU". Exemplos: "rererere..." , "reireirei...", "rorororo...", rurururu...", "rourourou...". Deve existir um equilíbrio entre a consoante e as vogais, porque se predomina a primeira ficará um som duro.
A  duração das Variações deverá ser curta, de uns 3 ou 4 segundos, e  será de mais  valor quanto mais oca for  e profundidade tenha o seu som. Pode ser emitida  como nota de enlace entre outros notas que integram o seu canto. Em comparação com os Timbres, a cadencia de emissão das sílabas que as compõem é maior, o que dá lugar a que a impressão de continuidade e  som rodado se  ouvir  de forma mais perfeita. Pela  sua curta duração não é  aceitável o intercambio de vogais ou modulação de sons, já  que para fazê-lo, o  canário teria que alargar as Variações e entraria em  pleno na emissão de Rulos, o que seriam penalizáveis e até motivo de desclassificação se forem doces, ocos e  profundos, especialmente com o  emprego da "U" (próprios do canário Roller), pelo  que a presença das  Variações  Rodadas  no  canto do Timbrado devem ser muito  prudentes e curtas. O  normal é  que se escutem com movimento plano que  também podem ser ascendente, se eleva o tom, e o descendente seria perigoso pelas causas explicadas anteriormente. Quando nestes  giros intervém a vogal "E" há tendência para  a nasalidade e  fricções, pelo que esta vogal deve ser pronunciada de forma limpa e clara que às  vezes se dulcifica pelo tom metálico do canto. Se se combinam as vogais "E", "I" fica com um som agradável e a possível nasalidade da "E" é  fácil de  desaparecer.
A  pontuação máxima é  de 6 pontos.
Uma vez analisadas as notas anteriormente descritas, os Timbres  e as Variações  Rodadas, convém fazer algumas  considerações.
Se estudamos as outras duas  raças de canários de canto oficialmente reconhecidos, o  Roller e o Malinois, veremos a existência de uma grande afinidade entre as citadas notas com outras similares que emitem essas raças e  podemos chegar  à conclusão de que os denominados Timbres  e Variações Rodadas  existem igualmente, no  que se refira à  estrutura gramatical, dicção e  expressiva fonética, no  Roller e  Malinois.
Se compararmos os Timbres (ririririri....) como nota de ritmo de emissão continua composta pela consoante "R" e  vogal "I", no  Roller chama-se Klingelrol (rulo timbrado) e as Variações Rodadas  igualmente formadas com ritmo continuo com  a "R" e  vogais "E", "O", "U" são os Hohlrol  (rulos ocos), que com  a vogal "E" são de menos valor por serem  geralmente nasais e com as "O" e "U", os de maior valor pela sua qualidade oca e de doçura. Também  são comparáveis com os "Knorren" pelo seu ritmo continuo, consoantes "RR", "KN" e  vogais "O" e "U".
No  Malinois, os Timbres  e  Variações Rodadas  englobam-se no giro Belrol, já  que além da  vogal "I" podem entrar em jogo as vogais "Ü" francesa, a "O", a "U" e "OU" (ririri...; rürürürü..., rororo....; rururu.... e rourourou....), e sempre com a consoante "R". Também entram nas Variações Rodadas  os "Knorr" com as consoantes "KN" e as   vogais "O", "U", "OU" (knor-r-r-r; knur-r.r.r-r; knour-r-r-r). Igualmente as "Fluitenrol" ou Flautas rodadas com uma apenas perceptível "R" e  em forma variante (ruroruroruro).
Os  Timbres e  Variações Rodadas  está demonstrado que são característica comuns às  três raças de canários de canto reconhecidas nos concursos, com as lógicas diferenças do seu  tom, vocalização e  dicção derivadas das qualidades próprias de cada raça na  forma de expressá-las e segundo seja a sua siringe mais ou menos apta para emiti-los. Se examinarmos os conceitos anteriores, claramente se deduz  que pretender definir o canário Timbrado Espanhol com o argumento simplista e carente de conteúdo técnico pelo facto de emitir Timbres  e   Variações Rodadas  , quando esta característica é  comum às  outras duas  raças de canários, desta forma podíamos chamar também  de  canários timbrados ao  Roller e ao   Malinois, tendo, pois, um Timbrado Alemão, um Timbrado Belga e o nosso Timbrado Espanhol. Este raciocínio  foi  o que deu  lugar a que este critério não fosse  admitido pelos  Órgãos Técnicos do C.N.J./F.O.C.D.E. e pela imensa maioria da “afición”  dedicada à  seleção do Timbrado Espanhol enquadrada em F.O.C.D.E,  mantém outro critério à forma como se deve definir este e as características que o diferenciam das outras raças, segundo a evolução cultural e  desenvolvimento alcançado nas  últimas décadas. O critério mais adequado e  técnico usado para a  definição do Timbrado Espanhol está baseado no  tom  timbrado metálico do seu canto e é este o conceito   aceite pelo C.N.J.
A diferença  entre o  Roller e o Malinois estabeleceu-se internacionalmente com base nalgumas características técnicas que os distinguem perfeitamente nas  virtudes do seu canto e  não é  precisamente a emissão de notas que lhe são comuns como são os Timbres (que na  realidade são rulados com a vogal "I"), as utilizadas para estabelecer as diferenças, são somente a sua qualidade e perfeição na emissão de Ruladas simples ou duplas, ocas ou  profundas no  Roller e as diversas e aperfeiçoadas  Notas de Agua para o  Malinois. No  Timbrado Espanhol  os Timbres  e  Variações  Rodadas  (que noutros tempos também se chamavam  Timbres com as vogais “E", "EI", "O" e "U") são  foneticamente consideradas ruladas melhor ou  pior emitidas; logicamente não podem nem devem alcançar  a perfeição com que as emitem os Roller devido a que a sua siringe não está  desenvolvida nem  especializada para isso e  que se as realizaram com profusão iria em detrimento das  notas de ritmo de emissão semi-descontinuo ou descontinuo e das de Agua, que também emitem determinados canários de Canto Espanhol, segundo seja a sua linha de canto, ainda  que, como já se disse, sem a perfeição com que  as realizam os Malinois que estão especializadas para elas. São precisamente  as notas semi-descontinuas e descontinuas as mais  belas a que pode chegar a emitir um Timbrado, simples ou compostas (Variações Conjuntas). Por tais  motivos, os Timbres  e  sobretudo las Variações  Rodadas  convém  que tenham uma  emissão curta, breve e sem  modulação, que por se  produzir com qualidade oca e de doçura  dariam origem à sua desclassificação num concurso, que também  se enquadra  na  consideração de serem  Rulos que correspondem a outra raça de canto como é o  Roller.
A  canaricultura de canto, como a das outras variedades que abrange, evolucionou a  passos de gigante no século XX e  seria absurdo que, por exemplo, no  canário Roller atualmente alguém pretendesse voltar a implantar os conceitos que estiveram vigentes até finais do século  XIX, quando um génio como Trute criou uma considerada e então  fabulosa estirpe de canários do Harz, que atualmente já não existem nem seriam admitidos. O  mesmo se pode dizer a  respeito do  Malinois atual, bem diferente àquele dos princípios do século XX. As duas  raças evolucionaram e os Códigos de Classificação são muito distintos. O mesmo aconteceu com o Timbrado Espanhol que, ao evoluir, se melhorou  para conseguir estirpes e linhas de um canto mais  belo e agradável, procurando eliminar os timbrados gritantes, estridentes, subidos de tom, sem notas de agua, que incomodavam o ouvido quando os escutávamos, com notas vulgarmente emitidas como estrondas e potentes Piaus, Chaus, Castanholas  e Timbres  com diversas vogais  duras e constantes, num  canto geralmente medíocre próprio dos denominados internacionalmente "Chopper" ou canários “balconeros”. Estes tipos de canto que, por desgraça, ainda  persistem, ainda que em minoria, há  que procurar eliminá-los, já que pretender seguir com eles pode  ser indicio de existirem "motivações" extra desportivas alheias à criação do canário, neste caso do nosso canário nacional, o criador aficionado deve selecionar e  cultivar o bom canto que, sobretudo, resulte variado, melodioso e agradável de ouvir.
Seria rejeitável julgar  atualmente com a Planilha de Classificação e  Código que se usaram para o Timbrado quando se criaram à  50 anos, agora resultariam obsoletos e  retrogradas, como si nada houvesse mudado e  evolucionado em meio século e o que  causaria um grande prejuízo para o nosso canário, confundindo gravemente aos aficionados a sua criação. Não podem ser mantidos alguns  conceitos que se estabeleceram então, sem dúvida com a melhor boa fé e por pessoas  capacitadas naquela altura(não partilhados agora por outras  igualmente competentes), ignorando a  evolução que teve o canário Timbrado desde então até aos nossos dias. 
 
CAPITULO 14° - 2001 
 
TIMBRE DE ÁGUA:
Trata-se  de um giro de ritmo de emissão semi-descontinuo com sonoridade aquosa, cujo texto fonético está  formado pelas consoantes "B", "G", "W", unidas à  consonante "L" e à  vogal "I" ou  ao  ditongo "UI"; com uma cadencia rítmica de 5 a 6 batidas por segundo que permite perceber com claridade  as consoantes e  vogais assinaladas como próprias desta nota,  caso contrário, ao se desfocar a boa dicção, se perde boa  parte da sonoridade aquosa. Exemplos: "bliblibli..."; "gligligli..."; bluibluiblui..."
Se se considerar como um Timbre especializado ou variação de Timbre, é o som  aquoso o que lhe  confere personalidade própria. Se muda  a nota para mais doce conservando a vogal "I"; ainda que, acompanhada das outras vogais assinaladas, dá a sensação de um Timbre com ritmo mais pausado e com  som  da agua que se desliza suavemente devido à  intervenção da consoante "L", que é  básica e fundamental nos sons onomatopeicos da agua. Apesar do que se disse, não se  pode incluir no  grupo dos Timbres, já  que o seu som se parece   pouco com o  aparelho  denominado "Timbre" e teoricamente se pode dizer que é uma espécie de ressonância do Timbre metido em agua e  com um distinto ritmo de emissão, neste caso semi-descontinuo e sem a consoante "R".
O  Timbre de  Agua  é próprio dos exemplares da linha de agua, que logicamente são os que, pela sua siringe especializada na  emissão de giros aquosos, que os  realizaram da melhor forma. Por outro lado, quando se trate de exemplares correspondentes à linha seca, metálica ou oca, igualmente o emitem, ainda que com um som metálico na primeira delas ou com algo de oco na  segunda  sem que se perceba o som de agua o que seja muito  ligeiro. Anteriormente este giro foi  denominado "Nota Batida" e no código antigo chamou-se  "Cloqueo em  Bli".
A sua  pontuação máxima é  de 3 pontos. Concede-se  o  maior valor, quando o canário emita um som  limpo e claro na sua dicção e  vocalização, especialmente quando realize  escalas ascendentes e descendentes modulando o som, de menos valor, quando a emissão seja plana. Considera-se uma  emissão boa, se a realizar  com maior ressonância "blibli" ou "gligli" e  muito boa, quando as consoantes se conjuguem com o  ditongo "UI". 
 
ÁGUA SEMILIGADA: 
Esta nota está composta pelas  mesmas vogais e  consoantes que formam a Agua  Lenta, mas com  a diferença  básica e  fundamental do  ritmo de emissão  que aqui é  semi-descontinuo. Ao terem os sons um ritmo mais acelerado, os ditongos rompem-se e em  ocasiões soa uma só  vogal, ainda que sempre com a presença da consoante "L", existindo uma  ampla combinação de consoantes que podem estar presentes e que imitem os sons de agua produzidos de distintas formas.
Esta magnifica nota é extremamente difícil de explicar pelo  sistema gramatical e  fonético que habitualmente se usa para descrever o  canto do canário. É nota que admite diversas consoantes e vogais que podem configurar  as sílabas do seu texto de emissão. Principalmente entre as consoantes se apreciam: "B", "L", "R", "D", "G", "V", "S", "W". Das  vogais as melhores são: "U", "O", "Ul", "OI", "IU", "IO".
Dentro da dificuldade da composição nas suas sílabas e  frases, como exemplos podemos pôr.  "blobloblo...", "blublublu...", "bliudbliudbliud...", "blolblolbloi... ", "brioudbrioudbrioud...", "glulglulglui....", "gliodsgliodsqliudsgliuds...", "glioudsbrouissgliouds... ", "luiluilui.... ", "loiloiloi..", "woiwlulwoiwlui...", "wuiwuiwui..., "woiwoiwoi...", etc.
É  nota composta por se produzir e se  escutar dois ou mais sons, mas na que sempre percebemos como som de fundo e básico o  som de agua que é o que lhe dá plenamente o seu carácter.
As  melhores emissões são aquelas em  que as consoantes são brandas (requisito imprescindível em  toda a nota de agua) e as vogais pronunciam-se com profundidade, plenas, ocas e, sobretudo, limpas, resultando composições baseadas num  hábil, suave e  doce  silábico do pássaro.
O seu ritmo de emissão é semi-descontinuo, mas  sempre acelerado e rápido, o que produz um som agradável e continuado, parecido em algumas ocasiões ao correr da agua por uma torrente, à  agua em ebulição ou ao  borbulhar da mesma produzido de várias formas.
A  pontuação máxima alcança os 3 pontos.
No  canário Timbrado Espanhol podem existir notas de agua quando tenha uma siringe apropriada para as poder emitir. Também podem não se  apresentar na emissão  por pertencer o  canário a uma linha de canto seca, oca ou metálica, com a siringe não apta para produzir sons aquosos. Tal circunstancia não desvaloriza o valor do canário, que pode pertencer a qualquer das duas linhas de canto, a seca e a de agua, pelo que pode alcançar igual valor tanto  numa como noutra, quando reúna nas  demais notas os méritos devidos de qualidade, variedade, alegria e correta emissão de todo o  repertório. O  que lhe  falta de notas de agua pode compensar-se  perfeitamente pela  melhor interpretação noutras notas do Código.



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